Saúde

Momento da resposta imunola³gica determina evolução da Covid-19
Pesquisa aponta protea­na interferon como um biomarcador para mortalidade pela doena§a
Por Elton Alisson - 10/03/2021


Resultados dos estudos da Universidade de Yale (EUA) foram apresentados no webina¡rio de lana§amento de programa de formação em biologia e ecologia quantitativas, que tem inscrições abertas a partir do dia 9/3 - Imagem: Divulgação

Além da intensidade certa, a resposta imune ao SARS-CoV-2 precisa ter um "timing" adequado para impedir que a infecção pelo SARS-CoV-2 se agrave, tem constatado a pesquisadora Akiko Iwasaki, professora da Universidade Yale (Estados Unidos) e uma das imunologistas mais influentes do mundo.

Ao estudar a resposta imunola³gica contra o SARS-CoV-2 de pacientes que desenvolvem quadros moderados ou graves de COVID-19, a pesquisadora e colaboradores observaram que a produção fraca e tardia de um grupo de protea­nas chamadas interferons tipo I, que atuam como uma das primeiras linhas de defesa do sistema imunológico contra va­rus, fungos e bactanãrias, permite que o novo coronava­rus se replique facilmente nas células.

“A produção robusta de interferon no esta¡gio inicial da infecção pelo SARS-CoV-2 éextremamente importante. Se essa resposta não for ativada corretamente e no momento certo o sistema imunológico não consegue controlar o va­rus muito bem”, disse Iwasaki em um webinar promovido pelo Instituto Serrapilheira, por ocasia£o do lana§amento de um programa gratuito de formação de jovens cientistas em biologia e ecologia quantitativas.

O curso serárealizado em parceria com o Instituto Sul-Americano para Pesquisa Fundamental (ICTP-SAIFR), um centro de pesquisas apoiado pela FAPESP, sediado no Instituto de Fa­sica Tea³rica da Universidade Estadual Paulista (IFT-Unesp). As inscrições sera£o abertas hoje (09/03) e podem ser feitas pelo site https://serrapilheira.org/chamada/formacao-em-biologia-e-ecologia-quantitativas-no-1-formacao/.

A fim de caracterizar a resposta inicial do sistema imunológico a  COVID-19, um grupo de pesquisadores do laboratório dirigido por Iwasaki coletou e analisou amostras de sangue, de saliva e de secreção nasal de 113 pacientes com COVID-19 em estado grave ou moderado durante todo o período em que ficaram internados no hospital Yale New Haven.

Os resultados das análises indicaram que os pacientes em estado grave não conseguiram controlar a carga viral na nasofaringe ao longo do tempo e apresentavam na­veis mais elevados de interferon. Os na­veis dessa protea­na em pacientes que morreram em decorraªncia da COVID-19 nos primeiros 12 dias após o ini­cio dos sintomas da doença também eram muito maiores em comparação com os pacientes curados.

“Isso nos pareceu estranho porque espera¡vamos que, quanto maiores os na­veis de interferon, menor seria a carga viral. Essa constatação indicou que o interferon elevado não ajudou esses pacientes, mas sim prejudicou eles ao longo do curso da infecção”, disse Iwasaki.

Os pesquisadores verificaram que, na fase inicial da infecção, a produção robusta de interferon permite controlar o va­rus porque a protea­na desencadeia a ativação de uma sanãrie de genes antivirais.

Por outro lado, se o sistema imunológico não produzir interferon rapidamente, o va­rus pode se replicar sem ser atacado. Mais tarde, com a replicação viral descontrolada, o sistema imunológico pode responder produzindo grandes quantidades de interferon, que podem levar a  inflamação ao recrutar gla³bulos brancos para o pulma£o, piorando o quadro da doena§a.

“Nossa hipa³tese éque o momento de produção do interferon realmente importa. A produção tardia éprovavelmente prejudicial e a precoce éabsolutamente necessa¡ria para a eliminação do va­rus”, afirmou Iwasaki.

Com base nessas descobertas, os pesquisadores estabeleceram o interferon como um dos principais biomarcadores para mortalidade por COVID-19. Os resultados do estudo, que teve a participação de dois brasileiros, foram publicados no ano passado na Science e mais recentemente na revista Nature.

“Ao olhar para uma variedade de fatores que estãomais associados a  mortalidade por COVID-19, descobrimos que o interferon éo segundo biomarcador mais importante, seguido pela interleucina 18, que éuma citocina muito inflamata³ria e que tem sido vista em maior quantidade em pacientes com a doença em estado grave”, disse Iwasaki.

Lições aprendidas

De acordo com a pesquisadora, algumas das lições aprendidas sobre os coronava­rus são que pessoas que se recuperaram de outros coronava­rus causadores de resfriado comum podem ser reinfectadas com o mesmo va­rus em cerca de um ano, e que as vacinas são necessa¡rias para atingir a imunidade coletiva.

“Devemos ficar atentos a s variantes do SARS-CoV-2 que estãoem ascensão e parecem ter capacidade de transmissão aprimorada e de evitar respostas de anticorpos desenvolvidos a partir do va­rus original, afetando um pouco a eficácia das vacinas”, apontou Iwasaki.

Segundo ela, uma sanãrie de fatores sazonais, como a temperatura e a umidade, afetam diretamente os va­rus respirata³rios, ao alterar a viabilidade e a eficiência de transmissão deles.

Ao estudar nos últimos anos os fatores sazonais que afetam especificamente o hospedeiro, a pesquisadora e colaboradores descobriram que temperaturas mais baixas como as registradas no inverno podem prejudicar a resistência inata contra rinova­rus. Já a baixa umidade em ambientes fechados também durante os meses de inverno prejudica a capacidade de animais combaterem o va­rus da gripe.

“Além do impacto fa­sico desses fatores sobre o va­rus, eles também afetam a capacidade de defesa do hospedeiro. Continuamos pesquisando isso, agora, em relação ao SARS-CoV-2”, disse.

 

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