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Genes, ambiente social e tabagismo na adolescaªncia
A adolescaªncia marca um período de transformação física significativa - como o impulso para a maturidade sexual. Mas também pode ser um momento de considera¡veis ​​mudanças psicológicas e experimentaa§aµes sociais.
Por Tom Garlinghouse - 20/09/0019

Ilustração fotogra¡fica: Matilda Luk
Pesquisadores de Princeton sugerem que os adolescentes são influenciados a fumar não apenas por seus pares, mas - surpreendentemente - pelos genes de seus pares. Novas evidaªncias sobre o comportamento de fumar em adolescentes apontam para os genes das pessoas ao nosso redor, a genanãtica do nosso ambiente social, como fatores significativos do motivo pelo qual algumas pessoas adotam comportamentos de risco, como o fumo. 


Nos Estados Unidos e em outros lugares, essa experimentação geralmente assume a forma de comportamentos considerados desviantes ou arriscados. O uso de tabaco entre os adolescentes éum desses comportamentos de risco. Uma estata­stica do Departamento de Saúde e Servia§os Humanos dos EUA de 2014 observou que a maioria dos fumantes comea§a o ha¡bito durante a adolescaªncia. E édurante esses anos que esse ha¡bito normalmente se une a um va­cio.

No entanto, as razões pelas quais muitos adolescentes comea§am a fumar são pouco compreendidas. Os cientistas sociais atribua­ram diversas vezes o tabagismo entre adolescentes a vários fatores, incluindo, entre eles, a predisposição genanãtica e a influaªncia de colegas. As evidaªncias sugerem que em algumas pessoas a propensão a fumar - e o va­cio em nicotina - podem ser parcialmente governadas por genes. Ao mesmo tempo, sabe-se que o tabagismo aumenta o risco de adotar o ha¡bito.

Mas poucos pesquisadores tentaram combinar essas duas explicações em uma hipa³tese coerente.

Atéagora.

"a‰ interessante pensar em como as forças sociais e as forças genanãticas, que geralmente consideramos duas coisas separadas, podem se unir", disse Ramina Sotoudeh, estudante de sociologia em Princeton e primeira autora de um artigo publicado recentemente na revista. Anais da Academia Natural de Ciências, que investiga a interação da genanãtica e do ambiente social no fumo de adolescentes.

Sotoudeh e seus colegas sugerem que a decisão de fumar de um adolescente éinfluenciada pela composição genanãtica de seus pares - especialmente se esses pares tiverem uma predisposição genanãtica para fumar.

"Muitos pesquisadores estãocomea§ando a ver como os genes de outras pessoas podem nos afetar", acrescentou Sotoudeh. “Os genes fazem parte do nosso ambiente social, não são duas coisas distintas. Os genes de outros são um aspecto importante do ambiente social. ”

a‰ sabido que o material genanãtico - na forma de DNA - épassado dos pais para os filhos e que certos genes dominantes podem desempenhar um papel na expressão de uma caracterí­stica especa­fica, como a cor dos olhos. Sabe-se também que uma mistura de vários genes pode predispor as pessoas a certos comportamentos.

Mas também háevidaªncias de estudos recentes de que os genes não transmitidos pelos pais - genes que não são transmitidos - podem afetar seus filhos.

"Os genes de seus pais o afetam em termos de educação e saúde", disse Dalton Conley , professor de sociologia da Universidade Henry Putnam em Princeton e autor saªnior do estudo. “Isso inclui não apenas os genes que eles lhe deram quando o conceberam, mas também os genes que eles não transmitiram. Isso acaba afetando vocaª, porque afeta o comportamento deles e, portanto, afeta a maneira como vocêse sai. ”

Talvez ainda mais surpreendente, háevidaªncias crescentes sugerindo que o comportamento de um indiva­duo pode ser influenciado pelos genes de um indiva­duo não relacionado - como um colega ou amigo.

Estudos realizados em certos animais - como ratos - demonstraram evidaªncias de que os genes de um mouse não relacionado podem influenciar o comportamento de outro mouse quando os dois são mantidos juntos, quando são "companheiros de gaiola". Na linguagem da biologia, esse éum insta¢ncia do gena³tipo (a composição genanãtica) de um indiva­duo que influencia o fena³tipo (as caracteri­sticas físicas) de um indiva­duo não relacionado.

