Humanidades

Os luminares da lingua­stica Noam Chomsky e Morris Halle são homenageados
Uma ala do Stata Center e um evento comemorativo marcam suas conquistas e a próxima geraça£o de pesquisa lingua­stica no MIT.
Por Leda Zimmerman - 28/05/2022


A parede de exposição Chomsky Halle Wing foi projetada por Paul Montie Design com contribuições de Athulya Aravind, Emer Garland, Martin Hackl e Jennifer Purdy, e fabricada e instalada pela Advanced Imaging, Inc.

Ha¡ quase 60 anos, Noam Chomsky e Morris Halle fundaram o Departamento de Lingua­stica do MIT. Nesta primavera, o departamento dedicou uma ala de sua sede do Stata Center a esses fundadores.

“Juntos, eles definiram e transformaram todo o campo da lingua­stica”, diz Danny Fox, professor de linguagem e pensamento da Anshen-Chomsky e chefe do departamento. “Dar o nome deles a  ala parecia uma maneira de indicar sua centralidade não apenas para nossa disciplina, mas de muitas maneiras para toda a ciência cognitiva”.

Halle, que lecionou no MIT de 1951 a 1996 e se tornou professor do Instituto, morreu em 2018. Chomsky veio para o MIT em 1955 e se aposentou em 2002, continuando sua pesquisa como Professor Emanãrito do Instituto. Ele se mudou para a Universidade do Arizona hávários anos, onde éprofessor laureado de lingua­stica. Halle e Chomsky dividiam um escrita³rio no lenda¡rio Edifa­cio 20 do MIT e, quando foi demolido, eles se mudaram para um espaço no Stata Center. Apa³s a saa­da de Chomsky, essa área foi redesenhada para ser usada como Laborata³rio de Aquisição de Idiomas do departamento.

“Com nossa aªnfase crescente no trabalho experimental, parecia natural dedicar esse espaço ao nosso novo laboratório”, diz David Pesetsky, professor de la­nguas modernas e lingua­stica da Ferrari P. Ward e ex-chefe de departamento. “Tanto Noam quanto Morris foram meus professores no ini­cio dos anos 1980, e nenhum aluno hoje pode trabalhar nessa área sem ser influenciado por eles. Achamos que seria maravilhoso nomear esta área para nossos queridos colegas, que ensinaram tantos de nós.”

Conversa e brinde

Em um evento que combinou celebração com reunia£o, Chomsky fez uma palestra virtual intitulada “Explicação Genua­na e a Tese Minimalista Forte”, que foi disponibilizada para toda a comunidade do MIT. Apa³s a palestra, professores, ex-alunos e alunos de pós-graduação osrepresentando a a¡rvore ancestral de linguistas treinados diretamente por Chomsky e Halle e por seus protegidos osse envolveram em um dia¡logo animado com Chomsky, de acordo com a tradição consagrada do departamento de lingua­stica.

Na recepção depois, amigos e familiares brindaram a parceria de longa data. Jay Keyser, professor emanãrito de lingua­stica, descreveu o “profundo afeto” que Chomsky e Halle tinham um pelo outro. “Foi um daqueles raros momentos na história em que seus caminhos convergiram”, disse ele. “Como Darwin, Newton, Einstein e Niels Bohr, eles eram cientistas que mudaram a maneira como nos olha¡vamos.”

Robert C. Berwick, professor de ciência da computação e engenharia e lingua­stica computacional, caracterizou os dois como “jogando juntos de uma maneira especialmente complementar”.

O filho de Halle, Tim, falou da “amizade duradoura que definiu os dois”, e John descreveu vagar pelos corredores do Edifa­cio 20 e perceber “como as pessoas estavam se divertindo em seus laboratórios”, disse ele. “Havia discussão e o objetivo era progredir, avana§ar a ciaªncia, mas o riso éo que mais me lembro.”

Apenas 15 anos antes, Pesetsky observou, ele poderia andar pelo corredor se ele “quisesse discutir com Morris ou descobrir o que Noam tinha a dizer sobre algo”. e discutindo entre si, no espa­rito do departamento que criaram.”

