Mais simples e barata que as disponíveis atualmente, técnica criada por cientistas da USP possibilitou também a análise da agressividade do tumor
De acordo com o Instituto Nacional de Ca¢ncer (Inca), no Brasil, o câncer de pra³stata éo segundo mais comum entre os homens. Em 2018, foram contabilizados 68.220 casos osFoto: Marcos Santos / USP Imagens
Um estudo produzido pelo Laborata³rio de Investigação Manãdica da Disciplina de Urologia (LIM 55) da Faculdade de Medicina (FM) da USP, em parceria com o Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, conseguiu identificar pacientes com câncer de pra³stata a partir do exame de amostras de urina. Além de permitir o diagnóstico de modo não invasivo, a técnica também possibilitou a análise da agressividade do tumor, fundamental para determinar o melhor tratamento.
Agora, o pra³ximo passo éa validação das descobertas. Os pesquisadores buscam financiamento para um novo projeto de pesquisa que tera¡ como objetivo comprovar se os resultados encontrados se repetem em uma população diferente da estudada atéentão.Â
Caso validadas, as descobertas podera£o contribuir como uma opção mais prática e barata de exame. Apesar de já existirem testes semelhantes disponíveis comercialmente, estes são mais complexos e protegidos por patente, o que resulta em alto custo e baixa disponibilidade. “Por isso, ébastante desejável que consigamos disponibilizar esse exame, validar e talvez disponibilizar na prática â€, afirma a professora Ka¡tia Leite, professora da FMUSP e chefe do LIM 55.
Atualmente, os dois principais modos de analisar a suspeita do câncer são o toque retal, que busca identificar uma zona de endurecimento na pra³stata relacionada a presença da doena§a, e o exame dos naveis de Antageno Prosta¡tico Especafico (PSA) no sangue. Apesar de menos invasivo, este último não elimina a necessidade da bia³psia, explica a professora.
“O PSA éum marcador interessante, pois éespecafico da pra³stata. Mas não éespecafico do câncer de pra³stata, pois também pode aumentar na hiperplasia prosta¡tica benigna e na prostatite, por exemploâ€, diz a professora, que também écoautora do estudo. “O que precisamos éde melhores indicadores para fazer uma bia³psia de maneira segura e em um número menor de pacientesâ€.
Marcadores genanãticos
O estudo começou em 2014, com um projeto do LIM 55 que tinha como objetivo a identificação de marcadores genanãticos para prognóstico e diagnóstico do câncer de pra³stata. A pesquisa foi feita com homens que já tinham suspeita de câncer e, por isso, tinham indicação de bia³psia para diagnóstico definitivo. Destes pacientes foi coletado um fragmento da bia³psia, para estudo molecular, e também uma amostra de urina, da qual foi possível sequenciar um painel de gene.
Foi então que o professor Giuseppe Palmisano, do ICB, se juntou a pesquisa. Ele propa´s que a partir da urina coletada fosse caracterizado um perfil de proteana, por meio da espectrometria de massa (técnica que mede a massa e a estrutura química das molanãculas). Como apontou o estudo, a urina pode conter elementos que reflitam os processos bioquímicos relacionados ao desenvolvimento de um tumor.Â
O estudo foi realizado com 12 pacientes, sendo seis com a doença e os outros com hiperplasia benigna. Os resultados indicaram que um painel de 56 glicoproteanas (tipo de proteana ligado a um carboidrato) nas amostras de urina alcana§ou uma precisão de 100% no diagnóstico do câncer de pra³stata.
Maior precisão
A pesquisa também mostrou que o exame via urina écapaz de indicar a existaªncia e agressividade do tumor com maior precisão do que o PSA sozinho. Como explica a professora Ka¡tia, o câncer de pra³stata éum dos tipos mais comuns entre os homens, mas em parte dos casos não apresenta ameaça grave a saúde. Alguns deles são caracterizados como “câncer indolenteâ€: pouco agressivos e sem necessidade de intervenção imediata.
“Hoje existe uma conduta chamada de active surveillance [vigila¢ncia ativa], na qual o paciente não étratado, e sim observado. Se o tumor muda de característica e fica com um padrãomaior de agressividade, aa sim éfeito o tratamento curativoâ€, diz. “No painel, conseguimos identificar um perfil de expressão de gene que caracterizava um tumor mais ou menos agressivo, ajudando nessa decisão de tratar ou observar.â€