Saúde

Estimulação elanãtrica cerebral reduz sintomas da esquizofrenia
Pacientes tiveram melhora permanente dos chamados sintomas negativos após o tratamento com corrente direta intracraniana, apresentando melhor conva­vio social e menos apatia
Por Júlio Bernardes - 10/11/2019

Foto: Marcos Santos/USP Imagens
Manãdico psiquiatra Leandro Valiengo: esquizofrenia apresenta sintomas negativos que representam perdas para o paciente, como apatia, não conseguir expressar emoções e socializar menos; medicamentos não tem eficácia comprovada, por isso a necessidade de experimentos com outras formas de tratamento 

Um tratamento com estimulação cerebral conseguiu reduzir os sintomas da esquizofrenia. O resultado foi obtido em um ensaio cla­nico com 100 pacientes, realizado em pesquisa do Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Cla­nicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP). Submetidos a dez sessaµes de estimulação elanãtrica, os pacientes tiveram melhora permanente dos sintomas seis semanas após o tratamento, apresentando menos apatia e melhorando o conva­vio social. A terapia tem potencial para tratar sintomas em que não hámedicação eficaz. Os resultados do estudo são descritos em artigo publicado no Journal of American Medicine Association Psichiatry, nos Estados Unidos.

O médico psiquiatra Leandro Valiengo, primeiro autor do artigo, explica que a esquizofrenia possui sintomas denominados positivos e negativos e o tratamento foi eficiente nos negativos. “Os sintomas positivos são aqueles que o paciente não tinha e acaba adquirindo, como alucinação, dela­rios, ouvir vozes, pensar estar sendo perseguido”, afirma. “Os sintomas negativos são aqueles que representam perdas para o paciente, tais como apatia, não conseguir expressar emoções, socializar menos. Todos eles o incapacitam e o fazem ficar isolado, deixando atéde trabalhar.”

Participaram da pesquisa 100 voluntários, pacientes com esquizofrenia, entre 18 e 55 anos, a maior parte homens. “Ao todo, foram realizadas dez sessaµes de estimulação de 20 minutos, duas por dia. Apa³s as sessaµes, os pacientes foram acompanhados por três meses”, conta o médico. “A avaliação era feita por meio de uma escala conhecida como PANS. A partir de questiona¡rios que verificam como estãoo afeto, as atividades e a socialização, éatribua­da uma pontuação que indica o estado do paciente”.


Estimulação


A técnica usada no estudo, conhecida como estimulação elanãtrica transcraniana por corrente conta­nua, éfeita por meio de eletrodos ligados a uma bateria, com um polo positivo (para estimulação cerebral) e um negativo, colocado na cabea§a do paciente. “A área estimulada por meio das correntes elanãtricas emitidas pela bateria éo cortex frontal esquerdo”, descreve Valiengo, “a qual estãoassociada ao aparecimento de sintomas negativos, já que ela funciona menos nos pacientes com a doena§a, por isso a necessidade de estimulação”.

A pesquisa verificou que os pacientes comea§avam a melhorar dos sintomas a partir da sexta semana após as sessaµes de tratamento. “Ao final dos três meses de acompanhamento, constatou-se que a melhora dos pacientes se mantinha”, ressalta o médico.

Existem poucos tratamentos para os sintomas negativos da esquizofrenia, aponta Valiengo. “A medicação, por exemplo, funciona com os sintomas positivos. Para os sintomas negativos, os medicamentos não tem eficácia comprovada”, destaca. De acordo com Valiengo, o estudo precisara¡ ser replicado para permitir a liberação cla­nica do tratamento, a cargo da Agência Nacional de Vigila¢ncia Sanita¡ria (Anvisa). “O tratamento épromissor, pois não háefeitos colaterais significativos. Na comparação com o grupo que não foi tratado, foi observada uma pequena vermelhida£o na área estimulada por cerca de cinco minutos após a estimulação, que não era notada pelos pra³prios pacientes.”

Os resultados do estudo são descritos no artigo Efficacy and safety of transcranial direct current stimulation for treating negative symptoms of schizofrenia, publicado na revista cienta­fica Journal of American Medicine Association Psichiatry em 16 de outubro. A análise estata­stica dos dados coletados no estudo teve a colaboração de um grupo de pesquisa da Universidade de Munique (Alemanha). As sessaµes de estimulação foram realizadas no IPq e no Instituto Bairral, em Itapira (interior de Sa£o Paulo).

 

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