Opinião

Brasil comea§a 2021 como Paa­s de segunda classe
No momento em que precisamos criar empregos para, na medida do possí­vel, retomar a economia, a Ford dispensara¡ 5 mil funciona¡rios, exatamente o contra¡rio do desejável.
Por Luiz Roberto Serrano - 11/01/2021


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O anaºncio, feito por Jim Farley, presidente e CEO da Ford, de que a empresa encerrara¡ a sua produção de vea­culos no Brasil, depois de um século de atividades, émais um sinal de que entramos em 2021 como um Paa­s de segunda classe. No momento em que precisamos criar empregos para, na medida do possí­vel, retomar a economia, a Ford dispensara¡ 5 mil funciona¡rios, exatamente o contra¡rio do desejável.

Já conviva­amos com a triste constatação de que enquanto dezenas de nações vacinam suas populações para se livrar dos males da pandemia que vitimiza seus cidada£os, o presidente Jair Bolsonaro, nosso dirigente ma¡ximo, declarou recentemente: “Nãoligo para isso”. E a novela da aprovação das vacinas pela Anvisa estende-se além do razoa¡vel.

O anaºncio da Ford, além de ma¡ nota­cia, émais um freio que se junta aos entraves com que o Paa­s já se deparava antes da explosão da pandemia e seus efeitos nefastos

Em função de um governo desnorteado diante do desequila­brio fiscal que o imobiliza, e ainda envolvido por discussaµes entre um estatismo envergonhado e um liberalismo extempora¢neo, tocado por um presidente que são pensa em reeleição, o Brasil, são acumula ma¡s nota­cias, que agravam a falta de horizonte para o seu desenvolvimento econa´mico e social.

Esse quadro torna-se ainda mais desalentador diante da complexidade cada vez maior com que se desenha o panorama mundial, no qual nos inserimos e temos que nos relacionar para respirar como Nação. O Brasil tem potencial para ser um ator com roteiro pra³prio num cena¡rio mundial em que pode construir relações maºltiplas vantajosas com inúmeros parceiros. Mas, pelo contra¡rio, caminha para desempenhar o papel de “pa¡ria” no concerto das nações.

Neste horizonte de desesperana§a, ganha espaço nas áreas laºcidas e pensantes dopaís a convicção de que a panãssima distribuição de renda éo maior entrave para seu desenvolvimento econa´mico, para que escape do eterno status de nação de renda média, insuficiente para atender as demandas de parcela considera¡vel de sua população de mais de 200 milhões de habitantes.

O debate sobre a superação do problema, no momento, prende-se demais a  construção de políticas compensata³rias, necessa¡rias nesta quadra de desarticulação social provocada pela pandemia, aºteis num prazo mais longo para atender populações que foram deixadas para trás pelo desenvolvimento capenga dopaís. Mas precisa, urgentemente, subir de patamar, encarar de frente a questãodo desenvolvimento da economia dopaís em todos os seus aspectos, nuances, varia¡veis, em sua articulação com o resto do mundo osiluminar o caminho que pode nos recolocar como sãocio atuante no concerto das nações.

Ter um agronega³cio de alta tecnologia que coloca o Brasil como potencial celeiro do mundo éreconfortante, mas não suficiente. Ser um competidor de primeira linha no mercado mundial de ferro e outros metais énota¡vel, mas também insuficiente.

Onde anda o fa´lego de nossa indaºstria, cuja importa¢ncia no PIB brasileiro, chegou a 25%, despenca ano a ano? E agora vaª a tradicional Ford, centena¡ria no Brasil, fechar suas opções por aqui, mas manter suas operações nos vizinhos Uruguai e Argentina?

Qual o futuro de nosso setor de servia§os, que já ocupa 70% do PIB, mas tirante alguns setores de ponta como o financeiro, ainda carece de bases institucionais que amparem seu desenvolvimento de um modo harma´nico e seguro, principalmente para os seus protagonistas?

Todos os fabricantes de automa³veis convivem com sanãrios desafios para se adaptar a um mercado mundial cada vez mais competitivo e com base tecnologiica em mutação. Recentemente, Fiat, Chrysler e Peugeot anunciaram uma fusão para atuar com mais eficiência no mercado mundial. A Ford estãono meio desse turbilha£o, se adaptando a esses novos tempos, correndo atrás de manter algum lugar no mercado. Nesse esfora§o, decidiu abandonar o Brasil. Triste, não?

As opiniaµes expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do(s) autor(es), não refletindo necessariamente a posição institucional do maisconhecer.com


Luiz Roberto Serrano
Jornalista e superintendente de Comunicação Social da USP

 

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