Humanidades

Nãohácondição para retomada das aulas presenciais em 2020, afirma pesquisador
Na opinia£o de Marcos Neira, diretor da Faculdade de Educaça£o da USP, neste momento seráimpossí­vel assegurar que os estudantes guardem as medidas de biossegurança de propagaa§a£o do va­rus
Por USP - 03/08/2020



Mesmo com a pandemia do novo coronava­rus agravada após mais de quatro meses de suspensão das aulas escolares, com uma média ma³vel de mais de 40 mil casos e mil a³bitos dia¡rios nos últimos sete dias, redes de ensino como a do Estado de Sa£o Paulo querem retornar a s aulas presenciais em setembro. Diante dessa possibilidade, a Congregação da Faculdade de Educação (FE) da USP, reunida em 30 de julho, manifestou repaºdio para a possibilidade de volta a s aulas nas escolas.

“Nãoháqualquer condição para a retomada das aulas presenciais ainda este ano. Assim como a USP optou por manter as atividades remotas atéo fim do ano letivo, sugerimos que o mesmo procedimento seja seguido da educação infantil ao ensino superior, tanto paºblico como privado”, recomenda o professor Marcos Neira, diretor da FE-USP. Ele ressalta que qualquer educador tem consciência de que “sera¡ impossí­vel assegurar que criana§as, adolescentes, jovens e adultos guardem as medidas de biossegurança que impea§am a circulação e propagação do va­rus”.

“Na³s vamos continuar com essa sociedade? Fingiremos que nada disso aconteceu? Nãotiraremos nenhuma lição dessa situação triste? Precisamos aprender [com a pandemia] e também nos preparar, porque outras vira£o. Se não agora, daqui a dez, 15, 20 anos”


Outro ponto abordado foi a quantidade de profissionais que fazem parte do grupo de risco e que deveriam permanecer afastados de suas atividades presenciais, pois estes, juntamente com demais membros da comunidade escolar, estariam mais vulnera¡veis. Em nome da Congregação, Neira diz reconhecer a insuficiência do ensino remoto para aprendizado de todos os estudantes, bem como as dificuldades de acesso e doma­nio de ferramentas virtuais pelos professores, pais e alunos. Contudo, háuma compreensão de que, nas atuais circunsta¢ncias de a­ndices de contaminação e mortes apresentados pelas Secretarias Estaduais de Saúde e o Ministanãrio da Saúde, a prioridade deve ser dada a s questões de saúde pública.

Para as aulas remotas, diversas redes de ensino municipais tiveram que buscar outros meios de envio de atividades aos alunos sem internet ou com acesso limitado. “[Mas] não podemos reduzir a atividade remota emergencial ao acesso a  internet. A gente precisaria ter tido no começo a democratização desse acesso e isso faltou”, lamenta Neira. Para ele, seria necessa¡rio convaªnios com empresas de telecomunicações distribuidoras de internet, Secretarias apoiando professores na produção de materiais dida¡ticos e uma reelaboração do curra­culo escolar com atividades mais dina¢micas, já que “trabalhar neste momento não significa reproduzir as aulas que se faziam em sala de aula, significa repensar as formas de fazer isso”.

Passado tudo isso, com um retorno seguro la¡ na frente, os desafios sera£o enormes para a reorganização de projetos pedaga³gicos das escolas e faculdades. Tambanãm serápreciso levar em consideração o que as criana§as, jovens e professores da educação ba¡sica sentiram nesse período. “Quem sabe possamos definir tema¡ticas que ajudem as criana§as a compreenderem o momento do retorno”, projeta Marcos Neira. Isso se daria ao levar o entendimento do porquaª a sociedade precisa mudar, já que nossa triste realidade fez com que muitas pessoas fossem atingidas pela pandemia em função de condições sanita¡rias e de saúde insuficientes.

“Na³s vamos continuar com essa sociedade? Fingiremos que nada disso aconteceu? Nãotiraremos nenhuma lição dessa situação triste? Precisamos aprender [com a pandemia] e também nos preparar, porque outras vira£o. Se não agora, daqui a dez, 15, 20 anos”, alerta o professor.

 

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