Humanidades

A ma­dia social estãomudando sua vida?
O quanto pouco a maioria das pessoas sabe sobre como as ma­dias sociais funcionam e como as influenciam.
Por Jacqueline Garget - 16/03/2021




Quando vocêpega seu telefone para tirar uma foto, vocêplaneja compartilha¡-la nas redes sociais? Por que étão importante que as pessoas - a maioria das quais vocênunca conheceu - vejam os detalhes de sua vida dia¡ria?

“Quero que as pessoas pensem como éestranho postar fotos de nossas experiências apenas para 'curtir' e 'compartilhar' - e ficar desapontado se não recebermos o suficiente”, diz Tyler Shores, gerente do Programa ThinkLab de Cambridge.

“Esses 'pontos de internet' não podem ser trocados por nada - a não ser um aumento de autoestima”.


Tyler Shores estãointeressado no papel que a tecnologia digital desempenha em nossa vida cotidiana. Ele costumava trabalhar no Google analisando o comportamento do usua¡rio online; agora ele se voltou para a academia e estãopesquisando distrações digitais. Ele diz que estãosurpreso com o quanto pouco a maioria das pessoas sabe sobre como as ma­dias sociais funcionam e como as influenciam.

“O fato éque, quando usamos as redes sociais, somos rastreados e manipulados. Quero que pensemos sobre como quantificamos nossa experiência de uma forma que realmente não depende de nos- ébaseada em algoritmos e outras pessoas ”, diz ele.

" Nãopodemos basear nossa autoestima em algo que estãoamplamente fora de nosso controle."


Shores diz que o Instagram experimentou esconder o botão 'curtir' porque os usuários estavam obcecados com o número de curtidas que suas postagens recebiam - algumas ao ponto de serem suicidas se não recebessem o suficiente. “Existe uma lógica bina¡ria nas ma­dias sociais. Mas nem tudo na vida éclaramente sim ou claramente não - goste ou não goste, compartilhe ou não compartilhe. Tenho medo de estarmos perdendo a noção de estarmos bem com a ambiga¼idade ”, diz ele.

As recentes eleições nos Estados Unidos destacam seu ponto. “Tive mais discussaµes nas redes sociais com pessoas pelas quais estava ideologicamente alinhado do que com qualquer outra pessoa”, diz ele. “Muito tempo, se vocênão estiver totalmente do meu lado, vocêéparte do problema. Isso não énecessariamente uma coisa nova, mas sinto que aumentou em termos de quantas vezes fazemos isso agora. ”

Como muitos outros, Shores também usou a ma­dia social de outra maneira durante as eleições nos Estados Unidos. “Provavelmente verifiquei as nota­cias mil vezes”, diz ele. “Mas com que frequência as nota­cias são realmente novas quando vocêas verifica? Estamos constantemente procurando coisas novas e interessantes. Isso nem sempre éruim, mas quero que estejamos cientes de quanto tempo estamos gastando nisso. Quanto tempo realmente precisamos para fazer isso? ”

Nãofaz muito tempo que as nota­cias chegavam apenas duas vezes por dia, nos jornais e boletins da manha£ e da noite. Nosso atual ciclo de nota­cias 24 horas éapenas um exemplo de nosso crescente consumo de informações, que Shores diz estar contribuindo para uma epidemia oculta de 'mal-estar digital'.

“Estamos gastando muito tempo nas telas agora - todo mundo estãolutando”, diz ele. “A pandemia significa que não podemos interagir com as pessoas normalmente; estamos em da­vida com a ma­dia social porque éa nossa ta¡bua de salvação para o resto do mundo agora. ”

ADra. Amy Orben, Fellow do Emmanuel College e Visiting Research Fellow da Unidade MRC de Cognição e Ciências do Canãrebro de Cambridge, passou sua carreira acadaªmica examinando o efeito das tecnologias digitais na saúde mental de adolescentes - um ta³pico que recebeu grande interesse desde o ini­cio de a pandemia. Ela diz que a questãode saber se a ma­dia social estãotendo um impacto positivo ou negativo não ésimples.

