Humanidades

O banheiro de uma villa de luxo do período do Primeiro Templo revela que a elite de Jerusalém sofria de doenças infecciosas
Um novo estudo da Universidade de Tel Aviv e da Autoridade de Antiguidades de Israel expa´s os restos de ovos de vermes intestinais de 2.700 anos abaixo do banheiro de pedra de uma magna­fica propriedade privada.
Por Universidade de Tel-Aviv - 05/01/2022


O assento do vaso sanita¡rio de pedra encontrado durante a escavação de 2019 em Armon Hanatziv. Crédito: Ya'akov Billig, Autoridade de Antiguidades de Israel.

Um novo estudo da Universidade de Tel Aviv e da Autoridade de Antiguidades de Israel expa´s os restos de ovos de vermes intestinais de 2.700 anos abaixo do banheiro de pedra de uma magna­fica propriedade privada. Os restos de ovos pertencem a quatro tipos diferentes de parasitas intestinais: lombriga, taªnia, tricura­deo e traz. Segundo os pesquisadores, o assento do vaso sanita¡rio de pedra ficava no "banheiro" da propriedade, e a presença dos vermes indica que mesmo os moradores ricos de Jerusalém naquela anãpoca sofriam de doenças e epidemias. O artigo foi publicado recentemente no International Journal of Paleopathology.

O estudo foi conduzido pelo Dr. Dafna Langgut, diretor do Laborata³rio de Arqueobota¢nica e Ambientes Antigos da Universidade de Tel Aviv no Instituto de Arqueologia e no Museu Steinhardt de Hista³ria Natural. O Dr. Langgut coletou amostras de sedimentos embaixo do banheiro de pedra, onde a fossa fossa estava localizada. Em seguida, em seu laboratório, ela extraiu quimicamente os ovos do parasita, examinou-os sob um microsca³pio de luz e os identificou. Os restos do ovo foram descobertos como parte de uma escavação de resgate pela Autoridade de Antiguidades de Israel, realizada recentemente no cala§ada£o Armon Hanatziv em Jerusalém .

"As descobertas deste estudo estãoentre as primeiras observadas em Israel atéhoje", disse o Dr. Langgut. "Sa£o ovos dura¡veis ​​e, nas condições especiais fornecidas pela fossa, sobreviveram por quase 2.700 anos. Os vermes intestinais são parasitas que causam sintomas como dor abdominal, na¡usea, diarreia e coceira. Alguns deles são especialmente perigosos para criana§as e pode levar a  desnutrição, atrasos no desenvolvimento, danos ao sistema nervoso e, em casos extremos, atéa morte. "

O assento do vaso sanita¡rio de 2700 anos feito de pedra. Crédito: Yoli Schwartz,
Autoridade de Antiguidades de Israel.

O Dr. Langgut acredita que a doença intestinal na anãpoca pode ter sido devido a s ma¡s condições sanita¡rias que causaram a contaminação fecal de alimentos e águapota¡vel. Ou pode ter sido devido a uma falta de consciência de higiene, como não lavar as ma£os. Outras possa­veis fontes de infecção eram o uso de fezes humanas para fertilizar as plantaçõese o consumo de carne bovina ou sua­na mal cozida. Na ausaªncia de medicamentos, a recuperação dos vermes intestinais era difa­cil ou impossí­vel, e as pessoas infectadas poderiam sofrer com os parasitas pelo resto de suas vidas. Portanto, bem possí­vel que os resultados do estudo indiquem uma doença infecciosa inca´moda e de longa duração (compara¡vel aos piolhos e vermes dos jardins de infa¢ncia de hoje) que afetou toda a população. Langgut aponta que esses parasitas ainda existem hoje, mas o mundo ocidental moderno desenvolveu meios de diagnóstico e medicamentos eficazes, para que não se transformem em uma epidemia.

Ya'akov Billig, o diretor da escavação em nome da Autoridade de Antiguidades de Israel, explica que a propriedade real descoberta data de meados do século 7 aC (o final da Idade do Ferro). De acordo com Billig, magna­ficos artefatos de pedra de ma£o-de-obra extraordina¡ria foram encontrados no local, como capitanãis de pedra decorados (no estilo proto-ea³lico) em uma quantidade e qualidade ainda não observada no antigo Israel. Adjacente a  mansão havia um jardim espetacular com uma vista deslumbrante da Cidade de Davi e do Monte do Templo. Foi aqui, junto com os restos de a¡rvores fruta­feras e ornamentais, que a fossa amostrada por Langgut foi encontrada. Ele era coroado por uma instalação quadrada de calca¡rio com um orifa­cio no centro, identificado como um orifa­cio de queda do vaso sanita¡rio. A escavação de resgate em Armon Hanatziv foi financiada pela Fundação Ir David.
 
Para a Dra. Langgut, essa foi uma oportunidade de aplicar um campo de pesquisa denominado arqueoparasitologia que ela havia comea§ado a desenvolver em seu laboratório. Nesse campo, os pesquisadores identificam restos microsca³picos de ovos de vermes intestinais para aprender sobre a história de doenças e epidemias. Esta área fornece novas informações sobre saúde humana, higiene, estilo de vida e condições sanita¡rias.

Langgut e Billig não ficaram surpresos com a recuperação de um banheiro no prestigioso jardim da propriedade. "Os banheiros eram extremamente raros naquela anãpoca e eram um sa­mbolo de status - uma instalação de luxo que apenas os ricos e de alto escala£o podiam pagar. Como o Talmud ensina," Quem érico? ... Rabino Yosef diz: Qualquer um que tenha um banheiro perto de sua mesa. '"(Bavli Shabat 25: 2).

Eli Escozido, diretor da Autoridade de Antiguidades de Israel, diz: "A pesquisa conduzida pela Autoridade de Antiguidades de Israel e nossos parceiros consegue abordar os melhores detalhes da vida cotidiana na antiguidade; graças a equipamentos avana§ados e colaboração fruta­fera com instituições de pesquisa complementares, agora épossí­vel extrair informações fascinantes de materiais que antes não ta­nhamos as ferramentas para lidar cientificamente. Hoje, a pesquisa arqueola³gica estãoalcana§ando realizações nota¡veis ​​e levando a uma melhor compreensão dos modos de vida anteriores - um entendimento, ao que parece, que são continuara¡ para evoluir. "

O Dr. Langgut conclui: "Estudos como este nos ajudam a documentar a história das doenças infecciosas em nossa área e nos fornecem uma janela para a vida das pessoas nos tempos antigos." O Dr. Langgut estãoatualmente conduzindo análises adicionais nos sedimentos coletados da fossa, a fim de aprender sobre a dieta e as ervas medicinais usadas em Jerusalém no final da Idade do Ferro.

 

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