Saúde

Comportamento sexual pode expor população ao novo coronava­rus
Pesquisa com brasileiros e portugueses revela sexo casual e uso inadequado de medicaça£o preventiva ao HIV durante isolamento social
Por Rose Talamone - 06/08/2020


Pesquisa foi realizada a partir de depoimentos de 1.651 brasileiros e 710 portugueses, concedidos em entrevistas on-line durante o maªs de abril deste ano osArte sobre foto de  Ketut Subiyanto viaPexels

Brasil e Portugal tem mais em comum do que familiaridade hista³rica e cultural. Tanto la¡ quanto ca¡, o isolamento social imposto pela pandemia do novo coronava­rus não impediu o sexo casual, com parceiro novo, que chega a 53% entres homens que fazem sexo com homens. Outro fato comum aos dois povos éo de algumas pessoas utilizarem medicamento preventivo para o HIV na prevenção da covid-19.

Essas informações foram reveladas por um estudo do pesquisador alvaro Lopes Souza, pa³s-doutorando da Escola de Enfermagem de Ribeira£o Preto (EERP) da USP e orientador de pós-graduação do Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa, em Portugal. Souza analisou depoimentos de 1.651 brasileiros e 710 portugueses, concedidos em entrevistas on-line durante o maªs de abril deste ano.

A coleta de informações foi realizada em duas frentes; uma, atravanãs de aplicativos de encontro, utilizados principalmente por jovens, e a outra, pelo Facebook, com impulsionamento para todas as regiaµes do Brasil e de Portugal. As perguntas envolviam os encontros sexuais casuais durante o período de distanciamento social.

Das respostas dos voluntários, o que chamou a atenção de Souza foi a manutenção do comportamento anterior a  pandemia e, em alguns casos, de atitudes que aumentam os riscos para essas pessoas. “Grande parte dos participantes falam que se preveniram do SARS-CoV-2, mas quando se avalia essas medidas, elas se mostram pouco efetivas, como, por exemplo, a desinfecção do local após o sexo.” 

Contatos rápidos

Segundo o pesquisador, a dificuldade dessas pessoas no enfrentamento do isolamento social prolongado pode explicar em parte o comportamento de risco. Assim, procuram contatos rápidos, sexo casual e parceiro desconhecido, ignorando ou minimizando a chance de pegar o novo coronava­rus. E os resultados do estudo, acredita Souza, mostram “a necessidade de mensagens mais claras”, alertando para o perigo da contaminação em qualquer ambiente.

O mesmo vale para o uso inadequado do PrEP (Profilaxia Pranã-Exposição ao HIV) para evitar a covid-19. O pesquisador acredita que as pessoas estejam confundindo a terapia do PrEP, que épreventiva para o HIV, com uma possí­vel criação de PrEP para o SARS-CoV-2. a‰ que essa terapia para o HIV, chamada de PrEP, ébastante eficaz. Sa£o duas medicações combinadas que oferecem “até99% de chance de não adquirir o va­rus mesmo que em contato com ele”, se a pessoa toma¡-la todos os dias, por um período.

A confusão, lembra Souza, se deu após ampla divulgação de uma discussão recente sobre a possibilidade de criação de uma PrEP para o SARS-CoV-2. O que levou “algumas pessoas a pensarem que era a mesma PrEP do HIV; essa confusão mostra a importa¢ncia da comunicação e educação cienta­fica”. 

Esse éo alerta que Souza quer fazer chegar a todos. Mesmo tendo o foco no comportamento de homens que fazem sexo com homens, os resultados do estudo oferecem um panorama do que pode estar ocorrendo no mundo com relação a  saúde sexual e os a­ndices de contaminação pelo SARS-CoV-2. 

O trabalho Casual sex among MSM during the period of sheltering in place to prevent the spread of COVID-19: Results of national, online surveys in Brazil and Portugal, que teve apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cienta­fico e Tecnola³gico (CNPq) foi publicado como pré-print (sem revisão dos pares) na medRxiv. 

Além de Souza, participaram do trabalho Layze Braz de Oliveira, Artur Acelino Francisco Luz Nunes Queiroz, Hanãrica Emilia Felix de Carvalho, Guilherme Schneider, Emerson Lucas Silva Camargo e Isabel Amanãlia Costa Mendes, todos da EERP; Inaªs Fronteira, da Universidade Nova de Lisboa, Portugal; Telma Evangelista de Araaºjo, da Universidade Federal do Piauí­; Sandra Brignol, da Universidade Federal Fluminense; e Willi McFarland, da Universidade da Califórnia em Sa£o Francisco, Estados Unidos. 

 

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