Humanidades

Os professores que lideram o esfora§o global para melhorar a educação das meninas tornaram-se trabalhadores da linha de frente durante o fechamento do COVID-19
Entrevistas com professores na vanguarda dos esforços internacionais para melhorar a educação de meninas revelam que muitas assumiram papanãis humanita¡rios, além de trabalhar como educadores, durante a crise do COVID-19.
Por Tom Kirk - 12/02/2022


Meninas em uma sala de aula no Afeganistão - Crédito: Pixabay


Amedida que comea§amos a recuperar do COVID-19, precisamos examinar o que essas expectativas e pressaµes adicionais significam para professores e sistemas educacionais

Pauline Rose


Suas experiências são capturadas em um relatório encomendado pelo governo avaliando programas financiados pelo Reino Unido para meninas marginalizadas em algumas das partes mais pobres do mundo. Isso mostra que quando o COVID-19 fora§ou o fechamento das escolas, os papanãis dos educadores que trabalham nesses projetos se expandiram drasticamente.

Cerca de 85% dos entrevistados pelos pesquisadores afirmaram ter prestado algum tipo de assistaªncia a  saúde física ou mental além de suas atribuições educacionais. Muitas parecem ter feito esforços extraordina¡rios para fornecer cuidados de saúde cra­ticos, salvaguarda e cuidados pastorais a meninas que corriam risco extremo de abandonar a educação, em meio a esforços para mantaª-las aprendendo.

O relatório independente do Escrita³rio de Relações Exteriores, Comunidade e Desenvolvimento do Reino Unido avalia o 'Desafio de Educação para Meninas' (GEC), apoiado pelo governo, que estãofornecendo alfabetização, numeramento e educação em habilidades para a vida a um milha£o das meninas mais marginalizadas do mundo.

A professora Pauline Rose, diretora do Research for Equitable Access and Learning (REAL) Centre, da Universidade de Cambridge, e uma das autoras, disse: “Quando as escolas fecharam, os projetos GEC passaram por uma transformação, operando não apenas como iniciativas educacionais, mas assumindo um papel humanita¡rio. Sem isso, o impacto da pandemia na aprendizagem das meninas poderia ter sido ainda mais grave”.

A equipe de pesquisa analisou 10 projetos do GEC, todos os quais usam redes de professores, voluntários e 'para educadores' (como mentores) para enfrentar o complexo desafio de apoiar meninas em comunidades com poucos recursos, remotas e muitas vezes em atuais zonas de guerra.

Eles se concentraram em detalhes em dois projetos no Afeganistão, um em Gana e um em Serra Leoa. Sua análise envolveu entrevistas com funciona¡rios, alunos, funciona¡rios do governo e outras partes interessadas; bem como observações em sala de aula e uma avaliação de impacto mais ampla. O trabalho foi realizado antes da retirada internacional do Afeganistão em agosto de 2021.

O relatório destaca como a pandemia desencadeou novas dificuldades que impediram ainda mais as oportunidades educacionais para meninas empaíses onde suas matra­culas e realizações já são baixas. Depois que as escolas fechavam, suas fama­lias muitas vezes esperavam que eles realizassem trabalho domanãstico ou gerador de renda, ou se casassem, em vez de aprender. Os fechamentos também cortaram seu acesso aos professores, que para alguns eram confidentes de confiana§a. Isso contribuiu para um aumento nos problemas de saúde, estresse e ansiedade.

Ao mesmo tempo, programas de ensino remoto emnívelnacional muitas vezes não conseguiam alcana§ar essas meninas, que muitas vezes não tinham apenas computadores, televisores e ra¡dios, mas a s vezes um fornecimento confia¡vel de eletricidade. Em Gana, por exemplo, 80% dos alunos entrevistados sabiam que as aulas de TV estavam sendo transmitidas em seupaís, mas apenas 34% conseguiram assisti-las.

Nessas circunsta¢ncias, segundo o relatório, os educadores dos projetos do GEC assumiram um papel fundamental de 'ponte' osespecialmente as professoras da comunidade, que conseguiram estabelecer um contato pessoal vital com os alunos. Por razões de salvaguarda, os funciona¡rios do sexo masculino não puderam fazer o mesmo.

Para manter os alunos aprendendo, os professores forneceram inaºmeras outras formas de apoio. Alguns ajudaram a encaminhar alunos que estavam com dificuldades para servia§os comunita¡rios ou sociais, enquanto muitos divulgaram informações de segurança do COVID-19 e entregaram suprimentos de EPI. O relatório registra casos de professores ajudando meninas gra¡vidas ou, em um caso, prestando apoio ad hoc a um aluno com epilepsia.

Os gerentes de projeto também providenciaram a distribuição de TVs e decodificadores a s residaªncias para que os alunos pudessem sintonizar as aulas, e para que os professores recebessem telefones celulares para que pudessem manter contato com os alunos. Isso provou ser criticamente importante para os alunos que lutavam em grande parte com a aprendizagem autodirigida. Uma menina afega£, por exemplo, relembrou: “A falta de orientação nos impedia de estudar, então não poda­amos ler bem nossas aulas. Quando liguei para o professor, nosso cartão de celular acabou.”

Os gerentes de projeto organizaram treinamento extra para a equipe em áreas como primeiros socorros psicola³gicos, gerenciamento de estresse, apoio ao bem-estar e mitigação do COVID-19. Os professores também receberam treinamento em proteção infantil e igualdade de gaªnero, em parte em resposta a  evidência de um aumento na violência relacionada ao gaªnero.

O projeto de Serra Leoa, que reuniu dados específicos sobre essa questão, descobriu que 19% das meninas e 20% das mentoras relataram aumento da violência contra mulheres e meninas durante a pandemia, chegando a 38% em um distrito. Reconhecendo a extensão da violência de gaªnero, os projetos implementaram várias medidas para enfrenta¡-la e garantir que os professores estivessem preparados para fazer o mesmo. Muitos professores entrevistados para o relatório apreciam particularmente esta orientação.

Em geral, os professores sentiram que o treinamento adicional que receberam durante a pandemia melhorou sua capacidade de realizar seu trabalho, atendendo ao bem-estar de seus alunos. Pouca atenção parece ter sido dada ao seu pra³prio bem-estar, no entanto. “O trabalho adicional que eles estavam assumindo afetou sua própria saúde mental, levou ao esgotamento relacionado ao trabalho e colocou uma pressão extra em sua vida doméstica”, disse Rose. Este foi especialmente o caso das professoras.

Entre várias recomendações, o relatório pede:

O recrutamento de mais professoras baseadas na comunidade, que desempenharam um papel crítico em manter o aprendizado das meninas durante os fechamentos.

Maior integração entre os projetos do GEC e os servia§os de saúde, assistaªncia social e outros, dada a ampliação das responsabilidades dos professores.

Mais disposição para contato bidirecional entre professores e alunos em futuros bloqueios, para garantir que os alunos recebam orientação e feedback adequados ao aprender remotamente.

Mais apoio ao bem-estar dos professores, bem como dos seus alunos.

Rose acrescentou: “Amedida que comea§amos a nos recuperar do COVID-19, precisamos examinar o que essas expectativas e pressaµes adicionais significam para professores e sistemas educacionais. Devemos olhar com atenção especial para as implicações de esgotamento, recrutamento, retenção e treinamento”.

 

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