Humanidades

Finntopia: o que podemos aprender com opaís mais feliz do mundo?
O modelo na³rdico hámuito éapontado como a aspiraça£o para políticas sociais e públicas na Europa e na Amanãrica do Norte, mas o que hána Finla¢ndia que torna opaís tão bem-sucedido e, aparentemente, um lugar tão bom para se viver?
Por Danny Dorling - 09/10/2020


Crédito: Shutterstock Finlandeses são classificados como os mais felizes do mundo pelo terceiro ano consecutivo

Em 2018, 2019 e 2020, o Relata³rio Mundial da Felicidade classificou a Finla¢ndia como opaís mais feliz do mundo, tanto para sua população total quanto para os imigrantes la¡. Os Estados Unidos e o Reino Unido foram colocados em danãcimo oitavo (danãcimo quinto para imigrantes) e danãcimo nono (viganãsimo para os imigrantes), respectivamente.

O modelo na³rdico hámuito éapontado como a aspiração para políticas sociais e públicas na Europa e na Amanãrica do Norte, mas o que hána Finla¢ndia que torna opaís tão bem-sucedido e, aparentemente, um lugar tão bom para se viver?

Na busca pelo melhor de todas as sociedades, o professor Danny Dorling da Escola de Geografia e Meio Ambiente, e a coautora Annika Koljonen, exploram o que pode ser aprendido com opaís mais justo da Europa, por que teve tanto sucesso, com que consequaªncias, e o que não funciona bem quando a igualdade étão alta em um livro recanãm-publicado, 'Finntopia'.

O professor Danny Dorling explica mais:

Como surgiu 'Finntopia' e quais os temas principais que explora ? 

Eu dei uma palestra na cidade de Cambridge para um grupo local, que se formou hálguns anos para fazer campanha por maior igualdade local. Como Oxford, Cambridge émuito dividida socialmente, por algumas medidas pode reivindicar ser a mais dividida economicamente dopaís. Oxford vem em segundo lugar - por exemplo, basta olhar para quanto os resultados dos exames atribua­dos a criana§as que vivem na cidade de Oxford variam de acordo com o local onde nasceram e o quanto ricos ou pobres são seus pais. Os resultados desses exames são quase todos sobre ca³digos postais e privilanãgios, mas, em sociedades muito desiguais, muitas pessoas podem ter pouca ideia sobre isso. Em Cambridge, expliquei que essa situação seria engraçada, se não fosse tão triste.

Annika Koljonen era volunta¡ria no grupo de campanha. Ela era então uma estudante na Inglaterra, mas foi criada principalmente na Finla¢ndia. O que eu estava dizendo foi extremamente claro para ela, porque ela viu o que acontece em umpaís mais justo, a Finla¢ndia - quanto menos pessoas iludidas existem e o que um sistema educacional mais justo pode alcana§ar, tanto na redução da ilusão quanto no aumento da capacidade genua­na . 'Finntopia' aborda muitos aspectos da vida na Finla¢ndia, mas hámuito também sobre infa¢ncia, educação e resultados sociais posteriores.

Então, qual éo segredo da felicidade da Finla¢ndia? 

A população da Finla¢ndia, mais do que qualquer outra na Terra ... percebe que o que ela tem ... émuito bom


Em suma, a população da Finla¢ndia, mais do que qualquer outra na Terra no momento, percebe que o que tem, com o que estãovivendo - individualmente e coletivamente - émuito bom. Por muito bom, não quero dizer perfeito, mas - considerando todas as coisas - muito bom.

Os finlandeses, então, em conjunto, traduzem essa percepção para a maior proporção de respostas positivas registradas por pessoa em pesquisas mundiais de felicidade, e o fizeram em cada um dos últimos três anos. A frase 'todas as coisas consideradas' éimportante aqui. As expectativas do povo finlandaªs são realistas. Eles também estãocientes do que alcana§aram em tantas esferas da vida. Nãose trata apenas de sucesso educacional, mas, mais importante, de saúde, onde, hálguns anos, a Finla¢ndia registrou a mortalidade infantil mais baixa que o mundo já conheceu. Ha¡ menos pais enlutados na Finla¢ndia do que em qualquer outro lugar, per capita. A Finla¢ndia estãoentre os três primeiros, geralmente sendo o primeiro, em mais de 100 estata­sticas sociais semelhantes. Mas os finlandeses não são presuna§osos ou complacentes.

