Opinião

Aprendizagem remota digital: desafio ou oportunidade?
Mudar somente a forma, de presencial para digital, érelativamente fa¡cil. O que necessitamos éa mudança de postura, de paradigma. Temos a oportunidade de avanços, de facilitar o processo de ensino e aprendizagem e de evoluirmos.
Por Maria Helena da Nóbrega, e Adriana Maria Procópio de Araujo - 18/08/2020


Doma­nio paºblico

A pandemia da covid-19 trouxemudanças para atividades corriqueiras. Sair de casa passou a requerer extensa concentração antes, durante e depois. Ma¡scara, higiene e limpeza viraram obsessão. Intensificaram-se os servia§os realizados sob mediação tecnologiica, e o comanãrcio digital ampliou as vendas enormemente. As atividades de lazer também migraram para lives. A saúde passou a ocupar o centro das atenções, incluindo o equila­brio mental, imprescinda­vel sobretudo na situação de isolamento social. Em suma, a curva ascendente da infecção impa´s rápidas alterações sociais, econa´micas, políticas e culturais.

As escolas naturalmente não puderam manter-se inca³lumes a esses impactos. Para a proteção individual e coletiva, os encontros presenciais foram interrompidos e as atividades passaram a ser oferecidas de forma remota. As prática s laborais dos professores foram afetadas irreversivelmente pela pandemia, e eles tiveram que adaptar o planejamento pedaga³gico para um contexto pouco familiar ou quase impratica¡vel pela maioria: o ambiente digital. Essa dificuldade fez surgirem grupos para facilitar a troca entre os mais experientes e os novatos em tecnologia. O trabalho intenso adentrou as fanãrias e ainda se mantanãm.

Passadas as dificuldades iniciais, previsa­veis em qualquer novo aprendizado, muitos professores deram-se conta de que a tal tecnologia digital não mete medo. Os programas, os recursos digitais, os aplicativos, as extensaµes, as preferaªncias, os navegadores da internet são desenhados de forma que o usua¡rio se familiarize com eles conforme os utiliza, ou seja: os iniciantes vivenciaram a interface intuitiva dos sistemas digitais. Como disse um colega: “Agora eu sei que onde tem pontinhos juntos, eu clico e aparecem várias opções”. Bingo!!!

Com os cliques e a constatação de que, se bem utilizada, a tecnologia pode ajudar, a questãoque se impaµe éde ordem estrutural, mais substancial e consoante a vida contempora¢nea. Trata-se de o ensino formal sintonizar com as transformações do século XXI. Afinal, a maneira como a escola vai incorporar as novas formas de pensar e viver serádecisiva para a própria sobrevivaªncia da instituição, pois os conteaºdos não estãomais restritos aos muros dos estabelecimentos oficiais.

Acertar o passo com as alterações atuais implica combater a dissociação das disciplinas, que pouco dialogam entre si. O enfoque interdisciplinar ainda não se concretiza na maioria dos cursos. A adoção de um modelo interdisciplinar ou transdisciplinar, buscada desde final do século XIX, ainda perde para a fragmentação do saber.

Na urgência da sala de aula, ainda impera a hegemonia das aulas expositivas. Esse modelo, se transplantado para aulas on-line sa­ncronas ou assa­ncronas, resulta em uso restrito da tecnologia, que oferece recursos de interação para a participação efetiva do aluno.

Na³s, professores, podemos mudar essa realidade. O aluno precisa figurar no centro do processo, para que o cerne seja a aprendizagem. O protagonista deve ser o aluno. Uma maneira de favorecer esse protagonismo écriar atividades de pesquisa, estimulando também a autonomia. Atividades relacionadas a  comunidade permitem a participação ativa em situações reais conectadas aos interesses do aprendiz. Essas prática s desenvolvem competaªncias por meio de interação e aprendizagem significativa.

O papel do professor mudou e não foi somente por conta da pandemia. Essa mudança intensificou-se com o acesso livre e irrestrito a  informação. Então, o que éser professor hoje? Ser professor éagir como facilitador da aprendizagem, éassumir o papel de mentor, de orientador do processo, e incentivar o aluno a desenvolver sua própria capacidade de aprendizagem, de acordo com seus interesses e projetos pessoais.

No espectro do tradicionalismo, o critanãrio de avaliação caiu por terra. Como avaliar um aluno por meio de uma prova escrita neste cena¡rio digital? a‰ possí­vel sim, mas em muitos casos éimpratica¡vel. Uma avaliação por projetos desenvolvidos, por exemplo, da¡ condições para o aluno se expressar e demonstrar as competaªncias e habilidades desenvolvidas, indo além do conteaºdo adquirido. O caminho ésem daºvida a diversidade no processo avaliativo, e não mais a limitação da prova tradicional, que normalmente explora a memorização de conceitos.

Atéa duração dos encontros alunos-professor merece ser repensada. Por que diferentes conteaºdos tem o mesmo tempo de aula? A dina¢mica no mundo digital édiferente das atividades presenciais e isso impaµe adequações para o ta³pico ministrado, a forma e o tempo que a abordagem requer.

O desafio éeducadores e gestores educacionais não perderem a oportunidade de fazermudanças significativas na educação, algumas das quais deveriam ter sido feitas no século XX (ou aténo XIX): interligar as disciplinas entre si e conecta¡-las a smudanças permanentes do século XXI, renovar os conteaºdos, priorizar metodologias ativas, aperfeia§oar competaªncias e habilidades dos educandos.

A busca por novos conhecimentos, comprovada na demanda crescente por cursos on-line, éextremamente favora¡vel aos profissionais da educação, mas épreciso reinventar e ter coragem de enfrentar as incertezas da transformação abrupta da experiência humana. Mudar somente a forma, de presencial para digital, érelativamente fa¡cil. O que necessitamos éa mudança de postura, de paradigma. Temos a oportunidade de avanços, de facilitar o processo de ensino e aprendizagem e de evoluirmos. Que saibamos aproveitar essa oportunidade!

*As opiniaµes expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do(s) autor(es), não refletindo necessariamente a posição institucional do maisconhecer.com


Maria Helena da Na³brega
Professora da FFLCH/ USP 

Adriana Maria Proca³pio de Araujo
professora da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeira£o Preto

 

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