Saúde

Homens de 18 a 25 anos são os que mais se arriscam em ultrapassagens perigosas​
Pesquisadores da USP realizaram experimentos com dezenas de voluntários em um simulador de direa§a£o que reproduz de forma realista qualquer tipo de rodovia
Por USP - 10/12/2020


Estudo foi realizado com o simulador de direção da Escola de Engenharia de Sa£o Carlos, capaz de reproduzir virtualmente qualquer rodovia de forma realista. Foto: Henrique Fontes - EESC/USP

Um estudo realizado na Escola de Engenharia de Sa£o Carlos (EESC) da USP revelou que homens de 18 a 25 anos tem uma probabilidade 42% maior de se arriscarem em manobras de ultrapassagem em pista simples, considerada a mais perigosa das rodovias, do que homens mais velhos e mulheres. O número corrobora os registros nacionais de tra¢nsito que mostram que jovens e adultos do sexo masculino são a grande maioria das vitimas fatais de colisão frontal.

O trabalho foi desenvolvido no Departamento de Engenharia de Transportes (STT) da EESC, sob coordenação da professora Ana Paula C. Larocca. Para elaborar a pesquisa, os cientistas convidaram 100 voluntários de todas as faixas eta¡rias e com habilitação para participar de experimentos em um simulador de direção capaz de reproduzir virtualmente qualquer tipo de rodovia de forma realista. O equipamento conta com três telas que projetam as imagens da pista, sistema de som, cockpit de carro equipado com volante, pedais e alavanca de ca¢mbio, além de quatro ca¢meras com um software que acompanha o olhar dos motoristas e avalia se os condutores estãoobservando sinalizações e objetos durante o caminho. Uma rodovia de pista simples com ma£o dupla foi projetada especialmente para a pesquisa, propondo aos motoristas que fizessem as ultrapassagens no momento que julgassem adequado.

“A pesquisa comprovou que jovens do sexo masculino tendem a se arriscar mais neste tipo de ultrapassagem perigosa. Observamos que eles colavam bastante na traseira do vea­culo da frente e realizavam várias tentativas mal-sucedidas de ultrapassagem, tendo que retornar a  posição de origem. Muitas vezes eles faziam ultrapassagens enquanto um vea­culo vinha no sentido oposto, ao contra¡rio das mulheres, que esperavam o carro passar. Esse comportamento mais agressivo dos homens dessa faixa eta¡ria pode ser explicado por um maior excesso de confiana§a, que acaba elevando o risco da condução, tanto éque eles fazem parte do grupo que mais se envolve em acidentes”, explica a docente.

Segundo o Datatran, banco de dados da Pola­cia Rodovia¡ria Federal, 94% dos condutores envolvidos anualmente em acidentes de colisão frontal no Brasil são homens. Entre 2008 e 2018, foram 15 mil mortes, sendo que motoristas entre 20 e 50 anos são os que mais aparecem nas traganãdias. No mesmo período, ocorreram ao todo no Paa­s 1,5 milha£o de acidentes em rodovias federais e, embora as colisaµes frontais representem apenas 3,2% do total, elas são responsa¡veis por 31% das mortes: em dez anos, foram 25 mil a³bitos registrados, além de 17 mil feridos graves e 25 mil feridos leves.

A pesquisa da USP também demonstrou que homens de 25 a 35 anos tem 36% mais chances de se arriscarem em ultrapassagens em pista simples do que homens mais velhos e mulheres. De acordo com a professora Ana Paula, resultados como os obtidos no trabalho podem colaborar para a criação de campanhas de conscientização, de esta­mulo ao bom comportamento e de percepção de risco voltadas a esse paºblico. Além disso, outras possa­veis ações são a instalação de novas placas, estabelecimento de normas técnicas, obras de infraestrutura ou atanã, em último caso, a total reformulação da geometria da rodovia.

No estudo, que faz parte da tese de doutorado de Aurenice da Cruz Figueira, os pesquisadores também investigaram os fatores que influenciam as ultrapassagens em rodovias de pista simples, com foco nos efeitos que a velocidade e o modelo do vea­culo que estãoa  frente podem gerar. Os resultados mostraram que, em média, quando o motorista da frente estava a uma velocidade de 60 quila´metros por hora (km/h), quem vinha atrás já demonstrava a intenção de ultrapassa¡-lo, comea§ando a realizar algumas manobras laterais. Se o vea­culo da frente era um caminha£o, as tentativas de ultrapassagem eram mais frequentes. Em todos os resultados, os homens se mostraram mais dispostos a se arriscar, mesmo que os vea­culos da frente estivessem acima dos 60km/h.

Os resultados da pesquisa geraram dois artigos que foram publicados em revistas cienta­ficas internacionais (Link 1 e Link 2). Criado pelo Grupo de Estudos em Segurança Via¡ria do STT, o simulador utilizado no estudo contara¡ em breve com uma nova estrutura. Ele seráincorporado a um vea­culo de verdade, buscando tornar a experiência do usua¡rio mais real e imersiva. Outras pesquisas estãosendo conduzidas com o auxa­lio da tecnologia, entre elas, trabalhos sobre a redução de acidentes por meio demudanças na sinalização de rodovias; análises e atualização de manuais de sinalização em zona de obras e servia§os; melhorias em trechos que estãosujeitos a  neblina; estudos sobre asDimensões de placas de limite de velocidade na percepção do motorista; e pesquisas com ferramentas para a condução auta´noma de vea­culos.

As pesquisas com o simulador de direção são financiadas pela Fundação de Amparo a  Pesquisa do Estado de Sa£o Paulo (Fapesp), Conselho Nacional de Desenvolvimento Cienta­fico e Tecnola³gico (CNPq) e Coordenação de Aperfeia§oamento de Pessoal de Na­vel Superior (Capes).

 

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