A Finla¢ndia pode ser alcana§ada ou ultrapassada? 

a‰ inevita¡vel que a Finla¢ndia não mantenha a primeira posição para sempre. Na verdade, ocupar essa posição por três anos énota¡vel e pode muito bem ter um pouco a ver com sorte e variação da amostra na pesquisa e nas medidas usadas.

Existem vários outrospaíses onde as pessoas são quase tão felizes quanto na Finla¢ndia; em qualquer momento, um dessespaíses pode, muito provavelmente, ocupar o primeiro lugar. Sera¡ interessante assistir, e a pandemia pode ter um papel importante no ranking do pra³ximo ano. A vizinha Suanãcia, atualmente ocupa o sanãtimo lugar em felicidade, mas seu povo pode expressar um pouco mais de felicidade do que o da Finla¢ndia porque seus movimentos e atividades não eram tão restritos durante o confinamento. Alternativamente, opaís que ficou em oitavo lugar em 2020, a Nova Zela¢ndia, pode repentinamente saltar para a pole position, se seus cidada£os decidirem que realmente desfrutaram do isolamento global e de um conjunto muito mais ra­gido de políticas governamentais sobre viagens durante a pandemia. Teremos que esperar para ver.

No longo prazo, o sucesso da Finla¢ndia seria ver suas medidas adotadas em outros lugares e outrospaíses registrarem classificações semelhantes ou atémais altas. Isso também pode acontecer se os finlandeses decidirem que o que eles tem, dada a vantagem que conquistaram agora, não ébom o suficiente no futuro se eles não continuarem melhorando.

Como vocêacha que o etos dopaís pode ter ajudado em sua abordagem ou resposta a uma pandemia global? 

Ser cauteloso certamente ajudou ... o equipamento de proteção individual foi armazenado na Finla¢ndia desde, pelo menos, a pandemia de gripe de 1957


Ser cauteloso certamente ajudou. Isso ajudou diretamente no fato de que o equipamento de proteção individual foi armazenado na Finla¢ndia desde, pelo menos, a pandemia de gripe de 1957.

A Finla¢ndia estava pronta de maneiras quepaíses, como os quatro que compõem o Reino Unido, não estavam. O serviço de saúde na Finla¢ndia também estava em um estado muito mais robusto do que o serviço de saúde no Reino Unido (o gasto paºblico na Finla¢ndia tem sido muito mais alto hámuitos anos). No entanto, o Reino Unido tem um serviço nacional de saúde, que ainda era principalmente paºblico, os Estados Unidos não.

A Finla¢ndia tem muito mais coisas que teriam ajudado, se a pandemia tivesse se estabelecido bem na Finla¢ndia (o que não aconteceu): um melhor sistema de segurança social e emprego éum bom exemplo. A Finla¢ndia não teria se preocupado com as pessoas que estavam sem-teto pegando e espalhando a doena§a, porque quase ninguanãm ésem-teto na Finla¢ndia.

Finalmente, os pola­ticos na Finla¢ndia renunciam ao menor inda­cio de corrupção ou incompetaªncia; e a população da Finla¢ndia elege pola­ticos competentes. Fazer o oposto leva a resultados ruins de pandemia.

Se este livro pudesse ajudar a realizar uma mudança, o que vocêgostaria que fosse e por quaª?

Espero que o livro possa dar mais esperana§a a s pessoas, especialmente os adultos mais jovens e criana§as em idade escolar. Muitos pensam que as pessoas estãocondenadas, pois a emergaªncia climática não étratada e a biodiversidade continua a ser dizimada. Eu visito escolas e as criana§as me dizem que os biliona¡rios levaram quase tudo para todos os lugares e não háesperana§a. Conhea§o estudantes universita¡rios e jovens empregados que pensam que passara£o o resto de suas vidas lutando para pagar aluguel aos proprieta¡rios, que tera£o mais fanãrias e ficara£o ainda mais ricos a s suas custas.

