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HIV: esmagando o inimigo desde o ina­cio
O virologista da Universitéde Montranãal, a‰ric Cohen, e sua equipe do Instituto de Pesquisa Cla­nica de Montreal identificaram uma maneira de impedir a infeca§a£o pelo HIV nos esta¡gios iniciais.
Por Jeff Heinrich - 30/11/2019



1,7 milhões. a‰ assim que muitas pessoas são infectadas com o va­rus da imunodeficiência humana (HIV) a cada ano em todo o mundo - 1,7 milha£o de pessoas condenadas a  terapia antirretroviral (ART) ao longo da vida ou que correm o risco de desenvolver AIDS fatal. Dos 37,9 milhões de pessoas vivendo com HIV (PVHS), 22,3 milhões tem acesso a  TARV, o que lhes permite ter uma vida útil quase normal. Infelizmente, os medicamentos são va£o tão longe: eles não atingem as células onde o va­rus permanece adormecido por anos. E potenciais efeitos adversos a longo prazo desses medicamentos permanecem desconhecidos.

Ainda assim, a pesquisa sobre o HIV tem feito progressos constantes para ajudar o grande número de PVHS. Os laboratórios de HIV em todo o mundo estãotentando desvendar os “segredos” do va­rus e encontrar seus pontos fracos para prevenir ou curar a infecção. No Instituto de Pesquisa Cla­nica de Montreal (IRCM), os cientistas a‰ric A. Cohen e Tram NQ Pham recentemente identificaram uma maneira de impedir a infecção pelo HIV em seus esta¡gios iniciais. Sua descoberta éo assunto de um artigo na revista cienta­fica Cell Reports .


A janela da vulnerabilidade


"Ao contra¡rio da crena§a popular, o HIV não étão facilmente transmitido", diz a‰ric Cohen, diretor da Unidade de Pesquisa em Retrovirologia Humana no IRCM e professor de virologia no Departamento de Microbiologia, Doena§as Infecciosas e Imunologia da Universitéde Montranãal. “Estamos estudando a janela de vulnerabilidade do va­rus, ou seja, os momentos no processo de infecção em que ele pode ser enfraquecido ou atacado. Na³s nos concentramos nos esta¡gios iniciais após a invasão viral. ”

Uma vez transmitido, o HIV não se espalha imediatamente pelo corpo. Inicialmente, ele deve se multiplicar localmente, principalmente nos tecidos genitais. a‰ somente após essa expansão local inicial que o va­rus se espalha. Essa expansão localizada oferece uma janela muito breve de vulnerabilidade antes que o va­rus estabelea§a com eficiência uma infecção sistemica.

A resposta imune écomo uma luta armada: um inimigo se infiltra e o corpo se defende. Os va­rus são os intrusos, e os gla³bulos brancos são soldados tentando segurar o forte. Os gla³bulos brancos estãoequipados com suas próprias "unidades de infantaria": linfa³citos, faga³citos, granula³citos e outros. O grupo faga³cito possui uma unidade ainda mais especializada, conhecida como 'células dendra­ticas plasmocitoides' (PDCs). Essas pequenas células arredondadas patrulham o corpo, especializadas na detecção de patógenos e na orquestração de respostas antivirais. Em outras palavras, eles são os denunciantes, aqueles atravanãs dos quais todo o processo de defesa éacionado. Quando detectam uma ameaa§a, mudam de forma e desenvolvem protubera¢ncias chamadas dendritos. "Mais importante, eles comea§am a produzir grandes quantidades de interferon,

Como o pra³prio nome indica, o HIV tem como alvo preferencial o sistema imunológico: ataca e enfraquece as defesas do pra³prio corpo, e a pessoa infectada se torna susceta­vel a  menor infecção. Assim que chega, o HIV afasta os PDCs e impede que eles soem o alarme. "O va­rus não parece mata¡-los diretamente, mas os faz desaparecer de uma maneira que ainda não écompreendida", disse Pham, pesquisador associado saªnior da Unidade de Pesquisa em Retrovirologia Humana. "A perda de PDCs no local da infecção e em todo o corpo ajuda a estabelecer a infecção."  

