Mudar somente a forma, de presencial para digital, érelativamente fa¡cil. O que necessitamos éa mudança de postura, de paradigma. Temos a oportunidade de avanços, de facilitar o processo de ensino e aprendizagem e de evoluirmos.
Domanio paºblico
A pandemia da covid-19 trouxemudanças para atividades corriqueiras. Sair de casa passou a requerer extensa concentração antes, durante e depois. Ma¡scara, higiene e limpeza viraram obsessão. Intensificaram-se os servia§os realizados sob mediação tecnologiica, e o comanãrcio digital ampliou as vendas enormemente. As atividades de lazer também migraram para lives. A saúde passou a ocupar o centro das atenções, incluindo o equilabrio mental, imprescindavel sobretudo na situação de isolamento social. Em suma, a curva ascendente da infecção impa´s rápidas alterações sociais, econa´micas, políticas e culturais.
As escolas naturalmente não puderam manter-se inca³lumes a esses impactos. Para a proteção individual e coletiva, os encontros presenciais foram interrompidos e as atividades passaram a ser oferecidas de forma remota. As prática s laborais dos professores foram afetadas irreversivelmente pela pandemia, e eles tiveram que adaptar o planejamento pedaga³gico para um contexto pouco familiar ou quase impratica¡vel pela maioria: o ambiente digital. Essa dificuldade fez surgirem grupos para facilitar a troca entre os mais experientes e os novatos em tecnologia. O trabalho intenso adentrou as fanãrias e ainda se mantanãm.
Passadas as dificuldades iniciais, previsaveis em qualquer novo aprendizado, muitos professores deram-se conta de que a tal tecnologia digital não mete medo. Os programas, os recursos digitais, os aplicativos, as extensaµes, as preferaªncias, os navegadores da internet são desenhados de forma que o usua¡rio se familiarize com eles conforme os utiliza, ou seja: os iniciantes vivenciaram a interface intuitiva dos sistemas digitais. Como disse um colega: “Agora eu sei que onde tem pontinhos juntos, eu clico e aparecem várias opçõesâ€. Bingo!!!
Com os cliques e a constatação de que, se bem utilizada, a tecnologia pode ajudar, a questãoque se impaµe éde ordem estrutural, mais substancial e consoante a vida contempora¢nea. Trata-se de o ensino formal sintonizar com as transformações do século XXI. Afinal, a maneira como a escola vai incorporar as novas formas de pensar e viver serádecisiva para a própria sobrevivaªncia da instituição, pois os conteaºdos não estãomais restritos aos muros dos estabelecimentos oficiais.
Acertar o passo com as alterações atuais implica combater a dissociação das disciplinas, que pouco dialogam entre si. O enfoque interdisciplinar ainda não se concretiza na maioria dos cursos. A adoção de um modelo interdisciplinar ou transdisciplinar, buscada desde final do século XIX, ainda perde para a fragmentação do saber.
Na urgência da sala de aula, ainda impera a hegemonia das aulas expositivas. Esse modelo, se transplantado para aulas on-line sancronas ou assancronas, resulta em uso restrito da tecnologia, que oferece recursos de interação para a participação efetiva do aluno.
Na³s, professores, podemos mudar essa realidade. O aluno precisa figurar no centro do processo, para que o cerne seja a aprendizagem. O protagonista deve ser o aluno. Uma maneira de favorecer esse protagonismo écriar atividades de pesquisa, estimulando também a autonomia. Atividades relacionadas a comunidade permitem a participação ativa em situações reais conectadas aos interesses do aprendiz. Essas prática s desenvolvem competaªncias por meio de interação e aprendizagem significativa.
O papel do professor mudou e não foi somente por conta da pandemia. Essa mudança intensificou-se com o acesso livre e irrestrito a informação. Então, o que éser professor hoje? Ser professor éagir como facilitador da aprendizagem, éassumir o papel de mentor, de orientador do processo, e incentivar o aluno a desenvolver sua própria capacidade de aprendizagem, de acordo com seus interesses e projetos pessoais.
No espectro do tradicionalismo, o critanãrio de avaliação caiu por terra. Como avaliar um aluno por meio de uma prova escrita neste cena¡rio digital? a‰ possível sim, mas em muitos casos éimpratica¡vel. Uma avaliação por projetos desenvolvidos, por exemplo, da¡ condições para o aluno se expressar e demonstrar as competaªncias e habilidades desenvolvidas, indo além do conteaºdo adquirido. O caminho ésem daºvida a diversidade no processo avaliativo, e não mais a limitação da prova tradicional, que normalmente explora a memorização de conceitos.
Atéa duração dos encontros alunos-professor merece ser repensada. Por que diferentes conteaºdos tem o mesmo tempo de aula? A dina¢mica no mundo digital édiferente das atividades presenciais e isso impaµe adequações para o ta³pico ministrado, a forma e o tempo que a abordagem requer.
O desafio éeducadores e gestores educacionais não perderem a oportunidade de fazermudanças significativas na educação, algumas das quais deveriam ter sido feitas no século XX (ou aténo XIX): interligar as disciplinas entre si e conecta¡-las a smudanças permanentes do século XXI, renovar os conteaºdos, priorizar metodologias ativas, aperfeia§oar competaªncias e habilidades dos educandos.
A busca por novos conhecimentos, comprovada na demanda crescente por cursos on-line, éextremamente favora¡vel aos profissionais da educação, mas épreciso reinventar e ter coragem de enfrentar as incertezas da transformação abrupta da experiência humana. Mudar somente a forma, de presencial para digital, érelativamente fa¡cil. O que necessitamos éa mudança de postura, de paradigma. Temos a oportunidade de avanços, de facilitar o processo de ensino e aprendizagem e de evoluirmos. Que saibamos aproveitar essa oportunidade!
*As opiniaµes expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva
do(s) autor(es), não refletindo necessariamente a posição institucional do
maisconhecer.com
Maria Helena da Na³brega
Professora da FFLCH/ USPÂ
Adriana Maria Proca³pio de Araujo
professora da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeira£o Preto