Humanidades

3T: As complexidades socioambientais das energias renova¡veis
A estudante de doutorado do HASTS, Caroline White-Nockleby, visa promover a justia§a climática, minimizando os encargos localizados da implementaa§a£o de energia renova¡vel.
Por Escola de Humanidades, Artes e Ciências Sociais - 29/05/2021


“A energia renova¡vel deve ser coletada, armazenada e transportada, diz a estudante de doutorado Caroline White-Nockleby.“ Requer financiamento, extração de metais e processamento de materiais desativados. ... Nem todos podem se beneficiar igualmente dos potenciais das energias renova¡veis, e nem todos estara£o igualmente expostos aos seus impactos socioambientais.” Créditos:Foto cedida por Caroline White-Hockleby.

Caroline White-Nockleby éestudante de doutorado no programa de doutorado do MIT em Hista³ria, Antropologia e Ciência, Tecnologia e Sociedade (HASTS), que éco-patrocinado pelas seções de Hista³ria e Antropologia e pelo Programa em Ciência, Tecnologia e Sociedade ( STS). Os centros de pesquisa de White-Nockleby sobre as cadeias de fornecimento mutantes de infraestruturas de energia renova¡vel. Em particular, ela estãointeressada nas interfaces entre a formulação de políticas, dina¢mica social e inovações tecnologiicas na obtenção, fabricação e implementação de tecnologias de armazenamento de energia. Ela recebeu um BA em geociências e estudos americanos pelo Williams College e um mestrado em antropologia social pela University of Cambridge, Inglaterra. O MIT SHASS Communications falou com ela para a sanãrie Resolvendo o Clima: Perspectivas Humana­sticas do MITsobre as perspectivas que seu campo e suas pesquisas trazem para enfrentar a crise climática. 
 
P: Como a pesquisa do programa de doutorado HASTS moldou sua compreensão da mudança climática global e sua mira­ade de impactos ecola³gicos e sociais?

R: Candis Callison do MIT HASTS [PhD '10], agora antropa³loga e professora de jornalismo, escreveu seu primeiro livro, " How Climate Change Come to Matter " sobre as diferentes estruturas discursivas - o que ela chama de "verna¡culos" - por meio das quais os cientistas , jornalistas, comunidades inda­genas, firmas de investimento sustenta¡vel e organizações ambientais crista£s evanganãlicas entendem asmudanças climáticas.

Por meio de pesquisas etnogra¡ficas, Callison mostra que, embora esses entendimentos fossem baseados em um conjunto compartilhado de fatos, cada um deles se baseava em diferentes estruturas culturais e anãticas. Essas variações poderiam silenciar as conversas, mesmo que ilustrassem as pluralidades da crise climática, destacando diferentes desafios e motivando diferentes ações.

Megan Black, membro do corpo docente do HASTS e historiadora ambiental, professora associada da Seção de Hista³ria do MIT, estãoatualmente pesquisandoa história dos primeiros satanãlites Landsat lana§ados na década de 1970. As capacidades técnicas dos mecanismos de visualização do Landsat foram influenciadas pelo contexto pola­tico da Guerra Fria. A investigação de Black revelou, entre outras descobertas, que os dispositivos de imagem do Landsat eram particularmente adequados para revelar caracteri­sticas geola³gicas e, portanto, para a exploração de minerais, que foi uma aplicação chave dos dados do Landsat em sua década inaugural. O contexto hista³rico do projeto inicial do satanãlite moldou - e limitou - as informações acessa­veis a s muitas investigações que hoje usam as primeiras imagens do Landsat como um indicador vital demudanças ambientais em escala decadal. 

A mudança climática não éapenas uma questãocienta­fica e tecnologiica, mas também social, pola­tica e hista³rica. Ele decorre de séculos de geografias desiguais de extração e distribuição de energia; os processos hista³ricos e geogra¡ficos relacionados hoje distribuem as vulnerabilidades climáticas de maneira desigual entre lugares e pessoas.

AsDimensões das intervenções promissoras de hoje, por sua vez, foram configuradas por fundos anteriores e agendas de pesquisa - e as muitas tecnologias empregadas tem uma ampla variedade de implicações para a equidade, a anãtica e a justia§a. Os parametros da opinia£o pública e do debate pola­tico sobre a natureza e os riscos dasmudanças climáticas, bem como suas soluções conceba­veis, são modelados de forma semelhante por contextos sãocio-hista³ricos.

O Programa de Hista³ria, Antropologia, Ciência, Tecnologia e Sociedade (HASTS) do MIT apoia pesquisas que atendem a s facetas sociais e hista³ricas dasmudanças climáticas. Ta£o importante quanto, o programa HASTS equipa os estudiosos com as ferramentas para desenvolver entendimentos diferenciados dos mecanismos cienta­ficos e tecnola³gicos de suas causas, impactos e soluções propostas. Tal sintonia técnica e social torna o programa bem situado - talvez particularmente - para desvendar a mira­ade deDimensões sociais e ecola³gicas da crise climática.

P: A tecnologia oferece esperana§a para enfrentar asmudanças climáticas e também apresenta desafios. A indústria de energia renova¡vel, por exemplo, depende da mineração de la­tio e outros metais - um processo que éprejudicial ao meio ambiente. O que sua pesquisa revelou sobre os trade-offs que a humanidade estãoenfrentando em seus esforços para combater a mudança climática global e, como vocêsugere que comecemos a lidar com esses trade-offs?