Um modelo de mouse humanizado


"Dado o que o HIV faz com os PDCs, imaginamos o que aconteceria se aumenta¡ssemos os na­veis de PDC e sua função antes e durante a infecção", disse Cohen. Para testar isso, os cientistas usaram uma protea­na especial conhecida como ligante do receptor Flt3 para estimular a produção de PDCs a partir da medula a³ssea de camundongos humanizados. Esses roedores são projetados para ter um sistema imunológico humano no lugar das próprias ma¡quinas do mouse. Consequentemente, em um camundongo humanizado infectado, o HIV se comporta da mesma forma em um hospedeiro humano.

A administração desta protea­na especial manteve altos na­veis de PDCs nesses camundongos e produziu alguns resultados impressionantes: 1) o número inicial de camundongos infectados foi reduzido; 2) o tempo que levou para o va­rus ser detecta¡vel no sangue foi prolongado; e 3) a quantidade de va­rus no sangue, também conhecida como viremia, foi significativamente reduzida. "Observamos uma redução de até100 vezes na viremia", observou Pham. "Em outras palavras, a infecção inicial ésuprimida pela manutenção de um altonívelde PDCs".

Implicações para o design de uma vacina


Este trabalho seminal também mostrou que a injeção do ligante do receptor Flt3 não apenas aumentou a abunda¢ncia de PDC, mas também aumentou sua capacidade de detectar o va­rus e produzir interferon após sua detecção.

Obviamente, a infecção pelo HIV normalmente passa despercebida e, quando a viremia édetecta¡vel, éum pouco tarde demais. Nesse contexto, a descoberta de Cohen e Pham éaltamente importante em termos de prevenção e possí­vel cura.

"Essas novas descobertas sera£o cruciais no design de uma vacina contra o HIV, que visa basicamente ensinar o sistema imunológico a se defender, apresentando-o a uma forma enfraquecida do va­rus", disse Cohen. "Agora podemos nos concentrar nos PDCs para controlar a propagação e expansão do va­rus no esta¡gio inicial da infecção".

Sobre este estudo


" A expansão mediada por Flt3L de células dendra­ticas plasmocita³ides suprime a infecção pelo HIV em camundongos humanizados ", de Tram NQ Pham et al, foi publicada em 26 de novembro de 2019 na Cell Reports.

O estudo foi conduzido pelo Dr. Tram NQ Pham, Oussama Meziane, Mohammad Alam Miah, Olga Volodina e Franãdanãric Dallaire do Instituto de Pesquisa Cla­nica de Montreal (IRCM) sob a direção dos Drs. Cheolho Cheong e a‰ric Cohen. Eles trabalharam em estreita colaboração com ChloéColas, Dra. Kathie Banãland, Yuanyi Li e Dra. a‰lie Haddad, do Centro de Pesquisa do CHU-Ste Justine; Dr. Tibor Keler da Celldex Therapeutics em Hampton, Nova Jersey; O Dr. Jean V Guimond, do Centro de Servia§os e Servia§os Sociais Jeanne-Mance; e Dr. Sylvie Lesage, do Departamento de Imuno-oncologia do Hospital Maisonneuve-Rosemont.

O estudo foi financiado pela canadense HIV Cure Enterprise (CanCURE) dos Institutos Canadenses de Pesquisa em Saúde e pela Universitéde Montranãal-IRCM Chair of Excellence in HIV Research. O estudo também contou com as infra-estruturas da Rede de AIDS e Doena§as Infecciosas, que éapoiada pelo Fundo de Pesquisa do Quebec - Santanã.

Leia mais sobre o trabalho de a‰ric Cohen.

Sobre o IRCM

Fundado em 1967, o Instituto de Pesquisa Cla­nica de Montreal (IRCM) / Montreal Clinical Research Institute éuma organização sem fins lucrativos que realiza pesquisas biomédicas fundamentais e cla­nicas, além de treinar jovens cientistas de alto na­vel. Com suas instalações de tecnologia de ponta, o Instituto reaºne 33 equipes de pesquisa que trabalham em ca¢ncer, imunologia, neurociaªncia, doenças cardiovasculares e metaba³licas, biologia de sistemas e química medicinal. O IRCM também opera uma cla­nica de pesquisa especializada em hipertensão, colesterol, diabetes e fibrose ca­stica, além de um centro de pesquisa sobre doenças genanãticas e raras em adultos. O IRCM éafiliado a  Universitéde Montranãal e associado a  Universidade McGill. Sua cla­nica éafiliada ao Centro Hospitalar da Universidade de Montreal (CHUM).

 

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