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Chifre do unica³rnio dos mares pode ter função sexual, sugere estudo
Pesquisa traz evidaªncias de que o narval, uma espanãcie de baleia dos mares do artico, utiliza o chifre para atrair faªmeas ou durante competia§a£o por parceiros
Por Marcelo Canquerino - 22/02/2021

 
A observação dos narvais émuito difa­cil pois raramente eles sobem para asuperfÍcie
da a¡gua. Por isso a importa¢ncia da coleta de dados osFoto: Zack Graham,
Universidade do Estado do Arizona

Apesar de anos de especulação, pouco se sabia a respeito da função do chifre dos narvais, uma espanãcie de baleia (Monodon monoceros) que vive nos mares frios do artico. Mas uma pesquisa desenvolvida por pesquisadores do Instituto de Biociências (IB) da USP, da Universidade do Estado do Arizona e no Greenland Institute of Natural Resources trouxe algumas evidaªncias sobre a utilidade desses chifres. Segundo o estudo, a estrutura pode ter sido selecionada sexualmente, servindo para os machos atraa­rem faªmeas ou durante a disputa por parceiros. 

As estruturas selecionadas sexualmente nada mais são do que aquelas que tera£o uma função muito grande durante a reprodução, mas que não foram, obrigatoriamente, selecionadas atravanãs da seleção natural. “Sa£o caracteri­sticas que não necessariamente tem va­nculo com a sobrevivaªncia do indiva­duo, mas apresentam ligação forte com aumentar o sucesso reprodutivo de um animal”, detalha o bia³logo e pa³s-doutor em Ecologia pela USP, Alexandre Palaoro, que participou do estudo.

Muitos pesquisadores discutem a função do chifre do narval, como éconhecido — isso porque o chifre, na verdade, éum dente que cresce de maneira exagerada pelo lado superior do animal. Apesar dos debates, nunca houve uma explicação concreta sobre a utilidade da estrutura. “Existem várias hipa³teses como, por exemplo, o dente ser usado para sentir o pH e a temperatura da a¡gua, em confrontos ou para sinalização entre indivíduos da mesma espanãcie”, conta Palaoro. 

Foram estas incertezas e lacunas que impulsionaram os cientistas a investigarem mais a fundo a função do dente dos narvais. Como eles são animais difa­ceis de serem observados na natureza por passarem muito tempo em mergulhos profundos, os pesquisadores utilizaram uma base de dados para obter informações: tamanho do narval, do dente, da cauda e o sexo foram essenciais. O banco, gerado por meio da coleta de dados ao longo de mais de 30 anos, foi fornecido pelos pesquisadores da Groenla¢ndia, que também participaram do estudo.

Tamanho do corpo versus tamanho do dente

A comparação de dados sobre os narvais machos mostrou que o dente éuma estrutura que cresce desproporcionalmente em relação ao corpo, ou seja, a  medida que os animais aumentam de tamanho, o dente aumenta mais. Além disso, a variação do dente também foi mais alta em comparação com outras estruturas, como o caso da cauda que, conhecidamente, éusada para sobrevivaªncia. Segundo Palaoro, esses são indicativos de que a estrutura foi selecionada sexualmente, porque háum investimento maior de energia para que o dente cresa§a, mas não éuma prova suficiente. 

Então, os pesquisadores analisaram a variação do tamanho do dente entre machos do mesmo tamanho. Essa variação éalgo previsto na teoria para estruturas selecionadas sexualmente, pois assim os machos demonstram que são maiores. “Para um determinado tamanho de corpo nosvimos que essa estrutura variava muito. Em vez de todos os indivíduos crescerem uma mesma unidade do dente, alguns cresciam muito mais e outros menos”, explica Palaoro. 
 
Outro sinal forte que pode significar que os narvais usam o dente durante a reprodução são suas propriedades materiais. A estrutura, além de ser muito grande, não étão ra­gida. “Se for aplicada uma força reta no dente ele quebra muito fa¡cil. E se o narval bater com ele reto em outro narval, quebrara¡ muito facilmente. Isso, por exemplo, são evidaªncias de que os navais não usam os dentes para brigar”, detalha o pesquisador. 

Com base no levantamento destas evidaªncias, os cientistas demonstraram que o chifre do “unica³rnio dos mares” pode estar sendo usado para a reprodução. Provavelmente, durante competições entre machos ou durante a seleção das faªmeas. O tamanho da estrutura pode sinalizar para os competidores “sou maior do que vocaªâ€ ou as faªmeas podem preferir narvais com os chifres maiores. 

O estudo The longer the better: evidence that narwhal tusks are sexually selected foi publicado na revista cienta­fica Biology Letters em mara§o de 2020. 

 

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