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Destacamentos de geleiras: um novo perigo em um mundo em aquecimento?
Na noite de 5 de agosto de 2013, ocorreu um evento surpreendente no interior remoto do maior parque nacional dos Estados Unidos.
Por Sociedade Geológica da América - 28/04/2020


Vista para a zona de desprendimento: a geleira Flat Creek costumava ocupar a calha
central visível na imagem. Em apenas alguns anos, o gelo circundante fluiu para o
Espaço anteriormente preenchido pela geleira, mascarando toda a extensão do dano
deixado pelos destacamentos. Wrangell-St. Elias National Park and Preserve.
Crédito: Myla¨ne Jacquemart.

Na noite de 5 de agosto de 2013, ocorreu um evento surpreendente no interior remoto do maior parque nacional dos Estados Unidos. Uma la­ngua de meio quila´metro de comprimento da geleira do Alasca Flat Creek se interrompeu repentinamente, desencadeando uma torrente de gelo e rocha que corria 11 quila´metros por um vale de montanha acidentada no deserto cercado por Wrangell-St. Elias National Park and Preserve.

Depois que o gea³logo do Servia§o Nacional de Parques Michael Loso documentou um evento semelhante no mesmo local em 2015, ele recrutou Myla¨ne Jacquemart, Ph.D. estudante da Universidade do Colorado Boulder, para investigar. "Esta¡vamos cientes dos destacamentos de geleiras que haviam acontecido no Tibete, na Raºssia e na Argentina, mas comea§amos a pensar que esta¡vamos investigando um deslizamento de terra regular", diz Jacquemart. "Então percebemos que toda a geleira estava faltando".

Os resultados, publicados na Geology , indicam que os destacamentos do Alasca ocorreram no auge das estações de vera£o e sugerem que esses eventos altamente destrutivos podem ocorrer com mais frequência em um mundo em aquecimento.

Depois que o gea³logo do Servia§o Nacional de Parques Michael Loso conduziu uma pesquisa preliminar que descartou um gatilho sa­smico para esses eventos, ele, Jacquemart e outros especialistas começam um projeto de pesquisa para investigar o que havia acontecido em Flat Creek. A equipe usou uma variedade de ferramentas, incluindo imagens de satanãlite , medições de campo, modelos digitais de elevação e modelagem de águade fusão, para reunir a sequaªncia de eventos. "Este projeto foi um verdadeiro desafio de investigação", diz Jacquemart, "e as pea§as finalmente se encaixaram quando descobrimos a protubera¢ncia no glaciar Flat Creek".

Embora os pesquisadores estivessem cientes de que havia uma estranha protubera¢ncia de gelo na la­ngua da geleira antes do primeiro destacamento em 2013, não foi atéque eles obtiveram imagens de satanãlite de 10 anos de alta resolução e estimaram que a protubera¢ncia era impressionante. metros de altura que eles começam a entender suas implicações. "Nossos dados indicam que a parte mais baixa da la­ngua da geleira era muito fina, estagnada e firmemente congelada no leito da geleira", diz Jacquemart. "Acreditamos que essa la­ngua congelada fez duas coisas: bloqueou o fluxo de gelo da parte superior da geleira, forçando-a a inchar; e diminuiu a drenagem da águade derretimento, permitindo que a águase acumulasse sob a geleira". O aumento resultante na pressão da águasubglacial, ela diz, acabou causando a descolagem repentina da la­ngua da geleira,

As geleiras estãodesaparecendo principalmente como resultado do derretimento do gelo em um ritmo mais rápido, diz Jacquemart. "Mas as novas idanãias que obtemos de lugares como Flat Creek mostram que também precisamos considerar novos processos dos quais não ta­nhamos conhecimento anteriormente". Por fim, diz Jacquemart, os cientistas precisara£o desenvolver uma melhor compreensão desses novos processos e potencialmente reavaliar avaliações de riscos em comunidades montanhosas.

Matthias Leopold, Ethan Welty e Myla¨ne Jacquemart montam instrumentação geofa­sica
que pode detectar gelo nos depa³sitos dos destacamentos da geleira Flat Creek.
Wrangell-St. Elias National Park and Preserve. Crédito: Lia Lajoie.

"Felizmente, Flat Creek estãoem um lugar muito remoto", diz Jacquemart, "mas os destacamentos que ocorreram na Raºssia e no Tibete levaram inaºmeras vidas". Dado que os fluxos de massa produzidos pelos descolamentos de geleiras parecem viajar muito longe, ela diz, os planejadores de emergaªncia também precisam considerar possa­veis riscos em cascata, como o represamento tempora¡rio de um rio seguido pela liberação da a¡gua. "De repente, um evento remoto pode ter impactos de longo alcance a jusante", diz Jacquemart.

A semelhança dos destacamentos de geleiras no Alasca com os que ocorreram no Tibete sugerem que todos esses eventos compartilhavam uma causa comum. Outros destacamentos em outras partes do mundo também foram descobertos recentemente, diz Jacquemart, sugerindo que destacamentos em larga escala de geleiras podem ser exacerbados pelo aquecimento global. "Conclua­mos que a águade derretimento produzida por veraµes cada vez mais quentes tem o potencial de criar consequaªncias inesperadas na forma de perigos que não conheca­amos anteriormente", diz Jacquemart, "e que estamos apenas comea§ando a entender".

 

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