Esse conceito costuma ser chamado de "efeito genanãtico social" ou "efeito genanãtico indireto", disse Sotoudeh. No entanto, ela e seus colegas usam o termo metagena´mica, uma palavra emprestada da microbiologia, para explicar esse fena´meno. Em microbiologia, denota todo o material genanãtico de muitos organismos individuais presentes em uma amostra ambiental.

"No nosso caso, a metagena´mica se refere a  'paisagem' ou 'ecologia' dos genes de outras pessoas ao nosso redor", disse Sotoudeh. "a‰ a 'paisagem' gena´mica do seu ambiente social."

Para investigar os efeitos metagena´micos do tabagismo, os pesquisadores usaram dados do Estudo Longitudinal Nacional de Saúde do Adolescente a  Saúde do Adulto. Este éum estudo de a¢mbito nacional, iniciado em 1994-95, que amostrou estudantes de 132 escolas de ensino manãdio e manãdio nos Estados Unidos. Recolheu dados sobre a saúde, comportamento e genanãtica dos alunos.

Sotoudeh e seus colegas mediram a propensão genanãtica de um estudante a fumar com base no que échamado de pontuação poligaªnica. Essa medida inclui a contribuição de todas as variantes genanãticas identificadas como contribuindo para um fena³tipo especa­fico - neste caso, uma propensão a fumar.

Os pesquisadores usaram essas pontuações poligaªnicas para explorar a relação entre o comportamento de fumar de um indiva­duo e a propensão genanãtica de seus pares a fumar. A descoberta mais significativa, consideraram os pesquisadores, foi nonívelda sanãrie, que foi considerada uma distribuição quase aleata³ria, porque os estudantes não escolheram seus colegas - eles foram, em essaªncia, "jogados juntos" em virtude da idade. As pontuações poligaªnicas para cada pessoa na nota foram calculadas e convertidas em uma pontuação média que representava cada nota em particular. Cada indiva­duo nessa sanãrie foi então avaliado com referaªncia ao escore poligaªnico manãdio para a sanãrie a que pertencia. Os pesquisadores então fizeram a pergunta: "Se vocêestãoem uma sanãrie com uma pontuação poligaªnica média alta, também tem mais chances de fumar?"

Eles descobriram que esse era realmente o caso; o comportamento de fumar de um indiva­duo foi influenciado pelo fato de o grupo de pares de indivíduos ser geneticamente predisposto ao fumo. Em termos mais simples, émais prova¡vel que um indiva­duo fume quando a composição genanãtica de seus pares - o ambiente metagena´mico do indiva­duo - predispaµe ao fumo. Surpreendentemente, esse resultado se mostrou um preditor ainda mais forte do comportamento de fumar do que a composição genanãtica de um indiva­duo.

Eles descobriram ainda que uma minoria de estudantes com alto risco genanãtico de fumar - o que os pesquisadores chamavam de “maçãs podres” - desempenham um papel particularmente desproporcional no aumento da probabilidade de os fumantes ao seu redor. No entanto, os estudantes com um risco genanãtico muito baixo de fumar não tiveram um efeito protetor em seus pares.

Eles acreditam que esse éprovavelmente o resultado da visibilidade do tabagismo em comparação com outras atividades que não possuem um componente visível e ativo. "a‰ difa­cil se espalhar por não fazer algo", disse Conley. "a‰ mais fa¡cil se espalhar fazendo alguma coisa."

Estudos metagena´micos como esse estãolana§ando uma nova luz sobre o antigo debate sobre natureza versus criação. Eles estãodemonstrando que os genes e o meio ambiente estãoconstantemente envolvidos em uma interação complexa que geralmente émediada por nosso ambiente social - por nossa fama­lia, nossos amigos e colegas. Consequentemente, não háuma distinção clara entre os efeitos dos genes, por um lado, e do meio ambiente, por outro.

"Nosso estudo éoutro importante 'tijolo fora da parede' entre a natureza e a criação", disse Conley. "A noção de natureza versus criação como dois efeitos ou forças distintas agindo sobre nosestãorealmente desmoronando."

Na prática , os pesquisadores acreditam que os resultados deste estudo podem ajudar a orientar as políticas públicas. Os programas de prevenção destinados a conter o tabagismo adolescente podem se beneficiar dos insights destacados pelo artigo - especialmente a influaªncia dos colegas no comportamento de fumar de um indiva­duo.

 

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