Humanidades

Novas pesquisas sugerem que o racismo pode ser uma caracterí­stica genanãtica
Um estudo publicado na revista Proceedings da National Academy of Sciences ( PNAS ), as crena§as de que alguns grupos são superiores a outros são profundamente influenciadas pela genanãtica.
Por Universidade de Oslo - 04/08/2020


Doma­nio paºblico

Black Lives Matter (BLM) éum movimento anti-racista nos Estados Unidos, fundado como uma reação a muitos incidentes de racismo e brutal violência policial contra negros. O movimento obteve amplo apoio internacional em 2020 após o assassinato da pola­cia no afro-americano George Floyd. O assassinato desencadeou uma cadeia de manifestações em todo o mundo.

A morte do cidada£o americano George Floyd causou manifestações em todo o mundo. Ainda assim, a violência policial contra grupos e minorias vulnera¡veis não énovidade. Como as atitudes e prática s racistas sobreviveram a tantas gerações?

De acordo com um estudo publicado na revista Proceedings da National Academy of Sciences ( PNAS ), as crena§as de que alguns grupos são superiores a outros são profundamente influenciadas pela genanãtica.

Genes Racistas

Os pesquisadores analisaram por que algumas atitudes tendem a aparecer simultaneamente. Isso pode, por exemplo, se aplicar a  percepção de que alguns grupos são melhores que outros, ou a  percepção de que certos grupos anãtnicos e culturais são mais capazes de tomar decisaµes na sociedade.

Pesquisas anteriores sugeriram que essas opiniaµes geralmente aparecem juntas e que o ambiente raramente as molda.

Sera¡ que nascemos com predisposições para certas opiniaµes políticas? De acordo com os resultados, a resposta ésim.

"Pessoas que compartilham o mesmo conjunto de atitudes também parecem compartilhar os mesmos genes", disse Thomas Haarklau Kleppesta¸, Ph.D. bolsista do Departamento de Psicologia da Universidade de Oslo.

Atitudes políticas

Cerca de 2.000 gaªmeos noruegueses adultos, idaªnticos e não idaªnticos, responderam a um questiona¡rio para medir sua orientação de doma­nio social (SDO), um traa§o de personalidade em que uma pontuação alta indica uma preferaªncia de hierarquia social.

Pesquisas anteriores gostaram desse traa§o nas atitudes políticas. Uma pontuação alta aumenta a possibilidade de apoio a itens como "Alguns grupos de pessoas devem ser mantidos em seu lugar" e "Alguns grupos de pessoas são inferiores a outros grupos".

Os participantes deveriam expressar suas opiniaµes sobre oito propostas políticas, como controle estrito da imigração e deportação do povo cigano. Pesquisas anteriores descobriram que essas propostas se correlacionam com o SDO.

Os pesquisadores raciocinaram da seguinte maneira: se as opiniaµes políticas de gaªmeos idaªnticos fossem mais parecidas do que as não idaªnticas, o motivo seria genanãtico. Gaªmeos idaªnticos compartilham 100% de seus genes, enquanto que não idaªnticos compartilham 50%.
 
Therese Lillefosse (41), a irmã gaªmea idaªntica de Kathrine Lillefosse, acredita que gaªmeos idaªnticos geralmente compartilham uma mentalidade comum.

"No ensino manãdio, cometemos os mesmos erros em nossos testes. Em uma ocasia£o, os ensaios que escrevemos eram idaªnticos a  medida que nosso professor suspeitava que ta­nhamos trapaceado", disse ela.

As irmãs não participaram do estudo de Kleppesta¸, mas como elas responderiam se fizessem as mesmas perguntas em entrevistas separadas?

Primeiro, dezoito perguntas sobre orientação de doma­nio social revelam que Kathrine e Therese compartilham pensamentos semelhantes sobre esse assunto. Nenhum deles favorece uma sociedade hiera¡rquica.

Irmandade dos Genes

Como esperado, os pesquisadores encontraram uma ligação entre SDO e atitudes políticas. Por exemplo, aqueles que favoreciam uma estrutura hiera¡rquica na sociedade frequentemente desejavam um controle mais rigoroso da imigração e redução da ajuda externa.

No entanto, as descobertas também revelaram que o SDO das pessoas tinha uma conexão genanãtica com todas as oito atitudes políticas medidas. Segundo Kleppesta¸, isso poderia explicar em parte o va­nculo entre as atitudes políticas.

"Nãoacreditamos que nosso genoma controla diretamente nossas atitudes políticas. No entanto, especulamos que nascemos com uma predisposição reforçada ao longo do tempo, por exemplo, quando encontramos amigos com preferaªncias semelhantes", disse Kleppesta¸.