R: A energia renova¡vel a s vezes pode ser posicionada como imaterial e inerentemente redistributiva. Em certo sentido, essas caracterizações surgem de qualidades físicas: o sol e o vento não exigem extração, não acabam e são distribua­dos pelo Espaço.

No entanto, a energia renova¡vel deve ser coletada, armazenada e transportada; requer financiamento, extração de metais e processamento de materiais desativados. O acesso a  energia, a mineração e a deposição de resíduos são dina¢micas materiais geograficamente situadas. Nem todos podem se beneficiar igualmente dos potenciais financeiros e ambientais das energias renova¡veis, e nem todos estara£o igualmente expostos aos seus impactos socioambientais.

A distribuição de encargos, em alguns casos, já estãomapeando as desigualdades existentes de poder e privilanãgio, impactando desproporcionalmente BIPOC [negros, inda­genas e pessoas de cor] e indivíduos de baixa renda, bem como comunidades no Sul Global - muitas vezes em locais também na linha de frente dasmudanças climáticas ou outras formas de injustia§a ambiental.

Nenhum desses desafios deve impedir a implementação de energia renova¡vel; as energias renova¡veis ​​são uma parte absolutamente crucial da mitigação do clima e também podem aumentar a resiliencia climática e reduzir a contaminação ambiental, entre outros co-benefa­cios.

Além disso, nem os parametros desses desafios nem as intervenções potenciais são claros. A extração de minerais éfundamental para muitas economias locais.

Metais diferentes também tem pegadas ambientais e sociais distintas. A mineração de cobalto, que ocorre em grande parte na República Democra¡tica do Congo em condições ambiental e economicamente preca¡rias, apresenta desafios socioecola³gicos diferentes da extração de cobre, que ocorre em todo o mundo, principalmente em grande escala por manãtodos cada vez mais remotos. O la­tio, por sua vez, pode ser encontrado em salinas, rochas a­gneas, fluidos geotanãrmicos e argilas, cada um dos quais requer diferentes técnicas de mineração.

Minimizar os encargos localizados da implementação de energia renova¡vel serácomplexo. Aqui no MIT, os pesquisadores estãotrabalhando em abordagens técnicas para desenvolver formas menos intensivas de mineração, novas químicas de bateria, tecnologias robustas de armazenamento de energia, mecanismos de reciclagem e políticas para estender o acesso a  energia. Ta£o importante, eu acho, éentender os processos hista³ricos atravanãs dos quais os benefa­cios e fardos de diferentes energias foram distribua­dos - e garantir que as estruturas anãticas pelas quais os projetos atuais e futuros podem ser mapeados e avaliados sejam suficientemente matizados.

Ainda estou na fase de planejamento de minha própria pesquisa, mas espero que ajude a trazer a  tona e oferea§a ferramentas para refletir sobre algumas dessas complexidades socioambientais.

P: Ao enfrentar um problema tão formida¡vel como a mudança climática, o que lhe da¡ esperana§a?
   
R: Na faculdade, fiz um projeto de entrevista para aprender sobre colaborações entre grupos ambientais de estudantes e uma igreja local para lidar com a mudança climática. No final de cada entrevista, eu me peguei voltando a  mesma pergunta: O que te da¡ energia em seu trabalho sobre mudança climática? O que te faz continuar?

A pergunta não era estritamente necessa¡ria para meu projeto; Eu estava perguntando, principalmente, por mim. A mudança climática pode ser verdadeiramente avassaladora, em parte porque diminui dramaticamente o escopo, no espaço e no tempo, de uma única vida humana. Tambanãm écomplexo - entrelaa§ado com tantas maneiras diferentes de conhecer o mundo.

Meus entrevistados deram respostas diferentes. Alguns me disseram que tiveram o cuidado de segmentar mentalmente a questãode modo a evitar que a “mudança climática”, como uma totalidade paralisante, minasse o senso de propa³sito de suas pesquisas dia¡rias ou esforços de defesa de direitos. Outros com quem conversei adotaram a abordagem oposta, vinculando conceitualmente seus pra³prios esforços - que poderiam parecer insuficientemente cotidianos - a um senso mais amplo. Mas quase todos com quem conversei destacaram a importa¢ncia de fazer parte de uma comunidade - de se envolver em e por meio de esforços colaborativos.

Isso éo que também me da¡ esperana§a: pessoas trabalhando juntas para enfrentar a mudança climática de uma forma que atenda a s suas complexidades cienta­ficas e sociais. As interseções entre asmudanças climáticas e a justia§a social, como o Movimento Sunrise ou a Climate Justice Alliance, me da£o esperana§a.

Colaborações relacionadas ao clima também estãoacontecendo em todo o MIT; Acho as iniciativas que surgiram do processo dos Grandes Desafios do Clima particularmente inspiradoras. No STS, indivíduos como a aluna do HASTS Sara Wylie [PhD '11], que pesquisou os impactos do fraturamento hidra¡ulico, construa­ram relacionamentos profundos com as comunidades nas quais trabalham, alavancando suas pesquisas para apoiar iniciativas relevantes de justia§a climática.

De minha parte, fui estimulado por meu envolvimento em um projeto liderado pelo bolsista do MIT MLK Luis G. Murillo [ex-ministro do meio ambiente e desenvolvimento sustenta¡vel da Cola´mbia] que reaºne legisladores, defensores da comunidade e pesquisadores para promover iniciativas que fomentem o racismo justia§a, conservação, mitigação do clima e paz.

 

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