Humanidades

Atitude de Bolsonaro em relação ao coronava­rus aumenta 'comportamento de risco' no Brasil
Estudo sugere que as aparia§aµes de Bolsonaro na TV levaram milhões de brasileiros a ignorar o distanciamento social nos dias seguintes a  transmissão.
Por Fred Lewsey - 05/05/2020

Crédito: Jeso Carneiro
Jair Bolsonaro, Presidente do Brasil

O enfraquecimento paºblico de Jair Bolsonaro dos esforços de prevenção de pandemia reduz o distanciamento social nas partes do Brasil onde sua base de eleitores émais forte, segundo um novo estudo que usa dados de localização de mais de 60 milhões de telefones.

Os economistas usaram dados eleitorais e a localização geogra¡fica ana´nima de dispositivos em todo o Brasil para investigar se a atitude franca contra quarentena do presidente influenciou o número de cidada£os que ficavam em casa para impedir a propagação do coronava­rus.

Pesquisadores da Universidade de Cambridge e da Escola de Economia de Sa£o Paulo-FGV descobriram que os munica­pios que se destacaram fortemente por Bolsonaro nas últimas eleições tiveram na­veis muito mais altos de movimento e viagens entre a população durante fevereiro e mara§o.

"A atitude de um lider pode ter um impacto significativo e possivelmente devastador na saúde individual e nos sistemas de saúde de uma nação"

Tiago Cavalcanti

Além disso, nos dias imediatamente após as demissaµes televisionadas de Bolsonaro da mitigação do COVID-19 - por exemplo, desafiando publicamente as orientações de quarentena ou pedindo a reabertura das escolas - o distanciamento social do Brasil caiu em geral e caiu muito mais acentuadamente nas áreas pra³-Bolsonaro.           

"Nossa pesquisa sugere que as declarações sobre o comportamento de saúde pública dos lideres pola­ticos são levadas a sanãrio por seus seguidores, independentemente de quanto cientificamente precisas sejam ou prejudiciais", disse o Dr. Tiago Cavalcanti, autor do estudo da Faculdade de Economia de Cambridge.

“Bolsonaro desafia ativamente as regulamentações impostas pelos governos subnacionais para conter a maréde coronava­rus. Ele descarta as recomendações da OMS e atéas de seu pra³prio ministro da saúde, que ele demitiu recentemente. ”

“Usando a pesquisa de big data, vemos a atitude do presidente emnívelpopulacional. O Brasil éuma nação polarizada com um lider populista. Os padraµes que vemos no Brasil podem ecoar empaíses com uma situação pola­tica semelhante, como os Estados Unidos ”, afirmou.

Cavalcanti e seus colegas, Nicholas Ajzenman e Daniel Da Mata, analisaram a porcentagem de telefones celulares que permaneceram dentro de um raio de 450 metros de sua casa entre 4 de fevereiro e 7 de abril de 2020.

Eles compararam esse "a­ndice de distanciamento social" com o hista³rico de votação de cada um dos 5.570 munica­pios brasileiros, em particular se Bolsanaro recebeu mais ou menos de 50% dos votos no primeiro turno das eleições de 2018.

O distanciamento social aumentou em todo o Brasil desde o ini­cio do conta¡gio. Nos 3% das principais cidades com maior número de votos em Bolsonaro *, como Ascurra em Santa Catarina e Nova Santa Rosa no Parana¡, esse aumento foi em média 24 pontos percentuais.

No entanto, em cidades no fundo do espectro de apoio de Bolsonaro *, como Paricoa, em Alagoas, e Irapuan Pinheiro, no Ceara¡, o distanciamento social era muito maior: um aumento de 31 pontos percentuais.

O estudo sugere que, em média, durante fevereiro e mara§o, as cidades onde o apoio a Bolsonaro émais alto tiveram na­veis de distanciamento social quase 30% menores do que as cidades em que Bolsonaro tem muito pouco apoio.

Os economistas também analisaram duas principais aparições televisionadas de Bolsonaro em mara§o, durante as quais ele abertamente menosprezou os esforços para controlar a pandemia.

O primeiro foi em 15 de mara§o, quando Bolsonaro - suspeito de portar o COVID-19 - apareceu em uma manifestação de apoiadores em Brasa­lia, exibindo diretrizes de saúde pública tirando selfies e distribuindo socos na multida£o.

A segunda foi em 24 de mara§o. Em um pronunciamento presidencial oficial, ele pediu que as escolas reabrissem em todo opaís e criticou a ma­dia brasileira por muitas reportagens sobre a pandemia na Ita¡lia, sugerindo que ele são ficaria "um pouco de gripe" na pior das hipa³teses com o COVID-19. .

A pesquisa mostra como essas duas aparaªncias fizeram com que os na­veis de distanciamento social caa­ssem nos dez dias após cada evento, quando comparados aos dez dias que os antecederam. A queda foi particularmente significativa nos munica­pios com alto número de eleitores de Bolsonaro.

De fato, Cavalcanti sugere que, com base em seus dados, um ca¡lculo aproximado dos efeitos da aparição em 24 de mara§o veja aproximadamente um milha£o de brasileiros adicionais em todo opaís se afastando a mais de 450 metros de sua casa em cada um dos dez dias seguintes ao discurso na televisão. . 

"Liderana§a éimportante", disse Cavalcanti. "A atitude de um lider pode ter um impacto significativo e possivelmente devastador na saúde individual e nos sistemas de saúde de uma nação."

“Quando Bolsonaro minimiza a pandemia, vemos aumentos significativos no que éagora um comportamento de risco em grandes setores da população brasileira.”

"Como os casos e fatalidades de coronava­rus continuam aumentando em todo o Brasil, o comportamento de seu lider pode estar tendo um efeito muito real e perigoso", disse ele. 

Os pesquisadores também descobriram que as aparaªncias televisionadas de Bolsonaro e a cobertura da imprensa que se seguiu, em grande parte negativa, estavam ligadas a uma queda mais significativa no distanciamento social em áreas com “alto acesso a  ma­dia” *.

A equipe calculou a mudança geral no distanciamento social do Brasil durante o período para o qual eles tem dados. No ini­cio de fevereiro, antes da pandemia, cerca de 20% da população brasileira ficava a 450 metros de sua casa. No ini­cio de abril, isso havia aumentado para cerca de 53%.   

Os pesquisadores trabalharam com a empresa de tecnologia In Loco para produzir a análise de dados por telefone, e as descobertas completas são publicadas como um documento de trabalho do Cambridge-INET aqui: http://covid.econ.cam.ac.uk/

 

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