Saúde

Pesquisa revela os parametros epidemiola³gicos sobre o consumo de drogas no Brasil
Este éo mais completo levantamento sobre drogas já realizados em territa³rio nacional e e contou com a parceria do Instituto Brasileiro de Geografia e Estata­stica (IBGE), o Instituto Nacional de Ca¢ncer (Inca) e a Universidade de Princeton, EUA.
Por Juliana Krapp - 09/08/2019

Entre maio e outubro de 2015, pesquisadores entrevistaram cerca de 17 mil pessoas com idades entre 12 e 65 anos, em todo o Brasil, com o objetivo de estimar e avaliar os parametros epidemiola³gicos do uso de drogas. O 3° Levantamento Nacional sobre o Uso de Drogas pela População Brasileira foi coordenado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e contou com a parceria de várias outras instituições, como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estata­stica (IBGE), o Instituto Nacional de Ca¢ncer (Inca) e a Universidade de Princeton, nos EUA.

A divulgação da pesquisa cienta­fica destinada a  realização do 3° Levantamento Nacional sobre o Uso de Drogas pela População Brasileira éo primeiro resultado de entendimentos iniciais entre a Secretaria Nacional de Pola­ticas sobre Drogas (Senad) do Ministanãrio da Justia§a e Segurança Paºblica e a Fiocruz, no a¢mbito da Ca¢mara de Conciliação e Arbitragem da Administração Paºblica Federal, órgão da Advocacia-Geral da Unia£o. O acordo preliminar para a divulgação do estudo prevaª que os conteaºdos do relatório final da pesquisa, do suma¡rio executivo e dos suplementos produzidos pela Fiocruz sejam disponibilizados a  sociedade por meio da plataforma Arca, mantida pela Fiocruz na internet. Para mais informações, cliqueno link: http://www.agu.gov.br/page/content/detail/id_conteudo/789618.

 (Neilson Barnard / NYCWFF/Getty Images)

Este éo mais completo levantamento sobre drogas já realizados em territa³rio nacional. a‰ a primeira vez que um inquanãrito sobre o uso de drogas nopaís consegue alcana§ar abrangaªncia nacional, sendo representativo inclusive de munica­pios de pequeno porte e de zonas de fronteira, por exemplo.

Os entrevistados responderam a questões quanto ao uso, o abuso e a dependaªncia de numerosas substâncias: tabaco, a¡lcool, cocaa­na, maconha, crack, solventes, heroa­na, ecstasy, tranquilizantes benzodiazepa­nicos, esteroides anabolizantes, sedativos barbitaºricos, estimulantes anfetama­nicos, analganãsicos opia¡ceos, anticolinanãrgicos, LSD, quetamina, cha¡ de ayahuasca e drogas injeta¡veis. Outros questionamentos tinham relação com violência (perpetrada ou sofrida), a percepção sobre o risco do uso de drogas e a opinia£o dos entrevistados sobre políticas públicas para a área. Além disso, eles responderam a perguntas gerais sobre saúde e a informações sãociodemogra¡ficas.

Para ser representativo da população brasileira de 12 a 65 anos, o 3º Levantamento Nacional sobre o Uso de Drogas definiu seu plano amostral a partir de critanãrios metodola³gicos semelhantes aos da Pesquisa Nacional por Amostra de Domica­lios (Pnad) do IBGE. “Ha¡ um enorme desafio em realizar uma pesquisa como esta, que busque ser representativa da população brasileira. O Brasil não éapenas muito heterogaªneo, como também conta com regiaµes muito pobres, territa³rios de população esparsa e dificuldade de acesso”, explica o coordenador do levantamento e pesquisador do Instituto de Comunicação e Informação em Saúde (Icict/Fiocruz), Francisco Ina¡cio Bastos.

Maconha éa droga ila­cita mais consumida

Os dados obtidos pelo 3° Levantamento estãodisponí­veis no Reposita³rio Institucional da Fiocruz (Arca), em acesso aberto. Os resultados revelam, por exemplo, que 3,2% dos brasileiros usaram substâncias ila­citas nos 12 meses anteriores a  pesquisa, o que equivale a 4,9 milhões de pessoas. Esse percentual émuito maior entre os homens: 5% (entre as mulheres fica em 1,5%). E também entre os jovens: 7,4% das pessoas entre 18 e 24 anos haviam consumido drogas ilegais no ano anterior a  entrevista.

A substância ila­cita mais consumida no Brasil éa maconha: 7,7% dos brasileiros de 12 a 65 anos já a usaram ao menos uma vez na vida. Em segundo lugar, fica a cocaa­na em pa³: 3,1% já consumiram a substância. Nos 30 dias anteriores a  pesquisa, 0,3% dos entrevistados afirmaram ter feito uso da droga.

Aproximadamente 1,4 milha£o de pessoas entre 12 e 65 anos relataram ter feito uso de crack e similares alguma vez na vida, o que corresponde a 0,9% da população de pesquisa, com um diferencial pronunciado entre homens (1,4%) e mulheres (0,4%). Nos 12 meses anteriores ao levantamento, o uso dessa droga foi reportado por 0,3% da população. O relatório da pesquisa destaca, poranãm, que esses resultados devem ser observados com cautela, uma vez que o inquanãrito domiciliar não écapaz de captar as pessoas que são usua¡rias e não se encontram regularmente domiciliadas ou estãoem situações especiais, como por exemplo vivendo em abrigos ou em presa­dios.

