Saúde

Fumaa§a de cigarro piora a qualidade do tecido ósseo, mostra estudo da Faculdade de Medicina
Pesquisa comprovou que o cigarro éresponsável por perda de massa a³ssea e por afinar as fibras do tecido
Por Beatriz Azevedo - 15/04/2021


O objetivo da pesquisa, realizada na Faculdade de Medicina da USP, foi avaliar as consequaªncias da exposição a  fumaa§a de cigarro no mecanismo de consolidação e remodelamento da matriz a³ssea osFoto: Reprodução

Uma pesquisa da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) identificou os efeitos danosos do tabagismo na consolidação a³ssea. Por meio de testes em camundongos, o estudo comprovou que a exposição a  fumaa§a piora a qualidade do tecido ósseo e afeta a matriz extracelular  fundamental para sua formação, o que resulta em perda da massa a³ssea e afinamento das fibras do tecido.

O pesquisador e cirurgia£o ortopedista responsável pelo trabalho, Alexandre Povoa Barbosa, destaca que os estudos sobre as consequaªncias do tabagismo no corpo humano foram realizados com foco em doenças que afetam diretamente os órgãos vitais. Nãohavia pesquisas sobre os impactos do tabaco na consolidação a³ssea. Ele também ressalta que a pesquisa foi iniciada como forma de tentar explicar um fena´meno observado durante cirurgias ortopanãdicas.

“Uma coisa que me motivou a fazer a pesquisa foi que, como cirurgia£o ortopedista, vejo um a­ndice alto de fraturas, como resultado dos tratamentos ciraºrgicos nos pacientes tabagistas, e isso éalgo que nunca esteve muito bem explicado.”


A proposta do trabalho de doutorado Os efeitos deletanãrios do tabagismo na mineralização a³ssea e composição da matriz fibrilar foi avaliar as consequaªncias da exposição a  fumaa§a de cigarro no mecanismo de consolidação e remodelamento da matriz a³ssea. A consolidação da matriz trata-se de um processo responsável por reparar o tecido ósseo lesado e construir novo arcabouço ósseo. 

Já o remodelamento éum mecanismo de substituição, ou reconstrução, de áreas de tecido ósseo de modo a preservar a sua integridade, otimizar a sua função e prevenir a sua degradação. Nesse processo, duas atividades ocorrem: a formação e reabsorção a³ssea do tecido, processos realizados por células do tipo osteoblastos e osteoclastos, respectivamente. 

Esquema ilustrativo da remodelação a³ssea e ações celulares integradas -
Foto: Reprodução/ Frost 1990

Os pesquisadores analisaram os componentes específicos da matriz extracelular do osso. Ela écomposta de uma porção inorga¢nica — com a­ons de fosfato, ca¡lcio e outros minerais —  e uma orga¢nica, constitua­da majoritariamente por fibras cola¡genas.

O cola¡geno do tipo I éo constituinte mais importante da matriz orga¢nica do osso. Ele participa de processos importantes no corpo humano como o desenvolvimento dos órgãos e tecidos, cicatrização e remodelamento tecidual. O cola¡geno tipo V também estãopresente na matriz, embora seja em menor quantidade. Ele faz parte da organização e estabilidade da matriz extracelular. 

Junto a outros tipos de cola¡geno, o tipo I forma as chamadas fibras heterotipicas (fibras constitua­das por diferentes tipos de cola¡geno). O tipo V se encontra no interior dessas fibras. Todos eles são responsa¡veis pelo processo de formação das fibras que compõem o osso. 

Em geral, o cola¡geno tipo V representa cerca de 2% do tecido ósseo. A partir do momento em que ele estãopresente em grandes quantidades, háum efeito pra³-inflamata³rio que interfere na conexão entre as moléculas de cola¡geno para formar as fibras. A consequaªncia disso éo afinamento delas. 

Esquema ilustrativo da interação entre os cola¡genos osFoto: Reprodução do artigo

“A hipa³tese do nosso estudo era a de que, ao longo da exposição a  fumaa§a, ocorre a elevação na quantidade de cola¡geno V e diminuição do cola¡geno I. Isso realmente aconteceu”, explica Barbosa ao Jornal da USP. Dessa forma, o estudo comprovou que hálteração estrutural no tecido ósseo em razãoda exposição a  fumaa§a. 

Na análise da matriz, o que percebeu-se foi o aumento da atividade das células osteoclastos — que atuam na reabsorção do tecido ósseo. No metabolismo ósseo comum, acontece a formação a³ssea (feita pelos osteoblastos) e a reabsorção. O estudo identificou o aumento da presença de osteoclastos e redução da atividade osteobla¡stica. Isso significa que o processo de formação ósseo não acompanhava a reabsorção, o que culmina na perda de massa a³ssea mineral. 

Em resumo, a fumaa§a de cigarro éresponsável pelo aumento da quantidade de cola¡geno V e diminuição do cola¡geno I, o que resulta no afinamento das fibras ósseas. Além disso, o cigarro aumenta a atividade dos osteoclastos, o que resulta na perda de tecido mineralizado do osso.


Para analisar os efeitos do cigarro no metabolismo ósseo, camundongos foram divididos em dois grupos. O Grupo Controle, com animais expostos ao ar ambiente, e o Grupo Fumo, com animais expostos a  fumaa§a.

“A alteração na proporção dos tipos de cola¡geno na matriz a³ssea éprovavelmente o principal mecanismo para explicar a maior fragilidade fisiola³gica para o reparo tecidual do indiva­duo tabagista. Certamente, esses mecanismos inflamata³rios prejudicam a regeneração da matriz e sua mineralização, comprometendo a qualidade e integridade do tecido”, conclui Barbosa. O trabalho foi orientado pela professora Walcy Paganelli Rosalia Teodoro e defendido em  2019.

 

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