Conhea§o muitas pessoas que pensam que tudo estãopiorando em todos os lugares e que não percebem que todos os estados da UE28 eram mais justos do que o Reino Unido, ou que estados como a Finla¢ndia já estãocomprometidos em serem neutros em carbono - décadas antes do Reino Unido. Gostaria que as pessoas soubessem o que épossí­vel e também percebessem quanto tempo demorou e quanto esfora§o foi necessa¡rio. O que a Finla¢ndia alcana§ou não aconteceu da noite para o dia; mas a maior parte do mundo tem mais em comum com a Finla¢ndia do que com os antigos estados dominantes, como os EUA e o Reino Unido.

O que a Finla¢ndia alcana§ou não aconteceu da noite para o dia; mas a maior parte do mundo tem mais em comum com a Finla¢ndia do que com ... antigos estados dominantes no mundo, como os EUA e o Reino Unido


O que o trouxe para a academia e o que impulsiona seus interesses de pesquisa 

Eu nunca saa­ da universidade. Tive muita sorte na escolha de onde iria; e eu tive muita sorte de ter nascido em uma familia onde era considerado normal ir para a universidade. Eu nasci numa anãpoca em que apenas uma criana§a em 50 de uma escola média (não uma escola secunda¡ria) ia para a universidade. Eu quase não tinha ideia do que queria fazer aos 18 anos, mas sabia que queria ir para a universidade, que queria viajar muito desde onde cresci, ver um lugar diferente e que queria estudar ciências sociais e usar matemática e estata­stica.

Nãofiquei muito impressionado com os tipos de coisas que eram ensinadas em economia na década de 1980, que pareciam não fazer sentido. Então, escolhi geografia, matemática e um pouco de computação, para evitar ter que recitar teoria econa´mica. Sou movido pela curiosidade e pelo desejo de fazer coisas que de outra forma não seriam feitas. Se outra pessoa pode fazer isso - por que se preocupar? Claro, alguém pode muito bem, mas émais fa¡cil se vocênão imaginar isso!

Portanto, se parece que ninguanãm escreveu um livro sobre opaís mais justo da Europa, sobre seus pontos fortes e fracos, sua história e economia no contexto da igualdade, então, depois de alguns anos de reflexa£o, se a oportunidade surgir - por que não? Principalmente se alguém que sabe mais sobre o assunto do que eu estiver disposto a colaborar comigo.

Para qualquer aspirante a pesquisador la¡ fora, por que vocêo incentivaria a seguir uma carreira em geografia? 

Em termos de Geografia Humana que mais me interessa no momento, as coisas se tornaram muito mais interessantes. Os estados podem ser vistos como experimentos naturais (ou não naturais) em que vocêpode perguntar - o que acontece, se vocêfez algo na década de 1980, com os resultados muito mais tarde?

Isso não écienta­fico. Nãotemospaíses suficientes no mundo para fazer estudos cienta­ficos, mas a Geografia também faz parte das humanidades, junto com a história, e parte das ciências sociais ao lado da pola­tica. Um motivo mais prático para seguir uma carreira em Geografia éque pode ser relativamente fa¡cil mudar de carreira mais tarde, contanto que vocêfaz o tipo de Geografia que significa que vocêvaloriza habilidades. A maioria dos pesquisadores com quem trabalhei em Geografia e os alunos de pós-graduação mudaram departamentos para trabalhar em áreas como epidemiologia, saúde pública ou pola­tica social. Contanto que vocêtenha o cuidado de garantir que o que estãofazendo tem valor, uma formação em Geografia pode levar a oportunidades de pesquisa fora da Geografia e também fora da academia.

Danny Dorling éprofessor de Geografia na Escola de Geografia e Meio Ambiente da Universidade. Seu trabalho trata de questões de habitação, saúde, emprego, educação, riqueza e pobreza. Nos últimos anos, sua pesquisa se concentrou na desigualdade econa´mica e, em particular, por que o Reino Unido foi o primeiro e aºnico estado da UE a tentar deixar a unia£o. Em termos mais globais, ele tem observado tendaªncias que indicam que as taxas de crescimento, como demografia e inovação, estãodiminuindo.

 

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