Opinião

Aniversa¡rio de Cora Coralina éfesta da arte
A obra de Cora Coralina, que são obteve grande reconhecimento paºblico quando já era idosa, principalmente graças aos elogios de Carlos Drummond de Andrade, em 1980
Por Oscar D’Ambrosio - 29/08/2020


Reprodução
 
A nossa vida éuma junção de retalhos para a qual atribua­mos um sentido. Esse tipo de reflexa£o costuma ser muito ligada ao poema “Sou feita de retalhos”, atribua­do muitas vezes por equa­voco a Cora Coralina (1889-1985), cujo aniversa¡rio de nascimento édia 20/8. A autoria, poranãm, éde Cris Pizziment, por ela publicado no seu Facebook, em 2013.

Na obra da artista visual Rosa¢ngela Politano, de Socorro (SP), evidencia-se o trabalho da arte de costurar retalhos com a mais importante, que éa de encontrar-se nos outros pedaço s para compor o pra³prio tapete da existaªncia. Torna-se assim essencial nessa caminhada entender a humildade de cada passo a ser dado.

Obra da artista visual Rosa¢ngela Politano, de Socorro(SP) osFoto: Reprodução
Vale a pena conhecer o poema atribua­do erroneamente a Cora Coralina:

“Sou feita de retalhos.
Pedacinhos coloridos de cada vida que passa pela minha e que vou costurando na alma.
Nem sempre bonitos, nem sempre felizes, mas me acrescentam e me fazem ser quem eu sou.
Em cada encontro, em cada contato, vou ficando maior…
Em cada retalho, uma vida, uma lição, um carinho, uma saudade…
Que me tornam mais pessoa, mais humana, mais completa.
E penso que éassim mesmo que a vida se faz: de pedaço s de outras gentes que va£o se tornando parte da gente também.
E a melhor parte éque nunca estaremos prontos, finalizados…
Havera¡ sempre um retalho novo para adicionar a  alma.
Portanto, obrigada a cada um de vocaªs, que fazem parte da minha vida e que me permitem engrandecer minha história com os retalhos deixados em mim. Que eu também possa deixar pedacinhos de mim pelos caminhos e que eles possam ser parte das suas histórias.
E que assim, de retalho em retalho, possamos nos tornar, um dia, um imenso bordado de ‘nós’”.

A obra de Cora Coralina, que são obteve grande reconhecimento paºblico quando já era idosa, principalmente graças aos elogios de Carlos Drummond de Andrade, em 1980, dialoga com o poema de Cris e com a tela de Rosangela no sentido de entenderem a arte como uma expressão da vida que se realiza pela troca de experiências.

Os poemas de Cora Coralina tratam de questões essenciais, como o trabalho:

“Minhas ma£os doceiras
Jamais ociosas
Fecundas. Imensas e ocupadas
Ma£os laboriosas
Abertas sempre para dar
ajudar, unir e abena§oar.”

Ela ainda fala de uma vacina para combater os “erros e a violência”:

“Tempo vira¡.
Uma vacina preventiva de erros e violência se fara¡.
As prisaµes se transformação em escolas e oficinas.
E os homens, imunizados contra o crime,
cidada£os de um novo mundo,
contara£o a s criana§as do futuro, esta³rias absurdas de prisaµes, celas, altos muros, de um tempo superado.”

E valoriza a linguagem popular, que muitos insistem em considerar errada:

“A linguagem errada dos humildes tem para mim um gosto de terra
e cha£o molhado e lenha partida.
Jamais procurei corrigi-los como jamais tolerei o bem falante, exibido.”

Chamada pelo poeta mineiro de “Diamante Goiano”, Cora, na colcha de retalhos pintada por Rosangela Politano, estãocolocada ao lado de Cris, mostrando que todas integram a mesma festa da arte, uma densa e bela caminhada existencial em que se busca, pela soma e composição de fragmentos, ordenar internamente a aparente desordem universal.

Nesse sentido, o poema “Assim eu vejo a vida” traz uma sa­ntese do legado existencial da poeta goiana:

“A vida tem duas faces:
Positiva e negativa
O passado foi duro
mas deixou o seu legado
Saber viver éa grande sabedoria
Que eu possa dignificar
Minha condição de mulher,
Aceitar suas limitações
E me fazer pedra de segurança
dos valores que va£o desmoronando.
Nasci em tempos rudes
Aceitei contradições
lutas e pedras
como lições de vida
e delas me sirvo
Aprendi a viver.”

Oscar D’Ambrosio
Jornalista pela ECA/USP e gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Manãdicas da Santa Casa de Sa£o Paulo

 

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