“Com relação ao crack, os números do levantamento são importantes justamente por revelar uma discrepa¢ncia”, explica Ina¡cio Bastos. “O percentual que encontramos no 3° Levantamento éinferior ao que aparece na Pesquisa Nacional do Uso do Crack [Fiocruz, 2013]. Isso porque nosso levantamento foi domiciliar. Mas os usuários de crack compõem uma população majoritariamente marginalizada, que vive em situação de rua. Desse modo, importante reforçar que o levantamento corrobora o grave problema de saúde pública que éo uso de crack no Brasil. Mas faz isso justamente por mostrar, a partir da visibilidade diminuta dentro dos lares, que o consumo dessa substância nopaís éum fena´meno do espaço paºblico”. 

Medicamentos sem prescrição

Outro dado destacado pelos pesquisadores diz respeito ao uso dos analganãsicos opia¡ceos e dos tranquilizantes benzodiazepa­nicos. Nos 30 dias anteriores a  pesquisa eles foram consumidos de forma não prescrita, ou de modo diferente a quele recomendado pela prescrição médica, por nada menos que 0,6% e 0,4% da população brasileira, respectivamente. “a‰ um número que revela um padrãomuito preocupante, e que faz lembrar o problema norte-americano de uma década atrás, em termos de classe de substâncias”, alerta o coordenador do levantamento.

Com relação a s drogas la­citas, uma boa nota­cia: o consumo do tabaco parece estar diminuindo. “Outras pesquisas tem mostrado que háum decla­nio com relação ao uso do cigarro convencional. Por outro lado, tem chamado atenção para formas emergentes de fumo, com a ascensão de aparatos como cigarros eletra´nicos e narguilanãs”, argumenta Bastos. Ainda assim, cerca de um tera§o (33,5%) dos brasileiros declarou ter fumado cigarro industrializado pelo menos uma vez na vida. E, nos 30 dias anteriores a  pesquisa, foram 13,6%, o que corresponde a 20,8 milhões de pessoas.

alcool

Grande parte dos dados considerados mais alarmantes com relação aos padraµes de uso de drogas no Brasil não estãorelacionados poranãm a s substâncias ila­citas, e sim ao a¡lcool. Mais da metade da população brasileira de 12 a 65 anos declarou ter consumido bebida alca³olica alguma vez na vida. Cerca de 46 milhões (30,1%) informaram ter consumido pelo menos uma dose nos 30 dias anteriores. E aproximadamente 2,3 milhões de pessoas apresentaram critanãrios para dependaªncia de a¡lcool nos 12 meses anteriores a  pesquisa.

A relação entre a¡lcool e diferentes formas de violência também foi abordada pelo 3° Levantamento, apresentando um panorama contundente. Aproximadamente 14% dos homens brasileiros de 12 a 65 anos dirigiram após consumir bebida alcoa³lica, nos 12 meses anteriores a  entrevista. Já entre as mulheres esta estimativa foi de 1,8%. A percentagem de pessoas que estiveram envolvidos em acidentes de tra¢nsito enquanto estavam sob o efeito de a¡lcool foi de 0,7%. 

Cerca de 4,4 milhões de pessoas reportaram ter discutido com alguém sob efeito de a¡lcool nos 12 meses anteriores a  entrevista, sendo que destes 2,9 milhões eram homens e 1,5 milhões, mulheres. A prevalaªncia de ter reportado que “destruiu ou quebrou algo que não era seu” sob efeito de a¡lcool também foi estaticamente significativa e maior entre homens do que entre mulheres (1,1% e 0,3%, respectivamente).

Risco de morte

A percepção do brasileiro quanto a s drogas atrela mais risco ao uso do crack do que ao a¡lcool: 44,5% acham que o primeiro éa droga associada ao maior número de mortes nopaís, enquanto apenas 26,7% colocariam o a¡lcool no topo do ranking. “Mas os principais estudos sobre o tema, como a pesquisa de cargas de doenças da Organização Mundial de Saúde, não deixam daºvidas: o a¡lcool éa substância mais associada, direta ou indiretamente, a danos a  saúde que levam a  morte”, pondera Bastos. “Tanto o a¡lcool quanto o crack, poranãm, representam grandes desafios a  saúde pública. Os jovens brasileiros estãoconsumindo drogas com mais potencial de provocar danos e riscos, como o pra³prio crack. Além disso, háuma tendaªncia ao poliuso [uso simulta¢neo de drogas diferentes]. Por isso étão importante atualizar os dados epidemiola³gicos disponí­veis nopaís, para responder a s perguntas de um tema como o consumo de drogas, que se torna ainda mais complexo numpaís tão heterogaªneo quanto o Brasil”, completa.

O 3° Levantamento Nacional sobre o Uso de Drogas pela População Brasileira teve sua origem numa concorraªncia pública lana§ada em 2014 pela Secretaria Nacional de Pola­ticas sobre Drogas (Senad), do Ministanãrio da Justia§a e Segurança Paºblica.

Veja a pesquisa completa, com suma¡rio e demais documentos, no Reposita³rio Institucional da Fiocruz (Arca).

 

.
.

Leia mais a seguir