Tecnologia Científica

Nanotecnologia intensifica efeito de a³leo de pequi em células de câncer de mama
Pesquisa da UnB mostra, de forma inanãdita, que nanoformulaa§a£o a  base do a³leo reduz proliferaça£o de células tumorais e que as nanoparta­culas são mais esta¡veis, mais resistentes e com menor toxicidade para células não tumorais
Por Marina Simon - 31/07/2020


Potencial terapaªutico do a³leo de pequi éinega¡vel: pesquisadores do LCBNano (FCE/UnB) estudam como a nanotecnologia pode contornar o cara¡ter hidrofa³bico do produto

O cerrado éconsiderado a savana mais rica do mundo: detanãm 5% das espanãcies de todo o planeta e 30% da biodiversidade do Brasil. Além disso, no bioma, existem mais de 220 espanãcies de uso medicinal. O pequi e o buriti são algumas delas. O pequi é um fruto proveniente do pequizeiro (Caryocar brasiliense) muito utilizado na culina¡ria das regiaµes Centro-Oeste e Sudeste e parte do Nordeste. A polpa do fruto érica em carotenos, antioxidantes e vitaminas, com importantes propriedades para a saúde humana.

O potencial terapaªutico do a³leo de pequi éportanto inega¡vel. Poranãm, parte dos compostos bioativos presentes no a³leo apresenta uma limitação para o seu uso na biomedicina: ele éhidrofa³bico, ou seja, não ésolaºvel em água. Isso reduz as possibilidades de vias de administração e interação com células e tecidos. Nãoépossí­vel, por exemplo, injetar o a³leo de pequi diretamente no sangue do paciente, que éprincipalmente aquoso.

A fim de contornar o cara¡ter hidrofa³bico do a³leo de pequi para fins terapaªuticos, pesquisadores do Laborata³rio de Compostos Bioativos e Nanobiotecnologia (LCBNano-FCE/UnB) da UnB tem estudado como a nanotecnologia pode ajudar por meio de nanoemulsaµes.

“Com a nanotecnologia, conseguimos proteger os componentes do a³leo, evitando a sua degradação. Além disso, conseguimos melhorar a associação de seus componentes com as células-alvo”, resume Graziella Anselmo Joanitti, da Faculdade de Ceila¢ndia (FCE/UnB), professora nos programas de pós-graduação em Nanociaªncia e Nanobiotecnologia e em Ciências e Tecnologias em Saúde, coordenadora da pesquisa e do LCBNano.

Uma nanoemulsão éum “pacotinho” com nanogota­culas do a³leo. As nanopartículas são compostas por duas fases, uma aquosa e uma oleosa, formando gota­culas em escala nanométrica, com tamanho entre 20 e 500 nm. Desta forma, essas nanogotículas podem transportar compostos bioativos hidrofa³bicos (como o a³leo de pequi) favorecendo assim o aumento de sua atividade terapaªutica, reduzindo sua toxicidade e melhorando a estabilidade de seus componentes.

Professora Graziella Anselmo Joanitti écoordenadora da pesquisa e do Laborata³rio
de Compostos Bioativos e Nanobiotecnologia (LCBNano-FCE/UnB). Foto: Arquivo pessoal
 
ANTITUMORAL osUm dos focos das pesquisas do LCBNano éo uso da nanoemulsão do a³leo de pequi para o tratamento e a prevenção do câncer de mama, que possui grande número de incidaªncia entre as mulheres no Brasil e no mundo.

O trabalho resultou em artigo coletivo, assinado por 15 pesquisadores do LCBNano e de outros Institutos e laboratórios da UnB, intitulado Nanoemulsion-based systems as a promising approach for enhancing the antitumoral activity of pequi oil (Caryocar brasilense Cambess) in breast cancer cells, publicado na revista Journal of Drug Delivery Science and Technology da editora Elsevier.  

No artigo, os pesquisadores mostram que épossí­vel colocar o a³leo de pequi em nanogota­culas e dispersa¡-lo em a¡gua. Além disso, apontam, de forma inanãdita, que a nanoformulação reduz a proliferação de células de câncer de mama. E, segundo a professora Graziella Joanitti, esses foram os grandes diferenciais do trabalho. “Isso foi um resultado incra­vel! Com a nanoformulação, háperspectivas de se ampliar as vias de administração do a³leo de pequi. Nãoprecisa ser são a via oral. Mostramos também no trabalho que as nanoparta­culas são esta¡veis, resistem a diferentes temperaturas e a diferentes condições e tempo de armazenamento. Tambanãm mostramos os efeitos nas células tumorais”, completa Graziella.