Nostalgia

“Minha principal reação quando soube da dedicação foi, devo admitir, nostalgia”, diz Chomsky. “Comecei a pensar em como Morris e eu trabalhamos juntos todos esses anos, desde que nos conhecemos como estudantes de pós-graduação em meados do século 20.” Os dois iam para o campus no metra´, e mais tarde Chomsky os levaria de carro. “Quando Morris e eu decidimos, no final dos anos 1950, comea§ar um departamento, atépara nosparecia uma ideia bem louca. Os alunos viriam ao MIT para estudar lingua­stica osque ainda não era reconhecida como um campo? Para nossa surpresa, um grupo de alunos de destaque veio no primeiro ano, e então nossa forma contemporâneade lingua­stica explodiu, movendo-se para o resto dopaís e outras partes do mundo.”

Essa disciplina recanãm-definida visava caracterizar a aquisição da linguagem humana como um traa§o aºnico e de base biológica. Chomsky especializou-se em sintaxe e Halle em fonologia, mas produziram juntos textos seminais, como “The Sound Pattern of English”. Eles também serviram como o motor de um grupo unido de pesquisadores de pós-graduação e jovens professores.

Entre eles estava Donca Steriade, a Professora de Lingua­stica da Turma de 1941. “Morris tinha uma seriedade de propa³sito na ciência que obliterava tudo o mais”, lembra ela. “Pode-se concordar ou discordar dele em pontos de doutrina ou nas formas como realizamos nosso trabalho, mas não hádaºvida de que ele se dedicava profundamente a encontrar a verdade.” Como um jovem pesquisador, Steriade achou reconfortante que Halle e Chomsky “viam suas vidas organizadas em torno do ato de fazer ciaªncia”.

Steriade e outros estudantes foram mantidos em altos padraµes. “Havia alguns de noscomo estudantes de pós-graduação que Morris sugeriu que não deveriam estar no campo, e não era fa¡cil sempre ser testada”, diz ela. Mas Halle também estava “interessada em cada um de noscomo indiva­duos, bem como uma fonte de ideias, e curiosa sobre que tipo de seres humanos anãramos”. Suas cra­ticas pretendiam compelir jovens pesquisadores a abraçar a lingua­stica não como uma carreira, mas como um caminho para o avanço da ciência “Nãoolhe para os dados sem um propa³sito; Morris e Noam nunca esqueceram isso, e eu nunca esquea§o isso”, diz Steriade.

Avana§ando o campo

No Laborata³rio de Aquisição de Idiomas do MIT, o professor associado Martin Hackl e o professor assistente Athulya Aravind atualmente investigam como bebaªs e criana§as humanas determinam as propriedades de sua la­ngua nativa em um período de tempo surpreendentemente breve. Aravind estãobem ciente do que significa conduzir sua pesquisa na ala recanãm-dedicada. “Estamos nos ombros de gigantes como Chomsky e Halle”, diz ela.

Enquanto teóricos como Chomsky e Halle estabeleceram as bases tea³ricas para a aquisição da linguagem, o campo experimental ficou para trás, diz ela. “Estamos lidando com uma população especial, bebaªs e criana§as pequenas”, acrescenta ela, “o que dificultou a coleta de dados empa­ricos para nos ajudar a entender o que as criana§as sabem sobre linguagem e as origens biológicas do desenvolvimento da linguagem”.

No laboratório, Aravind e seus colegas estãodesenvolvendo novos manãtodos e medidas comportamentais para explorar como bebaªs e criana§as pequenas aprendem a linguagem. “O que estãonos retardando são apenas aspectos práticos”, diz ela. Juntando-se a ela no laboratório estãopesquisadores de pós-graduação igualmente dedicados, outro legado da colaboração Chomsky-Halle, observa ela. “A visão deles era especa­fica: eles insistiam que os alunos de pós-graduação deveriam fazer parte do processo de descoberta cienta­fica desde o ina­cio, e suas ideias e descobertas deveriam ser levadas a sanãrio pelo corpo docente saªnior, e eles também deveriam se levar a sanãrio.”

Chomsky diz que não poderia estar mais animado com os objetivos experimentais e educacionais de Aravind e seus colegas. “a‰ muito gratificante ter essa ala dedicada a novas pesquisas, o que éum trabalho realmente empolgante nas fronteiras do entendimento”, diz. Chomsky também não vaª fim de questões a serem exploradas em campo. “Toda vez que vocêfaz uma descoberta, abre uma porta para novos problemas, que continuara£o indefinidamente. De alguma forma, cada um de nosencontra novos pensamentos em nossas mentes, talvez novos na história da linguagem ou em nossa experiência. Como fazemos isso? Ninguanãm tem uma pista. Aquele que talvez nunca possamos resolver.”

 

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