Opinião

O que ébom para os EUA pode ser bom para o Brasil?
A macia§a presença dospaíses convidados, China e Raºssia, inclusive, demonstrou a  larga que a presença de seupaís éfundamental, indispensa¡vel e desejada pela comunidade global na discussão dos grandes desafios internacionais.
Por Luiz Roberto Serrano - 23/04/2021


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A análise das iniciativas tomadas por um novo governo nos primeiros 100 dias de mandato éuma tradição da pola­tica e da ma­dia estadunidenses. Funciona como um balana§o da dina¢mica apresentada pela administração in charge vis-a-vis suas promessas na campanha eleitoral. De certa forma, reforça ou mina as chances de sucesso da nova administração ao longo de seus quatro anos de mandato.

Na quinta-feira passada, a poucos dias de completar seus 100 dias de administração, o presidente Joe Biden colheu o resultado de sua iniciativa de convidar a comunidade mundial a participar da Caºpula do Clima, por ele organizada para marcar a rentranãe dos EUA nos debates sobre o combate ao aquecimento global e suas consequaªncias deletanãrias.

A macia§a presença dospaíses convidados, China e Raºssia, inclusive, demonstrou a  larga que a presença de seupaís éfundamental, indispensa¡vel e desejada pela comunidade global na discussão dos grandes desafios internacionais. Os erra¡ticos e destrutivos tempos da “Amanãrica First” de Trump foram festivamente enterrados.

Biden estara¡ bem na foto dos 100 dias de governo, pois propa´s medidas ousadas para tirar os EUA da crise.


Biden também apostou alto no front interno. Enviou para o Congresso leis, de clara inspiração no New Deal de Franklin Delano Roosevelt, que somam recursos no valor de US$ 3,5 bilhaµes com alvos variados, amplos e estratanãgicos, que objetivam, em resumo, desde combater e superar as cicatrizes provocadas pela pandemia, apoiar o desenvolvimento familiar e infantil, investir em recuperação da infraestrutura, em indaºstrias de fundo ambiental e, principalmente, em desenvolvimento cienta­fico, tecnola³gico e industrial. Ou seja, desde questões humanita¡rias, sociais e ambientais atédesafios para estimular a produção de semicondutores, chaves para o desenvolvimento tecnola³gico, campo em que a concorrente China estãoinvestindo pesadamente.

Biden, tudo indica, estara¡ bem na foto dos 100 dias, claro, não entre os pola­ticos republicanos. Podera¡ arrebanhar simpatias entre os 70 milhões de estadunidenses que votaram em Trump, pois muitos deles sera£o beneficiados. Seus projetos de leis tera£o trajeta³ria tranquila na Ca¢mara dos Deputados, onde os democratas tem margem folgada, mas no Senado a tramitação seráapertada.

Nessa casa, os partidos tem bancadas do mesmo tamanho, se os independentes forem somados aos democratas e a  presidente, que éa vice Kamala Harris, garante a maioria para o governo Biden. Mas háum ou dois senadores democratas que julgam que os projetos contrariam algumas de suas convicções. Convencaª-los étarefa para a habilidade pola­tica de Biden, aprimorada em suas décadas no Senado.

Os projetos de Biden precisam comea§ar a gerar resultados concretos a curto e manãdio prazos para que o Partido Democrata mantenha ou amplie a sua vantagem nas duas casas do Congresso, especialmente no Senado, onde éma­nima, nas eleições legislativas de 2022. Caso contra¡rio, a administração Biden patinara¡ na sua implementação. Registre-se que em estados onde os republicanos detanãm maiorias nas Assembleias Legislativas, prosperam propostas de leis para dificultar o exerca­cio do voto, que miram principalmente as populações negras e latinas, simpa¡ticas aos democratas.

O tempo dira¡ se a empreitada democrata serábem-sucedida em seu objetivo de reaquecer e reestruturar a economia estadunidense para manter-se como a maior e mais relevante do globo, enfrentando corpo a corpo a competição decidida e acirrada da China. E para superar os desequila­brios sociais que se infiltram lentamente na sociedade estadunidense.

a‰ recomenda¡vel observar o resultado das propostas econa´micas de Biden pois podem servir de modelo para o Brasil.


Os movimentos de Biden fazem lembrar uma frase marcante na história do Brasil disparada por Juracy Magalha£es, embaixador do nossopaís nos Estados Unidos, nomeado pelo governo militar de Castelo Branco em 1964. “O que ébom para os Estados Unidos ébom para o Brasil”, disparou o embaixador Magalha£es, criando uma enorme polaªmica por aqui. Na anãpoca, com os EUA patrocinando derrubadas de governos pela Amanãrica Latina, asfixiando Cuba via bloqueio econa´mico, a frase carregava um pesado simbolismo, principalmente aos que se opunham ao governo militar.

Os tempos mudam e o simbolismo das frases hista³ricas também pode mudar. A volta dos EUA aos braa§os do clube dos combatentes a smudanças climáticas fora§ou o governo Bolsonaro a uma cambalhota reta³rica na Caºpula do Clima, para não aumentar ainda mais seu isolamento em meio a  comunidade internacional. Se a cambalhota vai se tornar real éuma daºvida a ser bem cultivada, pois os antecedentes não apontam nessa direção.

A home do New York Times, na sexta-feira 23/4, mostrava a seguinte reportagem: “Bolsonaro’s Sudden Pledge to Protect the Amazon is Met With Skepticism“, algo como “discurso do presidente brasileiro na Caºpula érecebido com ceticismo”. De quebra, registro que a mesma home trazia uma segunda reportagem sobre o Brasil, fato raro, com o tí­tulo “Ravaged by Covid, Brazil Faces a Hunger Epidemic“, relatando que milhões de brasileiros estãoameaa§ados pela fome em função dos problemas gerados pela covid.

Indo além dos fatos da semana, na linha do que “ébom para os EUA ébom para o Brasil”, mas em tempos agora democra¡ticos, érecomenda¡vel também observar os resultados das legislações rooseveltianas propostas pelo presidente Joe Biden para tirar seupaís da crise.

Elas podem iluminar um caminho para tirar a economia brasileira do atual atoleiro em que as políticas liberais adotadas pelo Ministanãrio da Economia são fazem o Paa­s derrapar e andar de lado, quando não para trás.

*As opiniaµes expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do(s) autor(es), não refletindo necessariamente a posição institucional do maisconhecer.com

Luiz Roberto Serrano
Jornalista e superintendente de Comunicação Social da USP

 

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