Humanidades

Naturalização da violência no trabalho contra a mulher éobsta¡culo no combate ao assanãdio
Maioria das mulheres já sofreu algum tipo de violência ou assanãdio no trabalho, mas demoram a perceber a situaa§a£o
Por Robert Siqueira - 30/06/2021


A palavra assanãdio, seja moral ou sexual, traz a ideia de que existe uma relação de poder do assediador sobre a va­tima osReprodução

Dois casos de assanãdio chamaram a atenção no mundo do futebol nas últimas semanas. Roganãrio Caboclo, presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), foi acusado de assanãdio moral e sexual por uma funciona¡ria da entidade. Dias depois, Caboclo foi afastado do cargo. Já o atacante Neymar, da Seleção Brasileira e do Paris Saint-Germain, da Frana§a, foi acusado de assanãdio sexual por uma funciona¡ria de uma empresa de material esportivo, que patrocinava o jogador. O caso estãosendo investigado. 

Os casos ganharam grande repercussão na ma­dia, mas são apenas a ponta do iceberg, já que a maior quantidade dos casos sequer édenunciada. Para se ter ideia, um levantamento feito pelo Instituto Patra­cia Galva£o, organização feminista de referaªncia na defesa a s mulheres no Brasil, revelou que 76% das mulheres já sofreram violência ou assanãdio no trabalho.

Violaªncia no trabalho

A palavra assanãdio, seja moral ou sexual, traz a ideia de que existe uma relação de poder do assediador sobre a va­tima. Mas épreciso entender cada caso e suas diferenças, como explica a terapeuta ocupacional Maria Paula Panaºncio, professora e presidente da Comissão de Direitos Humanos (CDH) da Faculdade de Medicina de Ribeira£o Preto (FMRP) da USP.

O assanãdio moral se configura com gestos, palavras e comportamentos que expaµem uma pessoa a circunsta¢ncias humilhantes e constrangedoras, e que podem ser ofensivas a  personalidade, dignidade e integridade física ou psa­quica, com o objetivo de excluir a pessoa das suas funções, desqualificar ou prejudicar o trabalho. “Esses atos, para serem considerados como assanãdio, tem que ser frequentes, repetidos e intencionais”, destaca Maria Paula.

Já o assanãdio sexual se caracteriza por palavras ou atitudes que constrangem uma pessoa com a finalidade de conseguir vantagem ou favorecimento sexual. Conta a professora que esse tipo de assanãdio “pode ser caracterizado mesmo que praticado uma única vez e que a va­tima se negue a realizar os atos sexuais”.

Apesar de o tema ser cada vez mais discutido, muitas pessoas ainda tem dificuldades em reconhecer uma situação de assanãdio. Segundo Maria Paula, a naturalização desse tipo de violência osjá enraizada na sociedade oséum dos principais obsta¡culos. Brincadeiras e comenta¡rios sexistas ou de cunho sexual, assim como o tratamento rude ou grosseiro de um chefe, são exemplos de assanãdio moral e sexual, vistos com naturalidade no cotidiano.

Ações de conscientização

Para conscientizar e informar a comunidade sobre “algumas prática s que são naturalizadas e vistas como comuns nos ambientes de trabalho e acadaªmico, mas que são prática s abusivas”, a Comissão de Direitos Humanos da Faculdade de Medicina da USP, em Ribeira£o Preto, produziu a cartilha Violaªncia interpessoal no trabalho: como identificar e combater o assanãdio moral e sexual.

O documento, dispona­vel gratuitamente pela internet, deve reforçar a importa¢ncia de colocar o assunto em pauta e estimular a realização de campanhas de conscientização que, segundo a professora, tem papel fundamental no combate ao assanãdio. Maria Paula alerta para o fato de que as pessoas que fizeram e fazem piadas de cunho sexual ou sexista, ou que tratam mal os funciona¡rios, va£o continuar repetindo suas atitudes se não forem orientadas e conscientizadas. “Essa conscientização éuma luta, e temos que praticar diariamente os mantras do respeito, dos direitos e das boas relações.”

 

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