Saúde

Pesquisa investiga o papel de um gene no desenvolvimento do câncer de cabea§a e pescoa§o
Os achados cienta­ficos podem auxiliar no reconhecimento de pessoas com maior risco de desenvolver esse tipo de tumor e possibilita melhores alternativas de tratamento
Por Camila Delmondes - 05/07/2021



Apa³s a identificação de mais de 6 mil variações genanãticas possivelmente associadas ao surgimento do câncer de cabea§a e pescoa§o, pesquisadores do Laborata³rio de Genanãtica do Ca¢ncer (LAGECA) da Faculdade de Ciências Manãdicas (FCM) da Unicamp investigaram o papel do gene ERP29, envolvido com o processamento de protea­nas tumorais, no desenvolvimento desse tipo de ca¢ncer.

A identificação inicial dessas variações genanãticas, por meio da genotipagem em larga escala com microarranjos de DNA, fez parte do projeto de doutoramento do pesquisador Gustavo Jacob Lourena§o, orientado pela docente do Departamento de Anestesiologia, Oncologia e Radiologia da FCM, Carmen Silvia Passos Lima, e contou com a colaboração do professor do Departamento de Estata­stica do Instituto de Matema¡tica, Estata­stica e Computação Cientifica (IMECC) da Unicamp, Benilton Carvalho.

Os achados cienta­ficos osderivados da pesquisa de mestrado desenvolvida no a¢mbito do programa de Pa³s-Graduação em Cla­nica Manãdica osforam publicados recentemente na revista internacional Scientific Reports e podera£o auxiliar no reconhecimento de pessoas com maior risco de desenvolver esse tipo de tumor, além de possibilitar melhores alternativas de tratamento.

A pesquisa contou com 500 participantes, entre pacientes e grupo controle, e foi orientada pelo bia³logo Gustavo Jacob Lourena§o e coorientada pela médica Carmen Silvia Passos Lima.

Dados do estudo mostraram que os indivíduos com o gena³tipo homozigoto variante GG apresentaram um risco aumentado de cerca de 6 vezes para a ocorraªncia do tumor, dada a  instabilidade do RNA mensageiro do gene ERP29, que apresenta menor produção da protea­na ERp29. E que os pacientes com o tumor de cabea§a e pescoa§o portadores do gena³tipo GG apresentaram pior sobrevida do que os pacientes com os outros gena³tipos (AA ou AG).

“Indiva­duos com gena³tipo GG apresentaram menor expressão do gene ERP29, menor produção da protea­na ERp29 e maior expressão do miR-4421”, comentou Juliana, ao explicar que o papel da protea­na ERp29 no desenvolvimento e na progressão tumoral ainda écontroverso. “Em certos tipos tumorais, como no câncer de mama e de fa­gado, o gene ERP29 parece facilitar o desenvolvimento tumoral. Já no câncer de pulma£o, ele parece inibir a formação do tumor”, disse.

Ainda de acordo com a pesquisadora do LAGECA, épossí­vel que indivíduos portadores do gena³tipo GG apresentem maior risco de ocorraªncia do tumor e pior prognóstico devido a menor expressão do ERP29, modulada pelo microRNA denominado miR-4421. “A consequente perda da função enquanto supressor tumoral facilitaria a proliferação e a invasão celular”, afirmou Juliana.

Considerado um problema de saúde pública, o câncer de cabea§a e pescoa§o tem o tabagismo e o alcoolismo entre os principais fatores desencadeantes, mas, a busca de novos marcadores, associados ao surgimento e ao prognóstico da doena§a, incluindo fatores genanãticos, tem sido uma constante na comunidade cienta­fica.

“Embora tenhamos descrito o papel da variante genanãtica na modulação do ERP29, a função da protea­na ERp29, bem como os mecanismos associados ao surgimento e a  progressão do câncer de cabea§a e pescoa§o e os possa­veis genes regulados pelo ERP29, permanecem desconhecidos”, ponderou Juliana, que agora da¡ continuidade ao projeto no doutorado, buscando avaliar os possa­veis mecanismos modulados pelo gene ERP29 e sua relação com o surgimento e a progressão da doena§a.

Na atualidade, muitos pacientes com câncer de cabea§a e pescoa§o chegam ao hospital em esta¡gio avana§ado da doena§a. O tratamento, nesses casos, envolve terapaªutica multimodal com cirurgia, radioterapia e quimioterapia a  base de cisplatina. Apesar disso, o a­ndice de sobrevivaªncia desses pacientes éde apenas 30% após cinco anos.

“No futuro, esperamos poder oferecer tratamento médico individualizado aos pacientes, com maiores chances de cura. Além de oferecer recomendações adicionais ao paºblico de risco, os marcadores genanãticos podem auxiliar na identificação de casos que necessitem de tratamento mais agressivo”, disse a pesquisadora.

 

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