Bem-vinda economista Ngozi Okonjo-Iweala, e como sempre saiba que, justamente por ser mulher e negra, vocêvai ser triplamente cobrada!
 Economista Ngozi Okonjo-Iweala
Os jornais da última tera§a-feira, 16 de fevereiro 2021, noticiam com destaque que pela primeira vez uma mulher, a economista Ngozi Okonjo-Iweala, foi eleita para dirigir a Organização Mundial do Comanãrcio (OMC). A madia ressalta dois aspectos: foi escolhida para ocupar esse posto uma mulher e uma africana. A nigeriana Ngozi dirigira¡ a OMC que estava entravada pela polatica antimultilateral de Trump. Com a nova diretora, muda o panorama: ao assumir, Ngozi afirmou ao New York Times que sua prioridade vai ser recuperar a economia global destruada pela pandemia!
Para entender quem éNgozi fui atrás de seupaís de origem, a Niganãria, e cheguei ao documenta¡rio Sankofa. Com um certo pudor devo revelar que quem me abriu os olhos para Sankofa foi um jovem, da nova geração, profundamente ligado ao saber negro, a s raazes humanistas. Sankofa graficamente érepresentado por um pa¡ssaro com a cabea§a voltada para trás: simboliza a ancestralidade, o passado como base para construir o futuro. O fota³grafo Cesar Fraga e o professor de Hista³ria Africana Mauracio Barros de Castro viajaram por toda a áfrica Ocidental, especialmente Guiné(Cabo Verde, Guinanã-Bissau e Senegal), Mina (Gana, Togo, Benim e Niganãria) e Angola e chegaram atéMoa§ambique, locais de onde vieram para o Brasil 12 milhões de pessoas escravizadas. Atenção: milhões. Foram buscar o que eles dizem ser “a áfrica que habita em nósâ€. Esse documenta¡rio, que estãodisponavel na Netflix, étão interessante e revelador que deveria ser parte do curraculo de todas as escolas brasileiras.
A Universidade de Sa£o Paulo mais uma vez amplia os caminhos da ciência e do saber ao se somar ao documenta¡rio Sankofa com a Revista de Hista³ria da áfrica e de Estudos da Dia¡spora Africana, que recentemente publicou o número de 2020. Nele hártigos de autores da Unicamp, da PUC de Sa£o Paulo, da Universidade Federal Fluminense, Universidade Federal de Ouro Preto, Universidade de Vanderbilt (EUA), Universidade Federal de Alagoas, Universidade Federal de Sa£o Paulo, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Universitéde Yaoundé(Camaraµes), a‰cole Normale Supanãrieure (Camaraµes), Universidade Federal da Integração Latino-Americana, Universidade Federal do Rio Grande do Norte e Universidade Federal da Bahia. AÂ tema¡tica éampla e absolutamente inovadora. Segue a trilha de vários intelectuais negros como Abdias do Nascimento, o intelectual, artista, polatico, teatra³logo e primeiro senador negro, que muito aprofundou em sua obra o sentido do Sankofa.
Se éverdade que atualmente a literatura feminista discute a importante produção das mulheres negras norte-americanas, temos que nos somar aliando a crescente produção brasileira. Cito, por exemplo, o extraordina¡rio trabalho de Rogerio Pacheco Jorda£o, publicado no último número da revista Piauí e que tem como referaªncia o mercado de escravos do Valongo, no Rio de Janeiro. Rogerio compara o Valongo com satio semelhante em Bristol, na Inglaterra, e com New Orleans, nos Estados Unidos da Amanãrica do Norte. Certamente sabemos o que ocorreu em Bristol com a recente derrubada da esta¡tua do mercador de escravos, mas pouco acompanhamos a destruição do Valongo, satio que em qualquer lugar do mundo deveria ser obra consagrada, visitada, estudada, sobretudo resguardada!
Bem-vinda economista Ngozi Okonjo-Iweala, e como sempre saiba que, justamente por ser mulher e negra, vocêvai ser triplamente cobrada!Â
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Eva Alterman Blay
Professora Emanãrita da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP