Esperamos que os setores polaticos tenham aprendido algo com essa pandemia e que sejam no futuro representados por pessoas com esses valores, e que nos fazm ter orgulho deles também.
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AÂ pandemia que estamos enfrentando trouxe consequaªncias destrutivas, sentidas em toda a sociedade. Sofrimento fasico, psicola³gico e material estãomarcando nossas vidas, com feridas e sequelas profundas, que persistira£o por muito tempo. Essa enorme agressão estãodeixando lições para nós? Fila³sofos, e religiosos, de forma pragma¡tica, comentam que o sofrimento abre portas dida¡ticas para o ser humano, despertando a visão sobre erros e estimulando a criatividade para novas soluções. Na área de saúde, pública e privada, o que aprendemos com essa cata¡strofe? No setor paºblico, as universidades e o SUS deram uma demonstração do quanto eficientes podemos ser. As universidades, polatica e economicamente muito agredidas pelos dirigentes, mostraram resultados impressionantes, apesar da preca¡ria situação que se encontram. Ha¡ razões para isso, e a maior delas éo fator humano, que se mostrou determinado, superando todas as expectativas. Se políticas de saúde realistas, baseadas em ciaªncia, tivessem sido implementadas pelas autoridades, teraamos tido resultados mais convincentes. Boa parte do pessoal que atuou na linha de frente foi graduada em universidades públicas, tendo conhecimento profundo da situação de nosso povo. Soube enfrentar a cata¡strofe de forma equilibrada, dentro das possibilidades disponaveis. Nãose renderam, ficando expostos a s consequaªncias. Os hospitais universita¡rios, os que mais sofreram, tiveram que se reinventar, para se adaptarem a nova realidade. Nãoforam raras as vezes que, com semblante de esgotamento, os reitores das estaduais se manifestaram na imprensa requisitando e recebendo ajuda de setores privados. As administrações ficaram sobrecarregadas pelos problemas que surgiam, e surgem diariamente. Nesse ponto, em nosso meio, éque o valor humano se destacou. Quando os escalaµes de segundo plano foram solicitados, sem que tenham tido cursos de administração, deram aulas de competaªncia e criatividade. Foram educados para ensinar, atender, e fazer ciaªncia, com responsabilidades administrativas limitadas. Se modernizaram, mostrando sua excelaªncia. Isto demonstra a importa¢ncia de um corpo administrativo profissional, junto aos recursos humanos de saúde, que tem outras obrigações. Empresas com corpos administrativos insuficientes tendem ao fracasso. As ranãdeas devem estar nas ma£os de profissionais qualificados para essas finalidades, em tempo integral, aconselhando e construindo soluções.
Este éum aspecto cultural antigo em hospitais universita¡rios. O acaºmulo de atividades acadaªmicas consome quase todo o tempo disponavel. Sera¡ que, com estrutura administrativa mais poderosa, os resultados teriam sido melhores? Outro ponto a se destacar foi a forma como as ciências de saúde enfrentaram o problema. Projetos cientaficos de qualidade internacional foram elaborados por pesquisadores, produzindo excelentes resultados. Sa£o cabea§as que teriam sucesso em qualquer centro universita¡rio do mundo. Estão eles sendo valorizados? Os setores polaticos entendem o progresso que isso nos traz? Eles compreenderam o valor dessas pessoas? Esse pessoal tem muito a aprender com a saúde de nossopaís, como já comentamos recentemente no artigo “A saúde como exemploâ€, na Folha de S. Paulo. As academias são barreiras na pretensa polatica de destruição das universidades e hospitais paºblicos. Sa£o reconhecidos internacionalmente.
Ha¡ falhas e imperfeições, mas, ao invanãs de apoiar, ajudar a evoluir, assumem atitudes destrutivas. A pergunta que deve ser feita équal ou quais seriam as intenções dessas orientações? Ideola³gicas? Materiais, representando grupos com outros interesses? Fica a impressão de que, nos bastidores, o caminho para enfraquecer as academias e saúde públicas estãosendo devidamente pavimentado. Negar valor e desqualificar, com intenções destrutivas, revela profunda ignora¢ncia, ou desonestidade intelectual. O sentimento de desolação énatido em nossos corredores.
Outro setor a se destacar éo SUS. a‰ um sistema de saúde muito bem elaborado para o atendimento de toda a população. Foi introduzido sem base administrativa adequada na ocasia£o. Gerencia¡-lo foi, e anã, um desafio. A falta de recursos e a burocratização não impediram que os bons resultados surgissem, e se mostrou indispensa¡vel. a‰ evidente que esse sistema deve ser aprimorado, precisando, para isso, vontade polatica, com pessoas preparadas. Sua importa¢ncia, para a saúde no Paas, éindiscutavel. Muitos estãomigrando de planos suplementares, aumentando mais a sua responsabilidade. O que teria ocorrido se o SUS não tivesse atuado como atuou?
Importante enaltecer a rede privada hospitalar, abrindo portas, quando a pública estava prestes a se esgotar. Essa associação foi um sinal de maturidade e responsabilidade, colocando recursos a disposição, recebendo elogios de todos. Lembramos que boa parte de seus profissionais foi formada na rede pública.
Para concluir, essa pandemia evidenciou o que temos de melhor, ou seja, recursos humanos altamente qualificados, que souberam reagir a altura em um momento muito difacil. Esperamos que os setores polaticos tenham aprendido algo com essa pandemia e que sejam no futuro representados por pessoas com esses valores, e que nos fazm ter orgulho deles também.
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Charles Mady
Professor associado do Instituto do Coração (Incor) e da Faculdade de Medicina da USP