Saúde

Exames cerebrais de criana§as de 9 a 11 anos oferecem pistas sobre comportamento antissocial agressivo
O estudo sugere que os problemas iniciais de comportamento aparecem no cérebro, geralmente independentemente da presença ou ausaªncia de caracteri­sticas da UC.
Por Michele W. Berger, - 03/08/2020


Os problemas comportamentais de uma criana§a de nove anos tendem a parecer muito diferentes dos de um adolescente. E se, antes de qualquer delinquaªncia grave e quebra de regras, a função cerebral da criana§a e os comportamentos de busca de recompensas pudessem fornecer pistas sobre se o comportamento anti-social, a violência e a agressão poderiam se desenvolver mais tarde?

Dois artigos de Rebecca Waller, da Universidade da Pensilva¢nia, Samuel Hawes, da Universidade Internacional da Fla³rida (FIU), e colegas exploraram essa questão, especificamente em relação a s criana§as que também apresentam traa§os insensa­veis e não-emocionais (UC), tipicamente caracterizados por falta de empatia. , sensibilidade reduzida a s emoções dos outros e falta de culpa em relação a  quebra de regras.

"Os problemas iniciais de comportamento realmente preocupam os pais", diz Waller, que dirige o Laborata³rio de Emoção, Desenvolvimento, Meio Ambiente e Neurogenanãtica da Penn. "A ideia geral desta pesquisa foi verificar se hádiferenças no cérebro desde tenra idade, antes que os tipos mais graves de delinquaªncia tenham comea§ado".

Usando dados do Estudo de Desenvolvimento Cognitivo do Canãrebro Adolescente (ABCD) do Instituto Nacional de Saúde, que começou em 2015 e seguira¡ cerca de 12.000 criana§as de 9 a 11 anos por uma década, os pesquisadores analisaram primeiro o volume de substância cinzenta no cérebro. Eles descobriram que, em comparação com criana§as em desenvolvimento ta­pico, aquelas com distúrbios comportamentais perturbadores tinham menos massa cinzenta na ama­gdala e no hipocampo, áreas associadas ao processamento de emoções e formação de memórias.

O trabalho, publicado por Waller e Hawes em Psiquiatria Biola³gica: Neurociaªncia Cognitiva e Neuroimagem , sugere que os problemas iniciais de comportamento aparecem no cérebro, geralmente independentemente da presença ou ausaªncia de caracteri­sticas da UC.

Em um segundo artigo, publicado no American Journal of Psychiatry , os pesquisadores concentraram-se no comportamento das recompensas, especificamente na função cerebral, conforme os participantes do estudo do ABCD anteciparam e receberam uma recompensa. Eles descobriram que, em relação aos jovens em desenvolvimento ta­pico, aqueles com distúrbios comportamentais, incluindo aqueles com caracteri­sticas de UC, tinham diminua­do a atividade na rede de recompensas do cérebro enquanto aguardavam seu praªmio, mas aumentavam a atividade cerebral depois de obtaª-lo.

"O principal objetivo desta pesquisa", diz Hawes, professor assistente de pesquisa da FIU e co-investigador do Estudo ABCD, "éidentificar marcadores de risco neural que possam ser usados ​​para informar os esforços personalizados de intervenção e tratamento".
 
Analisando a massa cinzenta

Waller usa a neuroimagem em seu trabalho hásete anos. "O cérebro nos diz algo sobre o que estãoacontecendo com essas criana§as que não poda­amos aprender apenas observando o comportamento delas, que não poda­amos ver apenas observando-as", diz ela.

Em 2016, pesquisadores da Universidade de Birmingham, no Reino Unido, conduziram uma meta-análise de 13 estudos que analisam como o volume de substância cinzenta no cérebro se relaciona com distúrbios de conduta. Waller e Hawes queriam adotar uma abordagem semelhante, desta vez usando o tamanho maior da amostra e a faixa eta¡ria mais jovem no Estudo ABCD e ampliando o foco para incluir caracteri­sticas da UC.

Eles tomaram a meta-análise de 2016 como ponto de partida, selecionando 11 regiaµes em diferentes partes do cérebro cujas funções estãorelacionadas ao processamento emocional, aprendizado e linguagem. Eles também foram responsa¡veis ​​por raça e etnia, status socioecona´mico, QI e sexo, além de ansiedade e transtorno de danãficit de atenção / hiperatividade, este último associado a distúrbios de conduta mais graves.

Com os parametros do estudo, eles analisaram os dados para determinar se havia alguma diferença no volume de massa cinzenta entre criana§as em desenvolvimento ta­pico e aquelas com problemas comportamentais precoces, com e sem caracteri­sticas da UC.

"Nãoencontramos tantas diferenças quanto pensa¡vamos", diz Waller. "Mas, em relação a s criana§as mais sauda¡veis, aquelas com zero sintomas de qualquer coisa, as criana§as com problemas comportamentais tinham relativamente menos massa cinzenta em várias áreas importantes do cérebro. Mas não encontramos diferenças especa­ficas para as criana§as com CU".

