Tecnologia Científica

Aplicativo criado na USP faz o diagnóstico da covid-19 a partir de radiografia do pulma£o
Nomeada “Marie” em homenagem a  pioneira dos estudos sobre raios-x Marie Curie, ferramenta écapaz de fazer a leitura e a análise de várias imagens ao mesmo tempo, podendo ser utilizada na triagem de pacientes
Por Rose Talamone - 07/07/2020


O Aplicativo Marie apresenta uma assertividade de 93% a 98% no diagnóstico de pacientes com a covid-19 osFoto: Cedida pelos pesquisadores
 
Em Ribeira£o Preto, um grupo de pesquisadores da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCLRP) da USP e do Supera Parque de Inovação e Tecnologia de Ribeira£o Preto criou um aplicativo capaz de identificar se um paciente estãocom a covid-19, a partir de uma simples radiografia de pulma£o. O aplicativo também pode ser utilizado para fazer triagem de pacientes com suspeita de covid-19, pois permite a análise de várias imagens ao mesmo tempo.

Para criar a ferramenta, na primeira etapa os pesquisadores analisaram 3.500 imagens, sendo duas mil de pacientes com a covid-19; outras quinhentas de pacientes com tuberculose e mil de pessoas sem nenhuma doena§a. Elas foram obtidas de reposita³rios de Brasil, China, Estados Unidos e Ita¡lia.

Formada em Fonoaudiologia e Informa¡tica Biomédica e doutora pela USP, a pesquisadora Paula Cristina dos Santos, uma das responsa¡veis pelo desenvolvimento do aplicativo, explica que foram separadas nas 3.500 imagens somente a área do pulma£o, e que “em seguida foi feita uma análise estata­stica, usando algoritmo capaz de distinguir os três grupos de pacientes: aqueles com a covid-19, aqueles com tuberculose e aqueles sem nenhuma doena§a”. Para nomear o aplicativo, a equipe decidiu homenagear Marie Curie. A cientista, nascida em Varsãovia, na Pola´nia, foi a primeira mulher a ganhar um Nobel e única pessoa atéhoje a ganha¡-lo duas vezes, um de Fa­sica e outro de Quí­mica.

Paula dos Santos explica que na primeira etapa, após o agrupamentos das imagens, já foi possí­vel detectar as diferenças entre as imagens de pulmaµes afetados pela covid-19 e as imagens daqueles afetados pela tuberculose ose atémesmo diferenciar alterações causadas pela mala¡ria. “Foram identificadas 144 caracterí­sticas, sendo 42 especa­ficas da covid-19. Percebemos que essas caracteri­sticas também tem na­veis, dependendo do esta¡gio da doena§a: mais leves, moderados e graves. Agora estamos fazendo estudos mais aprofundados, usando outros algoritmos, para estudar essa evolução nas imagens.”

Outro fator que chamou a atenção dos pesquisadores foi a confirmação do aumento na densidade do pulma£o, que fica com “o aspecto de branco jateado, chamado na medicina de ‘vidro fosco’ ”. Essa éuma caracterí­stica muito forte dos pacientes com a covid-19, como já relatado em vários artigos cienta­ficos. “Na covid-19 o ‘vidro fosco’ tem apresentado uma forma diferente atéem relação a outras patologias que apresentam essa caracterí­stica, por isso o aplicativo consegue agrupar”, comenta.

Mesmo com detalhes ainda a serem ajustados, Paula afirma que o aplicativo Marie apresenta uma assertividade de 93% a 98% no diagnóstico de pacientes com a covid-19. “Percebemos que a assertividade cai quando o paciente estãona fase inicial da doena§a, mas em pacientes com grau mais avana§ado, a assertividade chega a 98%. Então o que precisamos éaprofundar o estudo dos casos leves”.

Outra vantagem do aplicativo Marie, segundo a professora Geraldine Ga³es Bosco, do Departamento de Computação e Matema¡tica da FFCLRP, que também participou do desenvolvimento, éo fato do médico poder enviar pelo celular várias imagens para triagem e diagnóstico, ou somente uma imagem para diagnóstico. “Isso pode auxiliar o profissional onde quer que ele esteja, pois o aplicativo consegue analisar e processar várias imagens ao mesmo tempo e dar a resposta em poucos minutos.”

Paula dos Santos e a professora Geraldine Bosco trabalham em parceria no combate a  covid-19. “Eu e a Paula estamos tentando trabalhar juntas desde 2017, e a pandemia catalisou a vontade de contribuirmos com a sociedade de alguma forma, em relação ao diagnóstico e triagem de pacientes.”

O trabalho também teve a participação da pa³s-graduanda Janãssica Caroline Lizar, do programa de Doutorado em Fa­sica Aplicada a  Medicina e Biologia (FAMB), do professor Sa­lvio Morato, do Departamento de Psicologia da FFCLRP, além do administrador Alexandre Hatae, formado pela Fundação Getaºlio Vargas (FGV). Os pesquisadores procuram financiamento para o projeto, portanto, empresa¡rios interessados podem entrar em contato.

 

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