Tecnologia Científica

Repelente e cosmanãticos são desenvolvidos a partir de processo inovador da Unicamp
O processo inovador, desenvolvido sob orientaa§a£o da professora Maria Angela de Almeida Meireles Petenate, da FEA, aplica tecnologia supercra­tica, que não emprega solventes poluentes.
Por Sarah Schmidt - 11/07/2020


Professora Maria Angela de Almeida Meireles Petenate
Novo processo de extração de bioativos das folhas da Artemisia annua foi desenvolvido nos laboratórios da FEA

Um novo processo de extração de bioativos das folhas da Artemisia annua foi desenvolvido nos laboratórios da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Universidade Estadual de Campinas. O manãtodo, que economiza águae trabalha com CO2 reutilizado da indaºstria, permite que sejam extraa­dos três bioativos de uma mesma quantidade da matéria-prima. A partir de dois deles, a S Cosmanãticos do Bem, empresa-filha da Unicamp, que participou do processo de invenção e licenciou a patente, desenvolveu três produtos dermofitocosmanãticos sustenta¡veis: uma loção repelente que diminui impactos dermatola³gicos como alergias e dermatites; um sanãrum facial rejuvenescedor com potencial cicatrizante e um sanãrum antiacne que diminui lesões e tem potencial de redução de cicatrizes. Além disso, produtos com potencial anticoronava­rus estãoem fase de testes.

Planta tradicional na medicina chinesa, a Artemisia annua possui propriedades farmacaªuticas e cosmanãticas. Em 2015, a cientista chinesa Youyou Tu ganhou o Praªmio Nobel de Medicina por ter conseguido isolar a artemisinina, principal componente ativo da artema­sia, não vola¡til, utilizado em medicamentos para tratamento da mala¡ria. Já nos produtos desenvolvidos pela empresa de dermofitocosmanãticos sustenta¡veis, são aproveitados os a³leos essenciais, componentes vola¡teis e os não vola¡teis da artema­sia.

O processo inovador, desenvolvido sob orientação da professora Maria Angela de Almeida Meireles Petenate, da FEA, aplica tecnologia supercra­tica, que não emprega solventes poluentes.

“O manãtodo permite que os três bioativos sejam extraa­dos em etapas diferentes de um mesmo processo, com variações de temperatura e pressão, utilizando a mesma massa de folhas secas e trituradas de artema­sia”, explica a docente.

Durante todo o   procedimento, são utilizados apenas águae CO2 oseste último, obtido de unidades de captação, já reutilizado de processos industriais (como, por exemplo, da indústria sucroalcooleira). Além disso, durante todas as etapas de extração, estima-se que a emissão de CO2 seja de 2%, número considerado baixo.

Além disso, destaca Maria Angela, outro diferencial da tecnologia desenvolvida na Unicamp éque, após a extração dos compostos, ainda épossí­vel utilizar o resíduo da artema­sia para a retirada da famosa artemisinina, que pode ser usada em futuros produtos dermofitocosmanãticos antimala¡ricos e antivirais. “Antigamente, quando se falava em produto natural, se empregava uma matéria-prima para cada produto. Hoje não émais assim e foi isso que implementamos aqui: adotamos a engenharia econa´mica do processo, que acopla a parte técnica e econa´mica para usar a matéria prima o ma¡ximo possí­vel. Se continuarmos estudando, poderemos obter outros produtos deste resíduo”, avalia a professora. A Inova, Agência de Inovação da Unicamp, realizou o pedido de patente da tecnologia e tratou do licenciamento com a empresa.

Primeiro estoque de produtos já estãovendido

O manãtodo patenteado permitiu a extração das frações bioativas batizadas de “fitotechR”, com atividade repelente comprovada; “fitotechAC”, com propriedades antienvelhecimento e cicatrizantes; e “fitotechAM”, com propriedades antimala¡ricas e antivirais.

“Usamos temperatura e pressão para agregar biomoléculas e microcomponentes da matéria-prima vegetal. Nossa tecnologia sustenta¡vel otimiza a eficácia e a segurança dos produtos, apresentando baixo impacto ambiental”, conta a CEO e fundadora da S Cosmanãticos do Bem, Soraya El Khatib.


Durante o processo de pesquisa, o projeto contou com o apoio do PIPE-FAPESP e FINEP.

Os produtos desenvolvidos a partir dos compostos extraa­dos da artema­sia tem propriedades terapaªuticas relevantes para a saúde pública. O primeiro deles, uma loção repelente contra mosquitos, tem potencial de diminuir o impacto de problemas dermatola³gicos, como dermatites. De acordo com Soraya, doutora em Biologia Molecular e Funcional pela Unicamp, o produto éefetivo, inclusive, contra o Aedes aegypti, transmissor da dengue, febre amarela, chikungunya e do va­rus zika.

Do segundo composto, fitotechAC, foi possí­vel elaborar dois produtos. Um deles éum sanãrum facial rejuvenescedor com potencial de cicatrização, que pode ser aplicado no tratamento de psora­ase, queimaduras entre outras alterações dermatola³gicas. Já o terceiro, o sanãrum antiacne, também tem propriedade cicatrizantes. “ De acordo com os testes de efica¡cia, em 28 dias ele reduz significativamente as lesões da pele”, conta Soraya.

A terceira fração bioativa, que, segundo a CEO, écomercializa¡vel, estãosendo utilizada para o desenvolvimento de novos produtos com ação anticoronava­rus, uma vez que inibiu 99,9% a replicação do SARS-Cov-2 in vitro. Esse projeto érealizado em parceria com o SENAI Inovação e com o Laborata³rio de Virologia Animal do Instituto de Biologia (IB), coordenação da professora Clarice Weis Arns. “Na³s integramos a força-tarefa da Unicamp no combate a  Covid-19 e estamos com os testes em andamento. Pretendemos desenvolver Equipamentos de Proteção Individual (EPI’s) impregnadas com o produto, como máscaras e roupas, aplicando nanotecnologia, assim como produtos cosmanãticos e fitotera¡picos”, explica a CEO.

Com o objetivo de garantir sustentabilidade ao longo de toda a cadeia de produção, a empresa fez uma parceria com o SENAI Inovação e, após a extração, a sobra de material vegetal osa biomassa da artema­sia ossera¡ reaproveitada para a criação de biomateriais, como placas de construção e biofilmes.

O primeiro lote do sanãrum rejuvenescedor, que estara¡ pronto no segundo semestre de 2020, já estãovendido e teve alta procura por dermatologistas, enfermeiros e demais profissionais da saúde. A previsão éque os demais produtos estejam disponí­veis para o paºblico em 2021.

 

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