Saúde

Pesquisa da UFF prevaª fim da primeira onda de COVID-19 em outubro
O estudo desenvolvido por Ma¡rcio aponta que, passados os meses de crescimento da quantidade de casos e de pico da pandemia nopaís, a tendaªncia agora éde decranãscimo da curva
Por Fernanda Cupolillo - 22/09/2020


Crédito da fotografia: Unsplash

Com a reabertura, nos últimos dois meses, do comanãrcio, assim como dos bares e restaurantes dos maiores centros econa´micos dopaís, os brasileiros voltaram a s ruas antes esvaziadas em razãoda pandemia de coronava­rus. Muitos deles, no entanto, sem adotar as medidas ba¡sicas de segurança, amplamente divulgadas pela Organização Mundial de Saúde, como o uso de máscaras e a prática de distanciamento social. Mesmo com esses descuidos, vem chamando atenção a redução crescente do número de ocupação de leitos em hospitais paºblicos e privados de todo opaís por coronava­rus, fato que vem sendo cotidianamente noticiado nos meios de comunicação, assim como também nos últimos boletins epidemiola³gicos do Ministanãrio da Saúde.

Segundo estudo recente do professor do Departamento de Estata­stica da UFF, Ma¡rcio Watanabe, intitulado “Detecção precoce da sazonalidade e predição de segundas ondas na pandemia da COVID-19”, o fena´meno de redução do número de casos de infecção por coronava­rus no Brasil pode ser em grande parte explicado por um padrãode sazonalidade da transmissão.

A pesquisa, iniciada em abril de 2020, se desenvolveu com base em uma análise de dados epidemiola³gicos de mais de 50países de todo o mundo. “Utilizando técnicas estata­sticas para analisar os dados dessa pandemia e da pandemia de H1N1, em 2009, foi mostrado que háevidaªncias suficientes desde o final de abril que comprovam que a COVID-19 segue o mesmo padrãosazonal”.

O pesquisador participou do comitaª de monitoramento para a pandemia na Prefeitura Municipal de Nitera³i, juntamente com outros professores da UFF, e com a participação do reitor Antonio Cla¡udio Na³brega. Na ocasia£o, deu assessoria técnica-cienta­fica para auxiliar nas tomadas de decisão por parte do prefeito e do secreta¡rio de saúde, analisando dados e elaborando boletins epidemiola³gicos e de planejamento para uma reabertura segura do comanãrcio. Segundo Ma¡rcio, “a transmissão se intensifica no outono e inverno e diminui de intensidade na primavera e vera£o. Isso auxilia os gestores paºblicos a se programarem para as novas ondas da pandemia que vira£o”, explica.

"A vacinação éfundamental para a prevenção atémesmo de enfermidades em relação a s quais a maior parte da população já tem alguma imunidade. Ela seráfundamental, caso esteja dispona­vel, para evitarmos uma segunda onda em abril e maio de 2021, evitando novos infectados, mortes e a necessidade do retorno das medidas de isolamento social"

Ma¡rcio Watanabe

De acordo com o professor,  o termo “ondas epidaªmicas” éuma maneira de denominar a ocorraªncia de um grande surto da enfermidade, em que háuma quantidade considera¡vel de infectados, dentro de um período limitado de tempo. “Em um surto da epidemia, o número de doentes confirmados sobe diariamente atéatingir um pico e depois desce atéhaver poucos casos. Quando visualizamos isso em um gra¡fico, ele se parece com o formato de uma onda ou uma montanha. E quando olhamos o total de casos de uma determinada doença infecciosa em um período maior de alguns anos, observamos ondas (surtos epidaªmicos) que se sucedem”, esclarece.

O estudo desenvolvido por Ma¡rcio aponta que, passados os meses de crescimento da quantidade de casos e de pico da pandemia nopaís, a tendaªncia agora éde decranãscimo da curva. “A queda ira¡ se intensificar no tanãrmino desse maªs e a partir do final de outubro prevejo que opaís tera¡ poucos casos da doença se comparado ao número atual. Mesmo sem vacinação, devido a  sazonalidade o número de casos permanecera¡ baixo de novembro a fevereiro”, enfatiza.

Para o especialista, o Brasil ainda não saiu da primeira onda. Apesar disso, segundo ele, a previsão éde haver uma forte queda na quantidade de casos ao longo dos meses de setembro e outubro, o que também ocorrera¡ na maioria dospaíses do hemisfanãrio sul. Na ocasia£o, havera¡, então, o “fim” da primeira onda de COVID-19 nopaís. Paralelamente, acontecera¡ uma segunda onda na maioria dospaíses europeus e asia¡ticos.

Ma¡rcio Watanabe afirma ainda que uma eventual segunda onda generalizada seria muito menor do que a anterior. “De acordo com a pesquisa, ela atingiria menos cidades e teria um número de incidaªncia bem inferior. E somente ocorreria partir de mara§o/abril do ano que vem, com a proximidade do outono, assim como écomum a outras doenças respirata³rias, em que os surtos ocorrem de abril a julho. Provavelmente, tera­amos pequenas ondas de COVID-19 todos os anos nesse período”.

Nesse momento, segundo o docente, as perspectivas são otimistas, tendo em vista a possibilidade de a vacina já estar dispona­vel antes de mara§o do ano que vem. Apesar disso, ele ressalta a extrema importa¢ncia de se manterem os cuidados preventivos em relação a  doena§a, principalmente enquanto o total de casos ainda for expressivo. Ele explica que, mesmo com a sazonalidade, épossí­vel haver em alguns locais pequenos surtos isolados durante a primavera e vera£o, o que reforça a necessidade de cautela por parte da população.

“A vacinação éfundamental para a prevenção atémesmo de enfermidades em relação a s quais a maior parte da população já tem alguma imunidade. Ela seráfundamental, caso esteja dispona­vel, para evitarmos uma segunda onda em abril e maio de 2021, evitando novos infectados, mortes e a necessidade do retorno das medidas de isolamento social. a‰ muito prova¡vel que a vacina de COVID-19 entre para o calenda¡rio anual de idosos e criana§as, assim como a da gripe”, esclarece o professor da UFF.

De acordo com o reitor Antonio Cla¡udio, “este trabalho de monitoramento e projeção dos indicadores da pandemia, realizado pelos pesquisadores dos Instituto de Matema¡tica e Estata­stica, sob a coordenação do professor Ma¡rcio Watanabe, éfundamental para a tomada de decisão de um gestor paºblico; neste caso, para a Prefeitura Municipal de Nitera³i. Vivemos um cena¡rio incerto e de grandes desafios, inclusive para a ciência Nãoexistem fa³rmulas prontas nem verdades absolutas; os dados se acumulam e se modificam a cada dia. Em momentos assim, épreciso trabalhar com serenidade, base cienta­fica e resiliencia. Nitera³i tem sido um exemplo na luta contra a pandemia e nostemos atuado como colaboradores que vão fornecendo elementos da ciência para a decisão soberana do gestor. Seguimos com nosso compromisso de fornecer dados, pesquisas e ciência em prol da sociedade”, conclui.

 

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