Tecnologia Científica

Nanoca¡psula com membrana da canãlula tumoral potencializa medicação para câncer de pa¢ncreas
Em testes no laboratório, material das nanoca¡psulas aumentou eficiência dos medicamentos e evitou a destruia§a£o de células sauda¡veis
Por Júlio Bernardes - 06/10/2020


Em experimentos de laboratório, pesquisadores usaram nanoca¡psulas feitas da membrana de células tumorais para levar medicamentos contra câncer de pa¢ncreas atéas células doentes, aumentando sua eficiência e evitando efeitos colaterais, como danos em células sauda¡veis  Imagem:  BruceBlaus via Wikimedia Commons
 
A eficiência de uma nova técnica para levar medicamentos atétumores de câncer de pa¢ncreas écomprovada em testes de laboratório realizados em pesquisa do Instituto de Fa­sica de Sa£o Carlos (IFSC) da USP. Os pesquisadores usaram nanoca¡psulas feitas da membrana das próprias células tumorais, material que potencializa a ação dos medicamentos e evita efeitos colaterais, como a destruição de células sauda¡veis. Os resutados do estudo são descritos em artigo publicado na revista cienta­fica Materials Advance, no Reino Unido.

“O primeiro objetivo do estudo foi verificar a capacidade da nanoca¡psula em entregar simultaneamente dois quimiotera¡picos de primeira linha, a gemcitabina e o paclitaxel utilizados no tratamento do câncer de pa¢ncreas”, contam o professor Valtencir Zucolotto e o aluno de doutorado Edson Comparetti, do Grupo de Nanomedicina e Nanotoxicologia (GNano) do IFSC, que conduziram a pesquisa. “Comprovada a eficácia em impedir o crescimento das células doentes, os estudos prosseguiram para comprovar o potencial imunomodulador das nanoparta­culas em células do sangue perifanãrico”.

O professor explica que as nanoestruturas são construa­das a partir dos principais elementos da membrana, a camada externa das células tumorais. “O material no interior da canãlula (citoplasma) éretirado para utilização da bicamada lipa­dica da membrana, que possui nasuperfÍcie muitas protea­nas de adesão especa­fica entre células”, relata. “Nas nanoca¡psulas, essas protea­nas proporcionam maior interação com as linhagens celulares dos tumores, que expressam protea­nas similares (adesão homa³loga), garantindo maior especificidade da ação dos quimiotera¡picos e, consequentemente, reduzindo os efeitos colaterais nos tecidos sadios”.

Efeito maior em menos tempo

Imagens de microscopia de células cancerosas pancrea¡ticas mostram
a ação das nanoca¡psulas (em verde) num período de 24 horas, período
em que são incorporadas a s células e liberam medicamentos
que as destroem osImagem: cedida pelos pesquisadores

Ao reconhecer as células-alvo, as nanoca¡psulas são englobadas pela membrana celular e liberam os medicamentos no citoplasma das células tumorais. “Os estudos verificaram uma alta incidaªncia de morte celular em decorraªncia da exposição a s nanoparta­culas que carregam os dois quimiotera¡picos”, destaca Edson, “permitindo um efeito maior nas células tumorais em um curto espaço de tempo”.

De acordo com os pesquisadores do IFSC, uma das vantagens de utilizar as nanoca¡psulas feitas a partir de componentes da membrana celular éaumentar a precisão do tratamento e, a princa­pio, reduzir a dose de medicamentos. “a‰ importante ressaltar ainda a capacidade das nanoca¡psulas de induzir efeitos imunomoduladores nas células sanguíneas”, aponta. “Neste caso, verificamos alterações nestas células que podem favorecer uma resposta especa­fica do sistema imunológico no local dos tumores”.

Zucolotto salienta que, atéo momento, foram realizados somente estudos in vitro em laboratório com as nanoca¡psulas. “Finalizada esta etapa, aguardamos futuras análises deste material em testes pré-clínicos, in vivo”, diz. “Ainda háum longo caminho atéa técnica ser padronizada para estudos clínicos e possa­veis usos terapaªuticos”. No futuro, a administração das nanoca¡psulas podera¡ ser feita por meio de injeção intravenosa nos pacientes.

A pesquisa foi realizada pelo aluno de doutorado Edson Comparetti em colaboração com os estudantes Paula Lins (doutorado) e Joa£o Quitiba (iniciação cienta­fica) e supervisionado pelo professor Valtencir Zucolotto. Os experimentos e análises foram realizados no GNano. Algumas análises estruturais foram conduzidas pelo Laborata³rio Nacional de Nanotecnologia (LNNano) em Campinas (interior de Sa£o Paulo). O estudo édescrito no artigo  Cancer cell membrane-derived nanoparticles improve the activity of gemcitabine and paclitaxel on pancreatic cancer cells and coordinate immunoregulatory properties on professional antigen-presenting cells, publicado na revista Materials Advances em 17 de julho.

 

.
.

Leia mais a seguir