Saúde

Horma´nio do amor pode prevenir surgimento de osteoporose
Estudo da Unesp em Araçatuba indica que ocitocina pode ser aliada na prevena§a£o da doena§a
Por Maria Fernanda Ziegler - 14/06/2020


Estudo foi coordenado por Rita Menegati Dornelles, do Laborata³rio de Fisiologia
Enda³crina e Envelhecimento do Departamento de Ciências Ba¡sicas da Unesp
em Araçatuba Imagem: iStock

A ocitocina, produzida pelo hipota¡lamo ostambém conhecida como “horma´nio do amor” porque liberada em presença de parceiros –, pode ser também uma forte aliada no controle e na prevenção da osteoporose. Estudo realizado em ratas no fim do período fanãrtil, na Universidade Estadual Paulista (Unesp), mostrou que o horma´nio reverteu fatores que antecedem a osteoporose, como a diminuição da densidade e da resistência a³ssea e também de substâncias que favorecem a formação do osso.

“Nosso estudo tem como enfoque a prevenção da osteoporose prima¡ria; por isso investigamos mecanismos fisiola³gicos que ocorrem no período pré-menopausa. Nessa etapa da vida da mulher, medidas de prevenção podem evitar que os ossos se tornem fra¡geis e que ocorram fraturas, o que poderia reduzir a qualidade e a expectativa de vida”, diz Rita Menegati Dornelles, coordenadora do Laborata³rio de Fisiologia Enda³crina e Envelhecimento do Departamento de Ciências Ba¡sicas da Unesp em Araçatuba.

O estudo, publicado na Scientific Reports, foi apoiado pela FAPESP.

Dornelles ressalta que existem dois marcos hormonais importantes na vida da mulher: a puberdade e a perimenopausa (transição para a menopausa, que pode durar vários anos). Esses eventos marcam, respectivamente, o ini­cio e o tanãrmino do período de fertilidade. “Estuda-se muito a pa³s-menopausa, quando a mulher deixa de menstruar. No entanto, as oscilações hormonais que ocorrem antes, na perimenopausa, já são bastante fortes e estãorelacionadas com a diminuição gradual da densidade a³ssea. a‰ preciso haver estudos visando a prevenção da osteoporose nessa fase, pois o período após a menopausa representa cerca de um tera§o da vida e deve ser vivido com qualidade” diz.

No estudo, os pesquisadores aplicaram apenas duas doses do horma´nio ocitocina oscom 12 horas de diferença entre uma injeção e outra osem um grupo de 10 ratas Wistar. Os animais tinham 18 meses de vida, algo incomum para estudos de laboratório, pois as pesquisas geralmente são realizadas com animais jovens submetidas a ovariectomia. Em média, ratos de laboratório vivem cerca de três anos. As faªmeas do estudo estavam no período da periestropausa, equivalente a  perimenopausa humana, e em processo natural do envelhecimento.

Apa³s 35 dias de tratamento com ocitocina, foram analisadas amostras de sangue e do colo do faªmur dos animais. Houve também comparação desses dados com os de outras 10 ratas, também com 18 meses de vida, que não receberam o horma´nio.

Na comparação, os animais que receberam as doses de ocitocina apresentaram estrutura a³ssea sem sinais de osteopenia (perda de densidade a³ssea). O quadro foi diferente no grupo controle. “A ocitocina ajuda a modular o ciclo de remodelação a³ssea das ratas senescentes. Os animais que receberam o horma´nio tiveram aumento dos marcadores bioquímicos associados a  renovação do osso, como a expressão de protea­nas que favorecem a formação e a mineralização a³ssea”, diz Dornelles.

Na análise das amostras de sangue, foi possí­vel observar maior presença de biomarcadores ósseos sistemicos importantes, como a atividade da fosfatase alcalina. “Produzida por células osteogaªnicas, a substância estãoassociada ao processo de mineralização. Observamos também redução de outra enzima (TRAP) associada a  reabsorção a³ssea”, diz.

As ratas que receberam ocitocina apresentaram ossos mais densos. “Verificamos que a regia£o do colo do faªmur estava mais resistente, com menor porosidade, melhor resposta biomeca¢nica de compressão, além de apresentar propriedades fa­sico-químicas que garantiam maior densidade”, diz.

Secretada no osso

A ocitocina éum horma´nio produzido no hipota¡lamo cerebral e foi caracterizada no ini­cio do século passado tendo sua liberação associada, sobretudo, ao parto e a  amamentação.

Estudos mais recentes mostraram que um número grande de células (além das hipotala¢micas) também secretam o horma´nio. “A ocitocina ésecretada por células ósseas e nossos estudos estãoevidenciando sua associação com o metabolismo ósseo de faªmeas durante o processo de envelhecimento. Geralmente, mulheres no período pa³s-menopausa, com maior a­ndice de osteoporose, apresentam concentrações mais baixas de ocitocina no plasma sangua­neo”, diz Dornelles.

O grupo de pesquisadores da Unesp trabalha há10 anos em estudos sobre o envolvimento da ocitocina no metabolismo ósseo. “Nesse tempo conseguimos caracterizar modelos animais que simulam o período da perimenopausa na mulher”, diz.

Aumento de fraturas

De acordo com projeções realizadas pela Organização Mundial de Saúde, havera¡ um aumento de 630% das fraturas de quadril (associadas a  osteoporose) no Brasil, enquanto nospaíses desenvolvidos o aumento esperado seráde 50%. “O aumento estãorelacionado ao envelhecimento da população, que tem taxas crescentes em função da qualidade de vida, nutrição e realização de atividade física, por exemplo, meios importantes de prevenção de doena§as”, diz o pesquisador.

No estudo, os pesquisadores analisaram especificamente a regia£o do colo do faªmur, pois as fraturas de quadril tem ocorraªncia três vezes maior no organismo feminino. “As consequaªncias dessas fraturas são muito dra¡sticas, como dificuldade ou impossibilidade de locomoção e comorbidades”, diz.

Dornelles ressalta que fraturas de quadril estãoassociadas a altas taxas de mortalidade relatadas. Até24% das pacientes morrem no primeiro ano após a fratura de quadril e o risco aumentado de morte pode persistir por pelo menos cinco anos. “A perda de função e de independaªncia entre os sobreviventes éprofunda. Em torno de 40% ficam incapazes de andar de forma independente, deste total, 60% necessitam de assistaªncia um ano depois. Menos da metade daqueles que sobrevivem a  fratura de quadril recupera seunívelanterior de função”, diz.

Os pesquisadores pretendem realizar, no futuro, estudos clínicos sobre o efeito da ocitocina na prevenção de osteoporose em humanos. “O horma´nio éproduzido naturalmente no nosso organismo e já foi sintetizado em laboratório. Mesmo assim seránecessa¡rio um longo estudo para avaliar a efica¡cia, a segurança e também para saber a dosagem mais indicada do horma´nio”, diz Dornelles.

O artigo Oxytocin and bone quality in the femoral neck of rats in periestropause (doi: 10.1038/s41598-020-64683-0), de Fernanda Fernandes, Camila Tami Stringhetta-Garcia, Melise Jacon Peres-Ueno, Fabiana Fernandes, Angela Cristina de Nicola, Robson Chacon Castoldi, Guilherme Ozaki, Ma¡rio Jefferson Quirino Louzada, Antonio Hernandes Chaves-Neto, Edilson Ervolino e Rita Ca¡ssia Menegati Dornelles, pode ser lido em  https://www.nature.com/articles/s41598-020-64683-0. 

 

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