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Uma epidemia oculta de manda­bula encolhida estãopor trás de muitos problemas ortoda´nticos e de saúde, dizem os pesquisadores de Stanford
O encolhimento da manda­bula humana nos humanos modernos não se deve a  genanãtica, mas éuma doença do estilo de vida que pode ser tratada de forma proativa, de acordo com pesquisadores de Stanford.
Por Adam Hadhazy - 23/07/2020

Para muitos de nós, o trabalho ortoda´ntico - colocar aparelho, usar retentores - era apenas um rito de passagem da infa¢ncia. O mesmo ocorreu com o arranque dos dentes do siso no ini­cio da idade adulta. Outras condições comuns, incluindo dor na manda­bula e apneia obstrua­da do sono - quando os maºsculos frouxos da garganta interrompem a respiração durante o repouso - também parecem um par para o curso.

Um novo estudo diz que pais e cuidadores podem tomar medidas para
promover o desenvolvimento adequado da boca, osso da manda­bula e musculatura
facial em criana§as para ajudar a evitar futuros a´nus a  saúde e
condições crônicas. (Crédito da imagem: Getty Images)

A comunidade cienta­fica em geral considerou a anormalidade subjacente por trás desses problemas como heredita¡ria e intrata¡vel, e optou por lidar com os sintomas atravanãs de dispositivos médicos e intervenções posteriores.

Mas, em um novo estudo, pesquisadores e colegas de Stanford argumentam que todos esses problemas e mais são na verdade problemas relativamente novos que afetam os seres humanos modernos e podem ser atribua­dos a um encolhimento de nossas manda­bulas. Além disso, eles sustentam que essa "epidemia de manda­bula" não éprimariamente de origem genanãtica, como se pensava anteriormente, mas uma doença do estilo de vida. Isso significa que a epidemia éem grande parte o resultado de prática s humanas e semelhante a  obesidade, diabetes tipo 2, doenças carda­acas e alguns tipos de ca¢ncer.

O estudo - publicado na revista BioScience - reaºne as evidaªncias crescentes de estudos realizados em todo o mundo em torno da epidemia de manda­bula, bem como como aborda¡-la de forma proativa. Pais e responsa¡veis ​​podem tomar medidas para promover o desenvolvimento adequado da boca, osso da manda­bula e musculatura facial em criana§as, aconselha o estudo, para ajudar a evitar futuros a´nus a  saúde e condições crônicas.

"A epidemia da manda­bula émuito sanãria, mas a boa nota­cia éque podemos realmente fazer algo a respeito", disse Paul Ehrlich , professor de estudos populacionais do Bing, emanãrito, em Stanford, e um dos autores do estudo.

O novo estudo se baseia em um livro que Ehrlich co-escreveu com a ortodontista e autora principal do estudo, Sandra Kahn, intitulada Jaws: The Story of a Hidden Epidemic , publicado pela Stanford University Press em 2018. Dois outros pesquisadores de Stanford, Robert Sapolsky e Marcus Feldman , contribua­ram seus conhecimentos para o novo estudo. Seng-Mun "Simon" Wong, dentista geral em consulta³rio particular na Austra¡lia, também foi coautor.

Enraizado no estilo de vida, não na genanãtica

Os antropa³logos hámuito observam as diferenças significativas entre os maxilares e os dentes nos cra¢nios modernos em comparação com os seres humanos pré-agra­colas e caçadores-coletores de milhares de anos atrás. As diferenças são acentuadas, mesmo em comparação com os seres humanos que viveram háum século e meio atrás nos tempos pré-industriais. Esses humanos anteriores mostraram pouco apinhamento dos dentes, impactação dos dentes do siso (principal motivo de remoção cirúrgica nos dias de hoje) ou ma¡ oclusão - o posicionamento anormal dos dentes superiores e inferiores quando a boca estãofechada.

Assumir que a genanãtica seja o principal responsável pelo repentino aumento moderno dessas doenças denta¡rias não faz sentido, disse Ehrlich. "Nãohouve tempo suficiente para que a evolução, ao longo de apenas várias gerações, fizesse nossas manda­bulas encolherem", disse Ehrlich. Tampouco háevidência de pressaµes de seleção que favorea§am pessoas com manda­bula menores produzindo mais filhos - e assim perpetuando a caracterí­stica - do que pessoas com manda­bula comum.

"A evidência de uma contribuição genanãtica para a epidemia de manda­bulas não éforte", disse Feldman, geneticista da população e professor de biologia Burnet C. e Mildred Finley Wohlford.