Eles notaram, em particular, menos matéria cinzenta na ama­gdala, uma pequena regia£o no lobo temporal do cérebro que processa esta­mulos ambientais, bem como no hipocampo, localizado pra³ximo a  ama­gdala e que desempenha um papel na memória e no aprendizado. Os pesquisadores publicaram as descobertas em Psiquiatria Biola³gica: Neurociaªncia Cognitiva e Neuroimagem .

"Podemos inferir cautelosamente que algo ata­pico no desenvolvimento estrutural dessas duas regiaµes parece estar implicado nesse tipo de patologia", diz Waller. "Possivelmente, ter essa estrutura aberrante pode contribuir para danãficits na resposta emocional, levando as criana§as a mostrarem os comportamentos que vemos - mas existem várias etapas de inferaªncia por la¡".

Antecipação versus recompensa

Com base no trabalho da matéria cinzenta, Waller e Hawes se voltaram para o que estãoacontecendo no cérebro quando as criana§as respondem a  recompensa. "Ha¡ uma longa história em pesquisas comportamentais, sugerindo que jovens com problemas comportamentais graves aumentaram o desejo de recompensa", diz Hawes. "Esses jovens muitas vezes continuam a se envolver em comportamentos conduzidos por recompensas, mesmo quando confrontados com punições graves e outras consequaªncias graves". No entanto, os resultados anteriores de ressonância magnanãtica nesta área foram confusos.

Além disso, pouco trabalho anterior com essa população analisou o que acontece durante duas fases temporais distintas do processamento de recompensas. "A antecipação e o recebimento de uma recompensa estãoassociados a diferentes aspectos da tomada de decisão relacionada a  recompensa", diz Hawes. "Esta¡vamos interessados ​​em ver como a atividade cerebral em jovens com problemas de comportamento diferia da atividade tipicamente em desenvolvimento de jovens". Assim, eles usaram uma tarefa de incentivo moneta¡rio administrada aos jovens que participavam do Estudo ABCD.

Enquanto estavam em uma ma¡quina de ressonância magnanãtica, os participantes receberam uma das três formas coloridas - um ca­rculo rosa, quadrado amarelo ou tria¢ngulo azul - sinalizando que eles poderiam ganhar ou perder dinheiro (20 centavos ou US $ 5) ou que nada aconteceria. Depois de um breve atraso, eles viram um alvo, novamente uma das formas coloridas. Para ganhar dinheiro ou evitar perdaª-lo, eles tiveram que responder pressionando um botão dentro de um certo período de tempo. Logo depois, uma mensagem contou aos participantes o resultado. Cada participante concluiu o processo várias vezes em vários ensaios.

"No ini­cio de cada teste, o participante vaª quanto dinheiro poderia ganhar. Depois que o objetivo éapresentado e eles pressionam o botão, háum momento em que eles antecipam que sera£o informados de que venceram", diz Waller. . "Eles recebem feedback na tela dizendo: 'Vocaª ganhou US $ 5' ou 'Vocaª não ganhou nada' ou 'Vocaª perdeu.' Esse éo momento da recepção, então háuma separação no tempo entre a sensação de que eles va£o ganhar e quando lhes dizem que realmente venceram. "

A partir desses ensaios, os pesquisadores conclua­ram que, em relação a criana§as sauda¡veis, as pessoas com distúrbios comportamentais apresentaram diminuição da atividade cerebral ao antecipar uma recompensa e aumento da atividade cerebral após recebaª-la. Isso foi particularmente pronunciado no subconjunto de jovens com transtorno comportamental e caracteri­sticas da UC. Essas descobertas foram publicadas no American Journal of Psychiatry .

"Isso éimportante em termos de como pensamos em trabalhar com criana§as em várias configurações", diz Hawes. "As associações entre sugestaµes e recompensas ambientais representam um aspecto essencial do aprendizado. A compreensão de como esse processo se desenrola éessencial, não apenas para entender o desenvolvimento sauda¡vel versus os desafios a  socialização e desenvolvimento normais, mas também para moldar comportamentos de maneiras mais positivas".

Isso também significa que criana§as diferentes podem exigir intervenções diferentes. "Nem todas as criana§as com problemas de conduta são iguais", diz Waller. "Existem alguns subgrupos importantes com coisas diferentes acontecendo nonívelneural que podem precisar de diferentes opções de tratamento".

Entre outros aspectos, trabalhos futuros analisara£o o que estãoacontecendo no cérebro quando ocorrem perdas - o quadrado amarelo no experimento de incentivo moneta¡rio. Tudo com o objetivo de entender se o que évisto no cérebro aos nove ou dez anos indica o potencial de comportamentos de risco no futuro. Por fim, dizem os pesquisadores, isso ajudara¡ a desenvolver novos tratamentos para problemas de conduta informados pelo que se sabe sobre a função e estrutura do cérebro nesses distúrbios.

 

.
.

Leia mais a seguir