Os pesquisadores acreditam que vocêpode nascer com um traa§o de personalidade que pode leva¡-lo a ambientes onde ele éimposto. A chamada correlação gene-ambiente ativa éum fena´meno bem conhecido na genanãtica comportamental.

Quando seus caminhos se separaram

Kathrine e Therese Lillefosse tiveram vidas semelhantes atéo ini­cio da escola abrangente. Eles escolheram diferentes especializações e conseguiram novos amigos. Hoje, eles compartilham muitos amigos, mas não todos.

Suas vidas são bem diferentes agora. Eles trabalhavam na mesma empresa, mas Therese teve uma doença crônica e escolheu a vida familiar vez de seu trabalho. Hoje ela tem marido, dois filhos e nenhum emprego. Kathrine ésolteira e administra seu pra³prio nega³cio de estilistas.

Quando perguntados sobre suas opiniaµes políticas, eles concordam em vários pontos. Por exemplo, ambos desejam mais ajuda externa. No entanto, em duas questões, suas opiniaµes são distantes: Kathrine gostaria de uma pola­tica de imigração mais rigorosa, enquanto Therese não. Kathrine também apoiaria a deportação de pessoas romanichanãis. Therese discorda.

Nãototalmente iguais

Thomas Haarklau Kleppesta¸ não estãosurpreso.

"a‰ bastante comum que gaªmeos idaªnticos, em média, sejam mais semelhantes que não idaªnticos. No entanto, isso não significa que todos os gaªmeos idaªnticos sejam completamente iguais", explicou ele.

"Se gaªmeos idaªnticos fossem completamente iguais e não idaªnticos cinquenta por cento iguais, a genanãtica explicaria todas as variações. Mistanãrio resolvido. Nãoéassim."

Desde a infa¢ncia, épossí­vel ver diferenças entre gaªmeos idaªnticos, apesar dos genes e do ambiente comuns. Segundo Kleppesta¸, isso tem a ver com o cérebro. Nosso órgão mais complexo contanãm cerca de 88 bilhaµes de neura´nios. Cada um se conecta a milhares de outros neura´nios. Algumas conexões desaparecem, outras se tornam mais fortes.

"Os genes fornecem algumas regras para essas conexões. No entanto, sempre ocorrem coincidaªncias. a‰ como assar um bolo; mesmo se vocêusar a mesma receita, os bolos nunca sera£o 100% iguais".

Experiaªncias e ambientes também afetam todos os seres humanos.

"Experiaªncias particularmente sistema¡ticas o afetara£o, por exemplo, se vocêécasado ou solteiro há20 anos", disse Kleppesta¸.

Tornar-se ma£e amolece

Kathrine e Therese Lillefosse não se surpreendem com a mentalidade de hoje diferir um pouco. Em certos momentos, poranãm, eles ficam surpresos.

"Therese estãomais engajada do que eu pensava que seria. Nãoachei que ela se importasse tanto com o povo romani e as políticas de imigração", disse Kathrine Lillefosse.

Ela acredita que seu emprego de meio período como barman seja a raiz de seu pra³prio ceticismo. Ela teve algumas experiências que não aumentaram seu apoio a  imigração.

Teresa, por outro lado, acredita que tornar-se ma£e a tornou mais suave.

"Antes, Kathrine era a mais flexa­vel. Agora, quando eu criar meus filhos, quero que eles tratem os outros como desejam que os tratem. a‰ importante ser inclusivo", disse Therese Lillefosse.

Atravanãs de seus filhos, ela também conheceu imigrantes. Ela se perguntou por que eles não deveriam estar la¡, enquanto outros podem.

Personalidade pola­tica

Leif Edward Ottesen Kennair, professor de psicologia da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia (NTNU), acredita que o estudo de Kleppesta¸ confirma estudos anteriores.

"Sabemos hámuito tempo que existe uma base genanãtica para atitudes ou orientação pola­tica. Estudos como esse nos permitem chama¡-lo de uma descoberta geral", disse Kennair.

Ele acrescentou que os pesquisadores também forneceram novos conhecimentos.

"Por exemplo, eles descobriram que nossos genes podem nos fornecer uma personalidade pola­tica. No entanto, isso ocorre emnívelde grupo. Tambanãm desenvolvemos em interação com o meio ambiente".

O estudo sugere que a educação e as relações familiares tem um efeito menor nas atitudes. Se vocêacha que vocêe sua familia são parecidos, a genanãtica éa razãomais importante, de acordo com Kennair.

"O ambiente nos afeta. No entanto, isso nos afeta principalmente por nos tornar menos - não mais - parecidos com a nossa fama­lia", disse Kennair.

 

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