Tecnologia Científica

Rota inanãdita para produção de espilantol abre novos mercados
A tecnologia desenvolvida na Unicamp permite a obtena§a£o do espilantol a partir de uma rota em cinco etapas, em um processo mais rápido e barato.
Por Ana Paula Palazi - 16/06/2020


A molanãcula de espilantol, que éa substância responsável pelos efeitos
medicinais do jambu, foi obtida de forma sintanãtica por
pesquisadores do IQ da Unicamp

Da medicina popular a  culina¡ria, o jambu étradicional na regia£o norte do Brasil. A planta nativa dopaís estãona cachaa§a e em pratos ta­picos como o Tacaca¡ e o Pato no Tucupi. A erva afrodisa­aca que amortece a boca, cura feridas e alivia dores chama a atenção da ciência hámuito tempo. E agora, a molanãcula de espilantol, que éa substância responsável pelos efeitos medicinais do jambu, foi obtida de forma sintanãtica por pesquisadores do Instituto de Quí­mica (IQ) da Unicamp.

A tecnologia éuma rota inanãdita de produção, mais concisa, eficiente e que não depende do plantio do jambu, pois étotalmente sintanãtica. Com grande potencial de aplicação, já que o composto bioativo éreconhecido por ser o grande responsável pelos efeitos antioxidante, anti-inflamata³rio e anestanãsico do jambu, o processo foi objeto de pedido de patente feito pela Inova, a Agência de Inovação da Unicamp, que tratou também do licenciamento para uma empresa spin-off, criada especialmente para desenvolver produtos a partir do espilantol sintanãtico.

“O diferencial do processo desenvolvido na Unicamp éo número de etapas. Ele éum processo bastante curto, um dos mais curtos em relação ao que se tem na literatura cienta­fica”, explica Julio Cezar Pastre, professor do Laborata³rio de Sa­ntese Orga¢nica do IQ e um dos inventores da tecnologia.

O grama do espilantol purificado custa em média US$60 mil osapesar do extrato de jambu estar dispona­vel comercialmente a um valor mais baixo. As pesquisas iniciais mostram que a nova rota proposta pode reduzir em atédez vezes esse valor.

A tecnologia desenvolvida na Unicamp permite a obtenção do espilantol a partir de uma rota em cinco etapas, em um processo mais rápido e barato. Os pesquisadores partem de substratos derivados de petra³leo e disponí­veis comercialmente. Eles, então, realizam reações químicas controladas, transformando a estrutura e aumentando a complexidade dessas moléculas atéchegar no espilantol.

Segundo os pesquisadores, a rota mais próxima, patenteada por uma empresa japonesa, sugere processos de sete a nove etapas. No entanto, o material écomposto por três isa´meros, sendo apenas 79% correspondente ao espilantol e não hápossibilidade de separação entre eles. A tecnologia brasileira alcana§ou pureza de 98% e ainda emprega, nas cinco etapas, duas reações catala­ticas que são mais seletivas e adequadas a  escala industrial.

Com pequenas modificações na rota proposta, os pesquisadores acreditam que podem ainda sintetizar outros ana¡logos naturais e não-naturais do espilantol aumentando a oferta e a viabilidade econa´mica.

A Biosa­ntese, empresa spin-off que licenciou a patente, aposta no espilantol sintanãtico como um substituto da morfina, para o tratamento de dores crônicas e agudas. A empresa vai trabalhar, em paralelo, com outra startup incubada na Incamp, a Incubadora de Empresas de Base Tecnola³gica da Unicamp. A Especiarias Amaza´nia já lançou no mercado produtos com o extrato do Jambu como uma cera depilata³ria indolor e um pomada anestanãsica pré-tatuagem.

O fundador das startups e CEO Danaºbio Martins, explica que a sa­ntese de compostos bioativos encontrados em plantas proporciona manãtodos mais fa¡ceis de obtenção com maior controle quando comparados com a extração de fontes naturais, que élimitada. “Notamos que algumas empresas tem dificuldade de trabalhar com produto natural, porque ele não tem uma precisão de padra£o: a s vezes a safra vem com um percentual do ativo e em outro momento vem com outro. O sintanãtico consegue resolver isso”, revela Martins.

Danaºbio estima que os primeiros produtos com espilantol sintanãtico cheguem ao mercado dentro de um ano. “Hoje ainda estamos finalizando os estudos de bancada, melhorando a rota para que tenha melhor viabilidade comercial”, conclui.  No Brasil, a versão sintanãtica do espilantol ainda precisa de aprovação da Anvisa.

Uma molanãcula, diversos usos

O estudo também resultou em um segundo pedido de patente de um biofilme contendo espilantol sintanãtico e um ana¡logo. A atividade anestanãsica dos compostos foi avaliada em um estudo com camundongos e confirmou valores similares aos do extrato de jambu, descritos em pesquisa anterior feita pela universidade. O ana¡logo apresentou ainda resultados superiores ao de um creme anestanãsico comercial, considerado o padrãomais elevado em anestesia ta³pica, que foi usado como controle.

Já na indústria de cosmanãticos, o espilantol écomparado a  toxina botula­nica por seu efeito antirrugas, sendo inclua­do na formulação de cremes de alto valor agregado. Com a produção sintanãtica emnívelelevado de pureza, a startup espera suprir a demanda do mercado para o desenvolvimento de novas aplicações. Uma das propostas éincluir o espilantol em ganãis lubrificantes a­ntimos. E a startup diz já ter o sinal verde de uma empresa de produtos de saúde e higiene que possibilitaria a distribuição em 128países.

Outras pesquisas, em andamento, analisam o desempenho do espilantol como carrapaticida, conservante de alimentos e atéaliado do emagrecimento. Na área da segurança, o composto bioativo pode ainda ser usado como arma de defesa pessoal, com efeitos colaterais menores em relação ao tradicional spray de pimenta.

 

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