O estudo, que conta com recursos da Fundação de Apoio a  Pesquisa do Distrito Federal (FAP/DF), Coordenação de Aperfeia§oamento de Pessoal de Na­vel Superior (Capes) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Cienta­fico e Tecnola³gico (CNPq), também fez testes em células não tumorais e constatou que o produto apresenta uma baixa toxicidade para essas células.

Em 2017, a equipe depositou um pedido de patente da nanoemulsão do a³leo de pequi junto ao Centro de Apoio ao Desenvolvimento Tecnola³gico (CDT/UnB).

Aesquerda da foto, solução aquosa e surfactante; a  direita, a nanoemulsão composta
por solução aquosa, surfactante e a³leo de pequi. Foto: Arquivo pessoal
 
QUIMIOTERaPICOS osA professora Graziella ressalta que, apesar dos resultados positivos, não épossí­vel atribuir um efeito milagroso ao a³leo de pequi. “Na³s avaliamos efeitos antitumorais promissores. Poranãm, a pesquisa estãoem fase inicial e ainda são necessa¡rios mais estudos”, destaca.

a‰ possí­vel que a associação do a³leo de pequi com outras terapias já existentes para o tratamento do câncer possa resultar em um sucesso terapaªutico ainda maior. Associar as nanoemulsaµes de a³leo de pequi com quimiotera¡picos e também com outros compostos da biodiversidade brasileira éjustamente o foco da tese de doutorado de Alicia Ombredane, do programa de pa³s-gradução em Nanociaªncia e Nanobiotecnologia da UnB, orientada pela professora Graziella.  

“Estamos tentando melhorar ainda mais o efeito do a³leo de pequi, adicionando outras moléculas anticancera­genas e moléculas derivadas de plantas, para conseguir aprimorar ainda mais os seus efeitos antitumorais. O objetivo éver se conseguimos um efeito combinado, no sentido de potencializar o tratamento”, explica Alicia.

A doutoranda conta que já realizaram testes em células de câncer de mama in vitro, com resultados positivos. O pra³ximo passo são os testes in vivo em camundongos. “Ainda não temos estudos em humanos, mas, caso os resultados finais sejam positivos, pode virar, sim, um tratamento complementar aos já existentes”, completa Alicia.

A pesquisadora afirma que pode ser possí­vel ampliar a aplicação do tratamento para outros tipos de ca¢nceres e outras doena§as, como as respirata³rias, inflamata³rias e microbianas, por exemplo.

O estudo de Alicia Ombredane, do programa de pa³s-gradução em Nanociaªncia
e Nanobiotecnologia da UnB, associa as nanoemulsaµes de a³leo de pequi
com quimiotera¡picos e outros compostos da biodiversidade brasileira.
Foto: Arquivo pessoal
 

BIODIVERSIDADE osO estudo mostra como o uso da nanotecnologia, que éuma das áreas cienta­ficas mais promissoras atualmente, pode potencializar a aplicação de moléculas da nossa biodiversidade, a exemplo do pequi.

A professora Graziella explica que podemos usar a nanotecnologia para agregar valor aos recursos naturais. “Podemos expandir a aplicação de compostos naturais nanoestruturados para o mercado e reforçar a necessidade de uma economia sustenta¡vel para a conservação da biodiversidade osa bioeconomia”, relata a pesquisadora.

Isso por que, segundo ela, a agregação de valor a compostos naturais por meio da nanotecnologia impulsiona uma cadeia de produção sustenta¡vel, englobando desde as cooperativas de fama­lias que extraem o a³leo de forma sustenta¡vel, passando pelas indaºstrias (cosmanãtica, farmacaªutica e alimenta­cia), atéas pesquisas feitas nas universidades.

Além dos estudos para entender melhor a ação do a³leo de pequi no câncer de mama, o laboratório investiga potencial terapaªutico e preventivo de outras substâncias a base de a³leos derivados da biodiversidade brasileira, como buriti, andiroba, aa§aa­ e copaa­ba.

 

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