Humanidades

Como planejar uma cidade com transparaªncia e qualidade de vida?
Questaµes como essa são debatidas no livro “Roberto Cerqueira Canãsar: Sa£o Paulo na Visão do Urbanista”, da Editora da USP
Por USP - 22/03/2021


A cidade de Sa£o Paulo: o professor da USP Roberto Cerqueira Canãsar alertou, nos anos 70, para o problema da expansão urbana sem controle osFoto: Reprodução
 
“Cerqueira Canãsar entendia que as decisaµes de cara¡ter urbana­stico que afetam a vida e os interesses de inconta¡veis pessoas deveriam ser abertas, transparentes e democra¡ticas, isto anã, sujeitas ao debate e a s discussaµes, sempre visando a  melhoria da qualidade de vida”, destaca o professor Paulo Bruna, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, organizador de Roberto Cerqueira Canãsar: Sa£o Paulo na Visão do Urbanista. Lana§ado pela Editora da USP (Edusp), o livro traz o pensamento, o trabalho e os desafios de Cerqueira Canãsar no planejamento da cidade.

Paulo Bruna apresenta uma seleção de 35 artigos dos mais de 400 que o engenheiro, arquiteto, urbanista e professor da FAU Cerqueira Canãsar publicou entre 1958 e 1975 no jornal O Estado de S. Paulo. Tambanãm reaºne textos de conferaªncias pronunciadas entre 1975 e 1978, quando ele foi secreta¡rio dos Nega³cios Metropolitanos de Sa£o Paulo, e textos de engenharia e arquitetura escritos entre 1958 e 1973.

Praça da Sanã, em Sa£o Paulo osFoto: Reprodução

A edição, com 348 pa¡ginas, chega a  cidade em seu momento mais tra¡gico na luta contra a covid-19, com o Estado registrando uma nova morte a cada dois minutos e seis segundos (dados do dia 16 de mara§o) e totalizando mais de 65 mil a³bitos. Daa­ a importa¢ncia e atualidade do trabalho de Cerqueira Canãsar, registrado no livro por Paulo Bruna com a participação de Maria Ruth Amaral de Sampaio e Hugo Segawa, também professores da FAU.

“Um dos propósitos deste livro érelembrar algumas das principais preocupações de Cerqueira Canãsar como arquiteto atuante no mercado por meio de seu renomado escrita³rio, como professor da FAU e na qualidade de profissional que prestou servia§os a órgãos paºblicos de planejamento urbano, municipais e estaduais”, observa Maria Ruth. “Os textos que escreveu entre 1958 e 1978 mostram não somente os problemas que a cidade enfrentou, muitos deles atéhoje não solucionados e atéagravados, mas sobretudo refletem as opiniaµes e a permanente preocupação do arquiteto com o crescimento urbano que escapava do controle dos órgãos paºblicos responsa¡veis pela cidade.”

“A enorme e crescente urbanização representa uma sobrecarga brutal sobre os servia§os paºblicos urbanos, sejam eles do munica­pio, Estado ou Unia£o.” 


Segundo destaca a professora Maria Ruth, na qualidade de secreta¡rio dos Nega³cios Metropolitanos do governo Paulo Egydio Martins, Cerqueira Canãsar já registrava a situação da saúde nas áreas metropolitanas do Paa­s, apontando os problemas decorrentes da acelerada urbanização.

Num semina¡rio sobre a Situação de Saúde nas areas Metropolitanas, em agosto de 1975, o então secreta¡rio chamou a atenção para os 10 milhões de habitantes na regia£o metropolitana, contando com uma taxa de crescimento de 6%, uma das maiores do mundo, superior  a  de Pequim, na China, que, na anãpoca, era de 3,82%. Cerqueira Canãsar observou: “Essa enorme e crescente urbanização representa uma sobrecarga brutal sobre os servia§os paºblicos urbanos, sejam eles do munica­pio, Estado ou Unia£o”.

No texto apresentado naquele semina¡rio, inserido no livro, épossí­vel observar a pesquisa e análise detalhada do urbanista sobre o crescimento da Grande Sa£o Paulo em gra¡ficos. Sa£o dados que alertam para uma pola­tica severa de preservação, a melhoria das ligações via¡rias intermunicipais metropolitanas e a programação de atendimento médico-sanita¡rio de emergaªncia em Sa£o Paulo. Cerqueira Canãsar relata: “Nesse particular, depois de percorrer a área metropolitana e manter contatos com os seus prefeitos e demais autoridades municipais, cheguei a  conclusão de que o atendimento hospitalar estãoexcessivamente centralizado na capital, principalmente no Hospital das Cla­nicas, o que obriga o transporte de casos, mesmo simples, procedentes de munica­pios afastados, sobrecarregando as Prefeituras locais, o Hospital das Cla­nicas, inclusive desvirtuando em parte as suas finalidades, e criando problemas sanãrios para as fama­lias dos doentes”.

“a‰ a visão de um dos protagonistas da institucionalização dos sistemas paºblicos de planejamento regional e urbano da maior metra³pole brasileira.”


Para Hugo Segawa, que assina a orelha do livro, Roberto Cerqueira Canãsar: Sa£o Paulo na Visão do Urbanista éuma edição fundamental para a compreensão dos conceitos e dos processos que conduziram a constituição da administração metropolitana e urbana de Sa£o Paulo dos anos 1950 atéfins do decaªnio de 1970. “a‰ a visão de um dos protagonistas da institucionalização dos sistemas paºblicos de planejamento regional e urbano da maior metra³pole brasileira, em um contexto em que a metropolização ingressava na pauta governamental do Paa­s.”

Capa do livro lana§ado pela Editora da USP os
Foto: Reprodução

Segawa contextualiza o pensamento de Cerqueira Canãsar apresentado no livro: “No limiar da terceira década do milaªnio, hádministradores de cidades que parecem não entender a razãode ser e o significado de conceitos como regia£o metropolitana, sistema de planejamento e administração, conselhos metropolitanos e intermunicipais, desenvolvimento integrado, participação e cooperação entre esferas governamentais, planejamento regional e urbano, planos diretores, uso e ocupação do solo”.

O professor e arquiteto destaca: “Esse vocabula¡rio, tecnocra¡tico para alguns, éindissocia¡vel de outra sanãrie de palavras-chave, como participação popular, custos sociais, relação entre governo e comunidade, consequaªncias sociais da metropolização, infraestrutura de transporte, saneamento e atendimento a  população, função social da propriedade e mercado imobilia¡rio, entre outras noções”.

O paulistano Cerqueira Canãsar morreu no dia 25 de junho de 2003, com 86 anos. Poranãm, segundo o professor Hugo Segawa, deixou um legado para o planejamento urbano dos governos futuros: prever os problemas e antecipar soluções, tentar evitar os piores efeitos mediante estudo e planejamento racional, antecipar medidas de natureza profila¡tica antes do desastre maior e tornar o planejamento uma prática , não apenas uma reta³rica ou propaganda de loga­stica.

 

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