Em vez disso,mudanças fisiola³gicas profundas podem ocorrer em populações humanas em curtos intervalos, apontou Feldman, puramente como resultado de fatores ambientais, como escolhas alimentares e normas culturais. Por exemplo, desde a Segunda Guerra Mundial, uma mudança do consumo pesado de arroz para mais latica­nios e protea­nas na infa¢ncia tem sido associada a homens japoneses que ganham cerca de 10 cm na altura média dos adultos.

Isso mostra que, em muitos casos, as escolhas de estilo de vida podem ter a mesma influaªncia, se não mais, das caracteri­sticas humanas do que a genanãtica subjacente. "Uma contribuição genanãtica para uma caracterí­stica, se houver, não necessariamente o leva a uma vida com essa caracterí­stica", disse Feldman. “Em quase todos os casos, vocênão pode intervir medicamente para alterar uma contribuição genanãtica; não éaciona¡vel. Mas o que éaciona¡vel são as coisas discutidas neste estudo, bem como o livro de Paul e Sandra. ”

Fatores contribuintes

As evidaªncias disponí­veis apontam para a epidemia de manda­bulas surgindo a  medida que a humanidade passou por grandesmudanças de comportamento com o advento da agricultura, do sedentismo (instalação em um local por longos períodos) e da industrialização. Um fator a³bvio éo amolecimento das dietas, especialmente com a invenção relativamente recente de alimentos processados. Hoje em dia, menos mastigação énecessa¡ria para extrair nutrição adequada - nossos ancestrais certamente não desfrutavam do luxo sustentador de engolir shakes de protea­na.

Uma razãomenos a³bvia, embora mais significativa por trás da epidemia da manda­bula, afirma Ehrlich e colegas, foi a ascensão do que eles descrevem como ma¡ postura oral. Nossos ossos crescem, desenvolvem e mudam de forma sob a influaªncia de pressaµes suaves, mas persistentes, mostraram vários estudos. O desenvolvimento adequado da manda­bula e dos tecidos moles associados éorientado pela postura oral - o posicionamento da manda­bula e da la­ngua durante os momentos em que as criana§as não estãocomendo ou falando. Esse posicionamento éespecialmente importante durante a noite durante longos períodos de sono, quando a deglutição mantanãm as pressaµes corretas e suaves. Com criana§as e adultos agora dormindo em colchaµes e travesseiros que perdoam, em vez do cha£o firme como seus ancestrais, émais prova¡vel que as bocas se abram, interrompendo o posicionamento e a deglutição.

Para promover o desenvolvimento adequado da manda­bula, a resposta énão comea§ar a dormir nas rochas. Em vez disso, prática s ba¡sicas, como ter filhos mascando chiclete sem açúcar, além de dar aos bebaªs menos alimentos moles enquanto passam para alimentos sãolidos, podem ajudar, dizem os pesquisadores. Kahn e Wong também praticam o que chamam forwardontics, que inclui exerca­cios como respiração adequada e padraµes de deglutição para orientar o crescimento da manda­bula em criana§as a partir dos 2 anos, em vez de esperar atéque as criana§as fiquem mais velhas e exigir intervenções mais severas. Para aumentar a conscientização sobre a epidemia de manda­bula e como aborda¡-la melhor, Ehrlich e seus co-autores tem ministrado palestras para convenções de ortodontistas e tiveram um momento positivo. "Nãohádaºvida de que algumas prática s cla­nicas estãocaminhando nessa direção", disse Ehrlich, "mas temos muito mais trabalho a fazer".

Melhor vida, a partir da manda­bula

Os benefa­cios não se limitam apenas a dentes mais retos, manda­bulas mais Espaçosas e maºsculos orais mais fortes. Reduzir a privação de sono devido a  apneia do sono éoutro ganho, com inúmeros benefa­cios indiretos. A privação do sono aumenta o estresse, o qual estãoassociado a maiores riscos de doenças carda­acas, pressão alta, depressão, câncer e doença de Alzheimer em populações adultas, e com danãficit de atenção e hiperatividade em criana§as.

"O perfil não adaptativo das manda­bulas pode atrapalhar nossa resposta ao estresse e, em última análise, provocar maior estresse e ativação crônica da resposta do corpo ao estresse", disse Sapolsky, professor de John A. e Cynthia Fry Gunn e professor de biologia, neurologia e neurologia. ciências e neurocirurgia, cuja pesquisa se concentra no estresse.

Ehrlich espera que o aumento da atenção e pesquisas voltadas para a epidemia de manda­bulas possam mudar a maranã.

"Vamos continuar aprendendo as causas da epidemia de manda­bulas e continuar divulgando como essa éuma condição altamente trata¡vel no ini­cio da vida", disse Ehrlich. "Pais e cuidadores, em colaboração com dentistas e ortodontistas, podem ajudar as criana§as a evitar problemas graves de saúde mais tarde em suas vidas."

 

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