Humanidades

O status socioecona´mico prediz o desenvolvimento de habilidades essenciais de pensamento por meninos do Reino Unido
Uma comparaça£o de criana§as constatou que o desenvolvimento das principais habilidades de pensamento dos meninos brita¢nicos, conhecido como 'funa§aµes executivas', éinvulgarmente dependente de seu status socioecona´mico.
Por Oxford - 22/07/2020


Cinco rapazes voltam da escola para Myton Fields, Warwick
Crédito: Robin Stott

"Praticamente qualquer aluno de teste na escola exige funções executivas; portanto, se queremos reduzir a diferença de desempenho entre criana§as de diferentes origens, éimportante entender os mecanismos por trás desse relacionamento".

Michelle Ellefson

As descobertas emergiram de um projeto em andamento que explora contrastes no desenvolvimento dessas habilidades nas sociedades orientais e ocidentais e sua relação com o desempenho acadaªmico. As funções executivas são habilidades cognitivas que nos ajudam a atingir objetivos - como nossa capacidade de ignorar distrações ou alternar entre tarefas - e afetam significativamente o desempenho das criana§as na escola.

Em dois estudos vinculados, os pesquisadores descobriram que o contexto socioecona´mico dos meninos brita¢nicos estãodiretamente conectado a essas habilidades. Os de fama­lias mais ricas normalmente tiveram melhor desempenho em testes de suas funções executivas, enquanto os de fama­lias menos abastadas se saa­ram pior.

Contudo, a conexão era muito menos direta para as garotas brita¢nicas - e ausente entre os meninos ou meninas da China continental e Hong Kong, que, apesar de geralmente serem menos abastados que seus pares brita¢nicos, sempre os superaram nos testes.

Esses resultados implicam que fatores culturais específicos na vida das criana§as que moldam a aquisição de funções executivas também influenciam as lacunas socioecona´micas nos resultados acadaªmicos. Nãoestãoclaro o que são esses 'fatores' culturais, mas podem incluir diferenças no curra­culo, nos pais ou nas atitudes em relação a  educação.

A pesquisa foi realizada por uma equipe de acadaªmicos da Faculdade de Educação e do Centro de Pesquisa da Fama­lia da Universidade de Cambridge.

A Dra. Michelle Ellefson, Leitora em Ciências Cognitivas da Faculdade de Educação, disse: “Com base em outras pesquisas, podera­amos ter antecipado uma ligação direta entre o status socioecona´mico e as funções executivas; de fato, isso existia apenas para meninos britânicos. Praticamente qualquer aluno de teste na escola exige funções executivas; portanto, se queremos reduzir a diferença de desempenho entre criana§as de diferentes origens, éimportante que entendamos os mecanismos por trás desse relacionamento. ”

Claire Hughes, professora de psicologia do desenvolvimento no Centro de Pesquisa da Fama­lia, disse: “Existe uma preocupação no Reino Unido de que, entre criana§as de origens menos favorecidas, os meninos, em particular, costumam ter um desempenho acadêmico baixo, e a possibilidade foi levantada em algumas pesquisas. que os recursos do ambiente domanãstico desempenham um papel nisso. O interessante aqui éque não vimos nenhuma relação entre status socioecona´mico e funções executivas para meninos em Hong Kong e China. Precisamos investigar por que esse pode ser o caso.

A pesquisa fez parte do projeto Family Thinking Skills, que explora os va­nculos entre funções executivas, desempenho escolar e diferenças culturais na Gra£-Bretanha e Hong Kong, comparando dados de criana§as e pais nos doispaíses. As funções executivas são mediadas pelo cortex pré-frontal do cérebro, que se desenvolve atéos 20 e poucos anos, e isso significa que elas provavelmente sera£o moldadas em parte por influaªncias culturais, como educação e meio ambiente.

O último par de estudos analisou se o status socioecona´mico, que éconhecido por influenciar o desempenho das criana§as na escola, o faz porque afeta suas funções executivas ou tem um efeito independente das habilidades cognitivas. Eles também investigaram a consistaªncia do relacionamento entre os sexos. "Pouqua­ssimas pesquisas analisaram isso na asia, e grandes diferenças com o Reino Unido podem apontar para diferenças culturais que conduzem a  conquista", disse Ellefson.

Inicialmente, os pesquisadores usaram dados de 835 criana§as de 9 a 16 anos residentes em Hong Kong e no Reino Unido. Os participantes conclua­ram jogos de racioca­nio baseados em computador para testar suas funções executivas e vários testes matema¡ticos para avaliar numeracia. Dados sobre o status socioecona´mico também foram fornecidos pelos pais e por meio de uma pesquisa.

Como as criana§as em Hong Kong são altamente especializadas em computadores desde tenra idade, o que pode distorcer os resultados nos testes de habilidades de racioca­nio, um segundo estudo foi realizado com 453 criana§as em Shandong, na China, lideradas pelo pesquisador PhD Chengyi Xu. Isso deliberadamente visava criana§as cujo uso de computadores émuito menor.

No geral, os estudantes brita¢nicos tiveram um desempenho significativamente pior nos testes de numeramento, e suas funções executivas estavam cerca de dois anos atrás donívelde seus colegas chineses, mesmo que as criana§as brita¢nicas tendessem a ter origens mais ricas. Dentro dospaíses, houve pouca diferença entre os resultados manãdios dos testes de meninas e meninos, embora as meninas tenham apresentado uma flexibilidade cognitiva ligeiramente maior.

Os na­veis de função executiva e status socioecona´mico das criana§as afetaram suas pontuações numanãricas, mas na maioria dos casos o fizeram independentemente um do outro. A exceção foram os meninos brita¢nicos, para quem o status socioecona´mico prediz diretamente as funções executivas, o que, por sua vez, afeta sua numeracia.

Os pesquisadores também mediram as habilidades cognitivas gerais, além das funções executivas. Aqui, eles descobriram que meninos e meninas de origens mais ricas no Reino Unido tendem a ter melhores habilidades cognitivas gerais do que os de fama­lias menos ricas, enquanto na China e Hong Kong, não havia relação com o status socioecona´mico.

Os dados de Shandong também confirmaram que o uso do computador não teve efeito na aquisição de funções executivas.

Os resultados sugerem fortemente que as distinções culturais moldaram um abismo entre as habilidades de pensamento de criana§as brita¢nicas e asia¡ticas, com consequaªncias para sua conquista relativa. Sa£o necessa¡rias mais pesquisas para estabelecer o que são, mas a natureza do curra­culo escolar, estilos de ensino, expectativas dos pais ou atitudes sociais em relação a  educação podem ser alguns dos fatores envolvidos.

Além disso, o va­nculo estreito entre a formação socioecona´mica e as habilidades de racioca­nio para meninos brita¢nicos, em particular, sugere que entender mais sobre esses fatores culturais pode ajudar a diminuir a lacuna de aproveitamento no Reino Unido. "Uma imagem mais clara do porquaª existem diferenças no desenvolvimento de funções executivas entre criana§as na Gra£-Bretanha e Hong Kong poderia ajudar a informar intervenções para reduzir essa lacuna", disse Hughes.

Ambos os estudos são publicados no Journal of Experimental Child Psychology.

 

.
.

Leia mais a seguir