Saúde

Abordagens sucessivas dos governos a s políticas de obesidade os destinaram ao fracasso, dizem os pesquisadores
Os pesquisadores dizem que suas descobertas podem ajudar a explicar por que, após quase trinta anos de políticas governamentais de obesidade, a prevalaªncia da obesidade na Inglaterra não caiu e desigualdades substanciais persistem.
Por Craig Brierley - 19/01/2021


Silhuetas de três mulheres correndo - Fitsum Admasu

As políticas governamentais de obesidade na Inglaterra nas últimas três décadas falharam em grande parte devido a problemas de implementação, falta de aprendizado com os sucessos ou fracassos anteriores e a confianção em tentar persuadir os indivíduos a mudar seu comportamento em vez de enfrentar ambientes insalubres.

Em quase 30 anos, sucessivos governos do Reino Unido propuseram centenas de políticas abrangentes para combater a obesidade na Inglaterra, mas ainda não tiveram impacto sobre os na­veis de obesidade ou reduziram a desigualdade
Dolly Theis


Esta éa conclusão de uma nova pesquisa realizada por uma equipe da Universidade de Cambridge, financiada pela NIHR School for Public Health Research.

Os pesquisadores dizem que suas descobertas podem ajudar a explicar por que, após quase trinta anos de políticas governamentais de obesidade, a prevalaªncia da obesidade na Inglaterra não caiu e desigualdades substanciais persistem. De acordo com um relatório do NHS Digital em maio de 2020, 67% dos homens e 60% das mulheres vivem com sobrepeso ou obesidade, incluindo 26% dos homens e 29% das mulheres que sofrem de obesidade cla­nica. Mais de um quarto das criana§as de dois a 15 anos vivem com obesidade ou excesso de peso e a distância entre as criana§as menos e mais necessitadas estãocrescendo.

Sucessivos governos tentaram combater o problema da obesidade: em pesquisa publicada hoje no The Milbank Quarterly , Dolly Theis e Martin White no Centro de Pesquisa de Dieta e Atividade (CEDAR) da Universidade de Cambridge identificaram 14 estratanãgias governamentais de obesidade na Inglaterra. 1992-2020. Eles analisaram essas estratanãgias - que continham 689 políticas abrangentes - para determinar se elas foram adequadas ao propa³sito em termos de seu foco estratanãgico, conteaºdo, base na teoria e evidaªncias e viabilidade de implementação.

Sete das estratanãgias eram amplas estratanãgias de saúde pública contendo a obesidade, bem como políticas anti-obesidade, como tabagismo e segurança alimentar. Os outros sete continham apenas políticas relacionadas a  obesidade, como dieta e / ou atividade física. Doze das quatorze estratanãgias continham metas de redução da obesidade. No entanto, apenas cinco deles eram alvos numanãricos específicos, em vez de afirmações como 'objetivo de reduzir a obesidade'.

Theis disse: “Em quase 30 anos, sucessivos governos do Reino Unido propuseram centenas de políticas abrangentes para combater a obesidade na Inglaterra, mas ainda não tiveram impacto sobre os na­veis de obesidade ou reduziram a desigualdade. Muitas dessas políticas foram em grande parte falhas desde o ini­cio e propostas de maneiras que as tornam difa­ceis de implementar. Além do mais, houve uma falha bastante consistente em aprender com os erros do passado. Os governos parecem mais propensos a publicar outra estratanãgia contendo as mesmas políticas recicladas do que a implementar políticas já propostas.

“Se tivanãssemos de produzir um boletim escolar, no geral podera­amos dar-lhes apenas 4 de 10: podera­amos fazer muito melhor.”

Theis e White identificaram sete critanãrios necessa¡rios para uma implementação eficaz, mas descobriram que apenas 8% das políticas atendiam a todos os sete critanãrios, enquanto a maior proporção de políticas (29%) não atendia a nenhum dos critanãrios. Menos de um quarto (24%) incluiu um plano de monitoramento ou avaliação, apenas 19% citaram qualquer evidência cienta­fica de apoio e menos de um em dez (9%) incluiu detalhes de custos prova¡veis ​​ou um ora§amento alocado.

A falta de informações ba¡sicas como o custo da implementação de políticas foi destacada em um relatório recente do National Audit Office sobre a abordagem do governo do Reino Unido para combater a obesidade infantil na Inglaterra, que concluiu que o Departamento de Saúde e Assistaªncia Social não sabia quanto do governo central gastos no combate a  obesidade infantil.

