Saúde

A perda do seu olfato e paladar éum sinal precoce de COVID-19 ?
O diretor do Centro de Cheiro e Sabor da Universidade da Fla³rida e o co-diretor do Programa de Distaºrbios do Cheiro da Saúde da UF respondem a perguntas sobre essa tendaªncia emergente.
Por Steven D. Munger e Jeb M. Justice - 27/03/2020



Manãdicos de todo o mundo estãorelatando casos de pacientes com COVID-19 que perderam o sentido do olfato, conhecido como anosmia, ou paladar, conhecido como ageusia. O diretor do Centro de Cheiro e Sabor da Universidade da Fla³rida e o co-diretor do Programa de Distaºrbios do Cheiro da Saúde da UF respondem a perguntas sobre essa tendaªncia emergente.

A perda do olfato éum sinal precoce do COVID-19?

A perda do olfato ocorre com o resfriado comum e outras infecções virais do nariz e da garganta. Relatos aneda³ticos sugerem que a perda do olfato pode ser um dos primeiros sintomas do COVID-19. Manãdicos em todo o mundo estãorelatando que até70% dos pacientes com resultado positivo para a doença de coronava­rus COVID-19 - mesmo aqueles sem febre, tosse ou outros sintomas ta­picos da doença - estãocom anosmia, perda de olfato ou ageusia, perda de paladar. Um novo estudopublicado recentemente descobriu que 20 dos 59 pacientes (entre 50 e 74 anos) entrevistados na Ita¡lia relataram uma perda de cheiro ou sabor. Sa£o necessa¡rias mais pesquisas para entender esse link, mas ele pode fornecer um indicador prático e de baixo custo do qual as pessoas devem se auto-isolar ou fazer novos testes, dependendo da gravidade dos sintomas e da disponibilidade dos testes.

O que são anosmia e ageusia?

Os sentidos químicos do corpo incluem o cheiro, usado para detectar odores vola¡teis e o sabor, que reconhece compostos alimentares como açúcares, sais e a¡cidos. Va¡rios distúrbios quimiossensoriais resultam na diminuição, distorção ou perda completa das funções do olfato ou do paladar. Por exemplo, anosmia éa completa perda ou ausaªncia de olfato, enquanto hiposmia éuma capacidade reduzida de cheirar. Da mesma forma, ageusia éuma ausaªncia de gosto.

Aproximadamente 13% das pessoas acima de 40 anos tem um comprometimento significativo do olfato. Esses números são mais baixos para os mais jovens, mas significativamente mais altos para os idosos. Por outro lado, a perda do paladar émuito menos prevalente e geralmente resulta de danos fa­sicos nos nervos do paladar. Mesmo assim, os distúrbios do olfato e do paladar são bastante comuns e podem ter grandes impactos negativos na saúde e na qualidade de vida dos milhões afetados.

De acordo com reportagens, muitos dos pacientes com COVID-19 que relatam uma perda quimiosensorial descrevem uma perda de paladar. No entanto, émais prova¡vel que a perda de cheiro seja responsável por esse sintoma. Quando comemos ou bebemos, o cérebro combina nossas percepções do paladar com a olfação retronasal - ou seja, a percepção do olfato proveniente dos odores que saem da boca e entram no nariz pela passagem de conexão na garganta - no que échamado especificamente de sabor. Pacientes que experimentaram anosmia ou hiposmia grave podem descrever uma perda de paladar, mas ainda conseguem detectar açúcar, sal ou a¡cido na la­ngua. O que eles perderam éa contribuição do olfato para a percepção do sabor. Preva­amos que, na maioria dos casos, a perda de paladar relatada pelos pacientes com COVID-19 provavelmente se deva a uma capacidade reduzida ou ausente de cheirar.

Por que o coronava­rus pode causar anosmia?

A perda do olfato pode resultar de muitas causas diversas , como traumatismo craniano, pa³lipos nasais, alergias crônicas, exposição a toxinas e doenças neurodegenerativas.

Uma das causas mais comuns de anosmia e hiposmia são os va­rus que produzem infecções respirata³rias superiores, geralmente chamadas de "resfriado comum".

Os va­rus podem afetar a função olfativa de várias maneiras. Eles poderiam atacar várias células do tecido nasal, induzindo inflamação local e interrompendo a detecção de odores. O va­rus pode desativar ou danificar diretamente as células sensoriais no nariz que detectam odores. Outra possibilidade éque os va­rus sigam o caminho do nervo olfativo atravanãs do cra¢nio e entrem no cérebro, onde podem causar danos adicionais. Ainda não se sabe se esse coronava­rus causa estragos em nosso olfato, matando neura´nios sensoriais olfativos, interrompendo sua função ou impactando os tecidos olfativos nasais, mas certamente seráuma área importante de investigação.

Anosmia poderia servir como um indicador precoce da doença de COVID-19?

As histórias de médicos e pacientes relatadas recentemente descrevem uma alta incidaªncia de anosmia em pacientes com COVID-19, incluindo muitos sem outros sintomas. Assim, o teste do olfato pode ser uma ferramenta útil para identificar pessoas que podem estar infectadas com o COVID-19. De fato, alguns otorrinolaringologistas, médicos que tratam doenças do ouvido, nariz e garganta, no Reino Unido e nos Estados Unidos , recomendaram que indivíduos que experimentam uma saºbita perda de olfato ou paladar se auto-isolassem por 14 dias, e que o teste de olfato deveria ser integrado aos protocolos de rastreamento COVID-19.

Mas os fatos confirmam isso? Por exemplo, um pequeno estudo de 59 pessoas descobriu que 60% dos pacientes com infecções respirata³rias superiores não relacionadas ao COVID-19 tiveram uma redução significativa na capacidade de cheirar. Isso pode sugerir que a prevalaªncia de perda de olfato associada ao COVID-19 não seja maior do que a habitualmente observada com o resfriado comum. Infelizmente, os testes de olfato raramente são realizados como parte de uma consulta médica normal, portanto, faltam dados para resolver isso. Além disso, o auto-relato da função olfativa pode ser impreciso. Portanto, éessencial realizar estudos cienta­ficos controlados para avaliar se distúrbios do olfato, como anosmia, são um indicador de uma infecção por COVID-19.

Vai levar tempo para realizar esses estudos. Enquanto isso, o que vocêdeve fazer se sentir uma perda repentina de odores? O conselho da ENT UK, um grupo profissional que representa cirurgiaµes de ouvido, nariz e garganta, e a Sociedade Rinola³gica Brita¢nica parecem prudentes. Auto-isolar e entre em contato com seu médico para obter recomendações das próximas etapas. O teste de cheiros como parte de uma tela ta­pica do COVID-19, conforme recomendado pela Academia Americana de Otorrinolaringologistas, também faz sentido, mesmo que o teste não seja diagnóstico para o COVID-19 por si são. Testes simples de cheiro a arranhaµes e cheirospodem ser enviados aos pacientes para que entrem em casa e relatem atravanãs de comunicações seguras, minimizando a exposição ao coronava­rus de prestadores de cuidados de saúde sobrecarregados. Juntamente com as leituras de temperatura corporal e a história do paciente, o teste do olfato pode permitir que os médicos fazm melhores escolhas sobre quem priorizar para o auto-isolamento ou testes mais específicos do COVID-19.

 

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