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Canãlebre na literatura internacional, Mia Couto torna-se Doutor Honoris Causa pela UnB
ašnico africano membro da ABL, escritor recebe distina§a£o por seu papel na valorizaa§a£o das questões humanas. Solenidade marcou dia final da 19ª Semuni
Por Serena Veloso - 29/09/2019

Foto: AndréGomes/Secom UnB
Honoris Causa também pela Universidade de Maputo, em Moa§ambique, Mia Couto exibe o tí­tulo recebido na Universidade de Brasa­lia. 

Expoente da literatura moa§ambicana, o poeta, romancista, contista e cronista Anta³nio Ema­lio Leite Couto, mais conhecido como Mia Couto, descreve em um de seus livros o escritor como “um viajante de identidades”, “uma criatura de fronteiras”. Nãopor menos, ele mantanãm grande afeto pelo Brasil e por sua cultura, seja pelo aprea§o a s vozes de grandes cantores, como Caetano Veloso, Chico Buarque e Elis Regina ou pelas palavras de escritores de renome, entre os quais estãoGuimara£es Rosa, Machado de Assis e Clarice Lispector.

“O Brasil éuma pa¡tria que inventei para mim. Os que escreviam e cantavam a nação brasileira tatuaram para sempre na minha alma esse sabor de conhecer outro lugar”, declarou, durante passagem pela Universidade de Brasa­lia na 19ª Semana Universita¡ria, encerrada nesta sexta (27), com palestra dele mesmo. Em reconhecimento a  sua influaªncia no campo da literatura e a sua atuação humanita¡ria, a UnB concedeu a Mia Couto o tí­tulo de Doutor Honoris Causa. A solenidade de outorga ocorreu na manha£ desta sexta, no audita³rio do Memorial Darcy Ribeiro osBeija³dromo.

“Faz todo o sentido estarmos nesta instituição de ensino celebrando a literatura e a poesia. Arte éum modo de entender e expressar o mundo. Arte e ciência nascem do pensamento crítico e celebram a diversidade”, declarou o autor, também formado em Biologia e ativista ambiental. Escritor moa§ambicano mais traduzido no mundo, com publicações em 24países, foi vencedor do praªmio Camaµes em 2013 e estãoentre os dois autores de la­ngua portuguesa premiados com o Neustadt International Prize for Literature, tido como o Nobel Americano. O outro escritor a receber a honra foi o brasileiro Joa£o Cabral de Melo Neto.

Honrado com o ta­tulo, Mia Couto, que étambém membro da Academia Brasileira de Letras, discursou em favor das artes e das ciências humanas e ressaltou as riquezas do povo brasileiro, incluindo entre elas a diversidade racial e religiosa. “A grande riqueza de uma nação são as pessoas, com sua criatividade, sua eterna festa e sua imaginação”, afirmou. O defensor da democracia e da liberdade deixou uma mensagem de unia£o e de luta pela equidade. “Esperamos que os escritores e as universidades possam contribuir, sem medo e sem censura, para uma sociedade mais humana e mais justa.”

Afrente da cerima´nia, a reitora Ma¡rcia Abraha£o mencionou que a proposição do tí­tulo reforça o papel de vanguarda da Universidade de Brasa­lia na formação cidada£ e humanista, como preza Mia Couto e, também os fundadores da instituição, Darcy Ribeiro e Ana­sio Teixeira. A gestora lembrou o atuação essencial da classe arta­stica e da universidade na consolidação da democracia no Brasil, considerada ainda jovem, assim como em Moa§ambique. Ao novo Honoris Causa, agradeceu as contribuições deixadas nesse a¢mbito. “As reflexões que a sua literatura provoca e o seu comprometimento com a construção de uma sociedade mais justa, humana e democra¡tica nos engradece.”

AFRICANIDADES osNatural de Beira, cidade ao litoral moa§ambicano, Mia Couto decidiu se aventurar no universo da escrita ainda jovem e descobriu nele sua verdadeira paixa£o. As vivaªncias nopaís inspiram suas narrativas, que entrecruzam o recente passado colonial, as adversidades contempora¢neas e as riquezas da regia£o austral africana. Moa§ambique também estãopresente em suas histórias com um olhar de sensibilidade, atento a  figura humana pela a³tica da cotidianidade e da diversidade anãtnica, lingua­stica e cultural local, mas também da memória, mitos, ritos de matriz africana.

“Mia Couto éum cidada£o da república mundial das letras, um arta­fice da palavra, que transforma em arte litera¡ria as contradita³riasDimensões da condição humana, a partir do seu referencial africano primordial”, descreveu o professor do Instituto de Letras (IL) Edvaldo Bergamo. Membro da comitiva do homenageado e orador da solenidade, o docente resgatou a poanãtica para expressar o aprea§o pelo trabalho e figura do escritor, com grande prestígio na literatura de la­ngua portuguesa. 

O tra¢nsito de suas produções pelas contradições observadas na sociedade moa§ambicana, demonstram, na visão de Bergamo, a capacidade do autor de imergir nas entranhas de seupaís. “a‰ a jovem nação das prova­ncias mais distantes, das aldeias isoladas, dos antigos ranãgulos tiranos, dos costumes tradicionais em mutação, das dificuldades materiais persistentes da misanãria, pobreza, descaso e solida£o, mas também da imensa riqueza, dos enormes recursos naturais, hibridismos diversos, aculturações e transculturações comuns ao mundo moa§ambicano”, enfatiza.

Versatilidade arta­stica, criatividade e ousadia no trato da linguagem são outras marcas frisadas pelo docente como próprias da escrita de Mia Couto, sempre na fronteira da criação arta­stica. “Seus romances e contos figuram as vicissitudes da moa§ambicanidade entre história e esta³rias, entre fato e ficção, verdade e imaginação, racional e ma¡gico, sonho e fantasia, prosaico e o insãolito, nas passagens ira´nicas, nos desfechos inesperados, nos encantos dos instantes do cotidiano, na engenhosidade da prosa poanãtica”, detalha.

Tambanãm vinculado ao Instituto de Letras da UnB, o vice-reitor Enrique Huelva expressou seu encantamento com a capacidade de Mia Couto em dar voz a queles que, normalmente, não são escutados. Contente com a presença do agraciado na Universidade, Huelva fez um pedido: “Que continue nos fornecendo essas vozes, pois nosso compromisso édeixa¡-las ecoar fortemente em nós."

 

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