Saúde

Dieta vegana funciona da mesma forma que a ona­vora para ganho de massa e força muscular
O estudo comprovou que a dieta vegana não perde para a ona­vora e, desde que o aporte proteico seja adequado, os efeitos de ganho de massa e força muscular são os mesmos nas duas dietas
Por Beatriz Azevedo - 03/03/2021


Fotomontagem de Jornal da USP sobre fotos de Kyle Mackie via Unsplash e Nadine Primeau via Unsplash

Um estudo da Escola de Educação Fa­sica e Esporte (EEFE) da USP investigou os efeitos da fonte proteica nos ganhos de massa e força muscular ao comparar veganos e ona­voros que realizam treinamento de resistência. A pesquisa buscou entender se a fonte proteica faz diferença nas alterações do maºsculo, nesse contexto. A conclusão éque a dieta vegana não perde para a ona­vora e, desde que o aporte proteico seja adequado, os efeitos de ganho de massa e força muscular são os mesmos nas duas dietas.

A dieta vegana éaquela em que o indiva­duo se abstanãm do consumo de qualquer alimento de origem animal. Já pessoas que seguem dieta ona­vora consomem todos os tipos de alimento, incluindo carnes. 

O artigo High‑ Protein Plant‑Based Diet Versus a Protein‑Matched Omnivorous Diet to Support Resistance Training Adaptations: A Comparison Between Habitual Vegans and Omnivore éresultado do trabalho do Grupo de Pesquisa em Fisiologia Aplicada e Nutrição. A maioria das protea­nas de origem vegetal édeficiente em algum aminoa¡cido essencial — aquele que não éproduzido pelo corpo e precisamos obter por meio da alimentação — de tal forma que se convencionou chama¡-las de protea­nas de baixo valor biola³gico. Por essa raza£o, háuma intensa discussão sobre o fato de a dieta vegana ser realmente positiva para o ser humano.  

“Essa questãosobre a qualidade da protea­na vinha sendo muito discutida sob o ponto de vista mecana­stico, mas não sob o aspecto cla­nico”, explica o professor Hamilton Roschel, um dos autores do estudo, ao Jornal da USP. Muitos estudos mecana­sticos (que analisam a resposta anaba³lica do maºsculo de forma aguda e em condição laboratorial) haviam sugerido que, em quantidades iguais, a protea­na animal seria mais potente para ganho muscular do que a vegetal. Olhando clinicamente para o fena´meno, a pesquisa mostrou que não hádiferença, o ganho éo mesmo independente da fonte, uma vez que o aporte proteico seja atendido. 

Os testes 

Para indivíduos engajados em programas de exerca­cios, a necessidade de protea­na na dieta éaumentada. Então, os participantes, tanto ona­voros quanto veganos, tiveram complementação proteica na dieta por meio de suplementos. Para os primeiros, com protea­na isolada de soro de leite e, para os segundos, com protea­na isolada de soja. Para fins de experimentação, a complementação da dieta via alimentação seria invia¡vel por sofrer variações dia¡rias. 

A suplementação foi necessa¡ria também para equiparar o consumo proteico entre os grupos. “A ideia era comparar o efeito da fonte proteica nos ganhos musculares em condições de igualdade. Para tal, ambos os grupos deveriam consumir quantidades de protea­na suficientes na dieta, distinguindo-se, apenas, a fonte”, conta Roschel. 

Todos os dias, os participantes ingeriam 1,6 grama de protea­na por quilo (kg) de peso. Ou seja, se a pessoa pesa 100 kg, ela precisaria consumir 160 gramas de protea­na, por dia. No total, 38 homens jovens fizeram parte da pesquisa, sendo 19 veganos e 19 ona­voros. O programa de treinamento de força (comumente chamado de musculação) foi supervisionado para garantir que todos fizessem a mesma coisa. O treino foi feito ao longo de três meses, duas vezes por semana. 

Para a análise dos resultados musculares, foram feitas avaliações tanto macro quanto microsca³picas. A massa magra — tudo aquilo que não égordura e osso — foi medida, nonívelmacrosca³pico. 

Foi avaliada também a área de secção muscular, o que permite observar o maºsculo diretamente. Por último, foi feita a bia³psia muscular, em que pedaço s do maºsculo equivalentes ao tamanho de um gra£o de arroz são retirados dos participantes. Esses pedaço s foram observados microscopicamente e áreas das fibras musculares foram analisadas, antes e depois da intervenção. “Portanto, a análise foi feita partindo do macro e chegando ao micro, antes e depois da intervenção”, explica o professor. 

Ona­voros x veganos

Os resultados mostraram que, para indivíduos que tem aporte proteico adequado, tanto faz a fonte. Os efeitos no ganho de massa e força muscular são os mesmos. O grande desafio éatingir a demanda proteica exigida apenas com alimentos da dieta vegana, o que não ésimples. 

No estudo, os indivíduos ona­voros consumiam aproximadamente 80% das protea­nas de origem animal. Para os  veganos, éclaro que 100% delas vão do consumo de vegetais. 

“a‰ um pouco mais difa­cil atingir um consumo proteico elevado são com alimentos em uma dieta vegana, por isso, as pessoas precisam de acompanhamento de um nutricionista para trazr estratanãgias a fim de atingir o necessa¡rio”,

conclui Roschel. 

O trabalho faz parte do mestrado da pesquisadora Victoria Hevia-Larrain, integrante do grupo de pesquisa, e teve apoio da Fundação de Amparo a  Pesquisa do Estado de Sa£o Paulo (Fapesp).

 

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