“Nãoimporta o quanto bem intencionada e baseada em evidaªncias seja uma pola­tica, se ela for proposta de maneira nebulosa sem um plano ou metas claras, ela torna a implementação difa­cil e éimprova¡vel que a pola­tica seja considerada bem-sucedida”, acrescentou Theis. “Pode-se perguntar legitimamente: qual éo propa³sito de propor políticas se éimprova¡vel que sejam implementadas?”

Treze das 14 estratanãgias reconheceram explicitamente a necessidade de reduzir a desigualdade em saúde, incluindo uma estratanãgia que estava totalmente focada na redução da desigualdade em saúde. No entanto, os pesquisadores afirmam que apenas 19% das políticas propostas eram provavelmente eficazes na redução das desigualdades por causa das medidas propostas.

Atéo momento, os governos do Reino Unido tem favorecido amplamente uma abordagem menos intervencionista para reduzir a obesidade, independentemente do partido pola­tico, priorizando o fornecimento de informações ao paºblico em suas estratanãgias de obesidade, em vez de moldar mais diretamente as opções disponí­veis para os indivíduos em seus ambientes de vida por meio de regulamentação ou impostos . Os pesquisadores dizem que os governos podem ter evitado uma abordagem intervencionista e mais baseada na dissuasão, por medo de serem percebidos como "baba¡s" - ou porque não tinham conhecimento sobre quais medidas mais intervencionistas poderiam ser eficazes.

Ha¡, entretanto, evidaªncias que sugerem que a formulação de políticas estãomudando. Embora o atual governo do Reino Unido ainda favorea§a uma abordagem menos intervencionista, as estratanãgias mais recentes contiveram algumas políticas fiscais e regulata³rias, como proibição de promoções de prea§os de produtos não sauda¡veis, proibição de propagandas de alimentos não sauda¡veis ​​e o Levy da Indústria de Refrigerantes. Isso pode ser porque o governo estãosob pressão crescente e reconhece que as abordagens anteriores não foram eficazes, que as abordagens mais intervencionistas são cada vez mais aceita¡veis ​​para o paºblico e porque as evidaªncias para apoiar as abordagens regulata³rias estãoaumentando.

Os pesquisadores encontraram poucas tentativas de avaliar as estratanãgias e desenvolver seus sucessos e fracassos. Como resultado, muitas políticas propostas foram semelhantes ou idaªnticas ao longo de vários anos, muitas vezes sem referaªncia a  sua presença em uma estratanãgia anterior. Apenas uma estratanãgia (Saving Lives, publicada em 1999) encomendou uma avaliação formal independente da estratanãgia do governo anterior.

“Atérecentemente, parece ter havido uma aversão em conduzir avaliações independentes de alta qualidade, talvez porque correm o risco de demonstrar fracasso, bem como sucesso,” acrescentou White. “Mas isso limita a capacidade do governo de aprender lições de políticas anteriores. Isso pode ser potencialmente agravado pelos prazos frequentemente relativamente curtos para montar uma estratanãgia ou implementar políticas.

“Os governos precisam acompanhar as propostas de políticas com informações que garantam que possam ser implementadas com sucesso, e com planos de avaliação e cronogramas embutidos. Progresso importante foi feito com avaliações de comissionamento nos últimos três anos. Mas, também precisamos ver as políticas estruturadas de forma a torna¡-las prontamente implementa¡veis. Tambanãm precisamos ver um afastamento conta­nuo das intervenções que dependem da mudança do indiva­duo em sua dieta e atividade, e em direção a políticas que mudam os ambientes que encorajam as pessoas a comer demais e ser sedenta¡rias em primeiro lugar. ”

Viver com obesidade ou excesso de peso estãoassociado a problemas fa­sicos, psicola³gicos e sociais de longo prazo. Estima-se que os problemas de saúde relacionados, como diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e ca¢nceres, custem ao NHS England pelo menos £ 6,1 bilhaµes por ano e o custo geral da obesidade para a sociedade em geral na Inglaterra éestimado em £ 27 bilhaµes por ano. A pandemia COVID-19 trouxe a  luz riscos adicionais para pessoas que vivem com obesidade, como um risco aumentado de hospitalização e doenças mais graves.

A pesquisa foi financiada pela NIHR School for Public Health Research, com apoio adicional da British Heart Foundation, Cancer Research UK, Economic & Social Research Council, Medical Research Council e Wellcome Trust.

 

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