“A ma­dia social nos da¡ uma perspectiva diferente sobre onde nos encaixamos no mundo”, diz Orben. “Acho que aumenta a pressão sobre os jovens: eles não estãoapenas se comparando com os colegas da escola ou do ambiente, mas quase no mundo todo. Mas, do lado positivo, permite que eles se conectem com outras pessoas, e os adolescentes realmente se preocupam com seu ambiente social. ”

A adolescaªncia - entre 10 e 24 anos - éuma anãpoca em que as pessoas ficam mais sintonizadas com o que os outros pensam sobre elas e sua perspectiva se amplia significativamente. Orben quer saber se algumas pessoas são mais afetadas pelas redes sociais do que outras nessa idade. Ela estãoplanejando um novo estudo, em colaboração com a professora Sarah Jayne Blakemore do Departamento de Psicologia e outros colegas da Universidade de Cambridge, para analisar o uso de ma­dia social e saúde mental em adolescentes durante o COVID-19.

“A ma­dia social éinerentemente complexa, mas tentar definir diretrizes para o 'consumo' da mesma forma que fazemos para o a¡lcool ou alimentos - como os legisladores tentaram e não conseguiram - éuma simplificação macia§a”, diz Orben.

Todo mundo usa a ma­dia social de maneira diferente, e isso afeta nossas vidas de maneiras tão diversas, que definir um tempo de tela dia¡rio recomendado estãolonge de ser simples.

“Se realmente quisermos entender o efeito que a ma­dia social estãotendo em nossas vidas, precisamos deixar de apenas pensar sobre o tempo que gastamos com ela, mas como esse tempo éusado”.


Orben acrescenta: “Vocaª poderia usa¡-lo por vinte minutos para manter contato com a familia no exterior, ou vinte minutos para ver imagens de automutilação no Instagram, por exemplo. A relação com a saúde mental émuito complicada. ”

Ela descobriu que adolescentes que usam mais a ma­dia social tem pontuação mais baixa em questiona¡rios de saúde mental - mas não estãoclaro se a ma­dia social faz com que se sintam pior ou se recorrem mais a s redes sociais quando se sentem pior. E, claro, a ma­dia social não éa única coisa que afeta a maneira como os adolescentes se sentem.

“Existem outras coisas como sono, paternidade e ambiente que afetam o bem-estar. Nãoacho que ainda temos evidaªncias para dizer que devemos investir muito dinheiro para diminuir o uso das ma­dias sociais, e não investir em outras coisas como clubes juvenis ou melhores cuidados de saúde mental para adolescentes ”, diz ela.

A ma­dia social foi responsabilizada por problemas de saúde mental de adolescentes, mas também forneceu uma ta¡bua de salvação para milhões durante a pandemia.
a‰ assim que os jovens organizam protestos em massa contra asmudanças climáticas, mas também como os antivaxxers espalham informações erra´neas perigosas.

Com uma enorme diversidade de utilizações e seus efeitos ainda não totalmente compreendidos, qual éa melhor abordagem a seguir? Shores diz que simplesmente ficar mais ciente de nossos pra³prios hábitos de ma­dia social éum bom primeiro passo. E são porque não háum botão "talvez", isso não significa que tudo épreto e branco.

Principais dicas de Tyler  para o uso sauda¡vel das ma­dias sociais

Reserve um tempo livre da tela Tente criar um hora¡rio ativamente em sua programação quando vocênão estiver em nenhuma tela ou ma­dia social, por exemplo. enquanto caminhava. Criar algum tempo de silaªncio pode ser uma a³tima pausa para o cérebro. 

Experimente um novo ha¡bito ou rotina digital. Falando em momentos de silaªncio, eu pessoalmente bloqueio as manha£s como um tempo para pensar sem tela / ma­dia social. O que acontece com os hábitos éque comea§ar aos poucos pode levar a grandesmudanças: experimente dez minutos por dia e, a seguir, va¡ aumentando a partir daa­! Aqui estãouma lista útil de aplicativos habituais.

a€s vezes, quanto mais lento, melhor As emoções e o humor podem ser contagiosos nas redes sociais. Quando vocêestiver se envolvendo com conteaºdo emocional ou contencioso, reserve um minuto (ou dois, ou três) para passar de sua reação imediata para pensar antes de responder ou compartilhar. 

Longe da vista, longe da mente Nossos telefones são excelentes ma¡quinas de distração - quando vocêestiver trabalhando ou precisar se concentrar, tente adquirir o ha¡bito de manter o telefone em outra sala com as notificações desligadas. 

Faa§a do seu quarto uma área sem telefone O sono éum dos aspectos mais importantes do nosso bem-estar; Tambanãm recomendo fortemente reduzir o tempo de tela e ma­dia social antes de dormir.

 

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