Tecnologia Científica

O que éinteligaªncia?
O neuroeconomista Daeyeol Lee discute seu novo livro e o desenvolvimento da inteligaªncia artificial, perguntando 'A IA algum dia ultrapassara¡ a inteligaªncia humana?'
Por Annika Weder - 06/10/2020


Getty Images

Embora possa ser improva¡vel que tenhamos computadores ou robôs superinteligentes como os de filmes como Terminator ou I, Robot em breve, Daeyeol Lee acredita que investigar as diferenças entre inteligaªncia humana e inteligaªncia artificial pode nos ajudar a entender melhor o futuro da tecnologia e nosso relacionamento com ele.

"Eventualmente, pode ser possí­vel para os humanos criarem vida artificial que pode se replicar fisicamente por si mesma, e são então teremos criado uma inteligaªncia verdadeiramente artificial", disse Lee. "Atéentão, as ma¡quinas sempre sera£o apenas substitutos da inteligaªncia humana, o que infelizmente ainda deixa em aberto a possibilidade de abuso por parte das pessoas que controlam a IA."

Em seu novo livro, Birth of Intelligence (Oxford University Press, 2020), Lee traz o desenvolvimento do cérebro e da inteligaªncia do RNA auto-replicante para diferentes espanãcies animais, humanos e atémesmo computadores, a fim de abordar questões fundamentais sobre as origens, desenvolvimento e limitações da inteligaªncia.

Lee éum distinto professor de Neuroeconomia da Bloomberg, com cargos na Escola de Artes e Ciências Krieger e na Escola de Medicina. Como grande parte de seu trabalho, Birth of Intelligence éaltamente interdisciplinar, aplicando e combinando conhecimentos e ferramentas de vários campos, incluindo neurociaªncia, economia, psicologia, biologia evolutiva e inteligaªncia artificial. The Hub entrou em contato com Lee para discutir seu novo livro e os mecanismos neurais de tomada de decisão, aprendizagem e cognição.

Como e por que a inteligaªncia evoluiu?

A inteligaªncia pode ser definida como a capacidade de resolver problemas complexos ou tomar decisaµes com resultados que beneficiam o ator, e evoluiu em formas de vida para se adaptar a diversos ambientes para sua sobrevivaªncia e reprodução. Para os animais, a resolução de problemas e a tomada de decisaµes são funções de seus sistemas nervosos, incluindo o cérebro, portanto a inteligaªncia estãointimamente relacionada ao sistema nervoso.

Seu livro, como muitas de suas pesquisas em geral, tem uma abordagem muito interdisciplinar. Como uma perspectiva evoluciona¡ria nos ajuda a entender a inteligaªncia?
A inteligaªncia édifa­cil de definir e pode significar coisas diferentes para pessoas diferentes. Uma vez que consideramos a origem e função da inteligaªncia de uma perspectiva evoluciona¡ria, entretanto, alguns princa­pios importantes emergem. Por exemplo, diferentes formas de vida podem ter tipos muito diferentes de inteligaªncia porque tem diferentes raa­zes evolutivas e se adaptaram a diferentes ambientes. a‰ enganoso e sem sentido tentar ordenar espanãcies animais diferentes em uma escala de inteligaªncia linear, como ao tentar julgar qual raça de cachorro éa mais inteligente ou se os gatos são mais espertos que os ca£es. a‰ mais importante entender como uma forma particular de inteligaªncia evoluiu para cada espanãcie e como isso se reflete em sua anatomia e fisiologia.

Da mesma forma, vocêusa teorias e conceitos que derivam da economia. Como eles são aºteis para compreender a inteligaªncia?

Como a inteligaªncia tem tantos aspectos, éde fato muito útil combinar percepções e ferramentas de diferentes disciplinas para obter uma imagem mais completa do que a inteligaªncia realmente ée entender como a inteligaªncia artificial pode ser diferente da inteligaªncia humana. Por exemplo, os economistas desenvolveram modelos matema¡ticos precisos de tomada de decisão, como a teoria da utilidade, que prevaª a tomada de decisão com base na utilidade - o valor ou desejabilidade - de uma opção ou ação. Esses modelos permitem explicar comportamentos complexos, como um mercado, com apenas algumas suposições. Ter esses modelos parcimoniosos de tomada de decisão éútil para compreender a inteligaªncia, uma vez que a tomada de decisão éum componente-chave da inteligaªncia. Outros exemplos muito aºteis incluem a teoria do agente principal, que,

A inteligaªncia artificial ultrapassara¡ a inteligaªncia humana ou existe algo tão aºnico na inteligaªncia humana que nunca poderia ser replicado? Existem certas restrições na inteligaªncia humana pelas quais os computadores não são limitados?

A inteligaªncia artificial tem superado continuamente a inteligaªncia humana em muitos doma­nios individuais, incluindo os jogos de Go e pa´quer. Esse sucesso levou alguns pesquisadores a especular sobre a chegada iminente da inteligaªncia artificial que ultrapassa a inteligaªncia humana em todos os doma­nios, um evento hipotanãtico denominado “singularidade tecnologiica”. Essa inteligaªncia artificial costuma ser chamada de inteligaªncia artificial geral ou superinteligaªncia. Ninguanãm sabe ao certo se e quando os humanos criara£o AGI ou superinteligaªncia. Em minha opinia£o, no entanto, a verdadeira inteligaªncia requer vida, que pode ser definida como um processo de autorreplicação. Portanto, acredito que a superinteligaªncia éimpossí­vel ou algo em um futuro muito distante. A verdadeira inteligaªncia deve promover - não interferir com - a replicação dos genes responsa¡veis ​​por sua criação, incluindo o hardware necessa¡rio como o cérebro. Sem essa restrição, não hácritanãrios objetivos para determinar se uma determinada solução éinteligente. Pode ser possí­vel que os humanos criem vida artificial que possa se replicar fisicamente por si são, e são então teremos criado inteligaªncia verdadeiramente artificial, mas éimprova¡vel que isso acontea§a tão cedo. Atéentão, as ma¡quinas sempre sera£o apenas substitutos da inteligaªncia humana, o que infelizmente ainda deixa em aberto a possibilidade de abuso por pessoas que controlam a IA. Pode ser possí­vel que os humanos criem vida artificial que possa se replicar fisicamente por si são, e são então teremos criado inteligaªncia verdadeiramente artificial, mas éimprova¡vel que isso acontea§a tão cedo. Atéentão, as ma¡quinas sempre sera£o apenas substitutos da inteligaªncia humana, o que infelizmente ainda deixa em aberto a possibilidade de abuso por pessoas que controlam a IA. Pode ser possí­vel que os humanos criem vida artificial que possa se replicar fisicamente por si são, e são então teremos criado inteligaªncia verdadeiramente artificial, mas éimprova¡vel que isso acontea§a tão cedo. Atéentão, as ma¡quinas sempre sera£o apenas substitutos da inteligaªncia humana, o que infelizmente ainda deixa em aberto a possibilidade de abuso por pessoas que controlam a IA.

Capa do livro Birth of Intelligence

Além da autorreplicação, por que édifa­cil criar IA que seja mais inteligente do que os humanos?

A inteligaªncia real tem que resolver muitos problemas diferentes enfrentados por uma forma de vida em muitos ambientes diferentes usando a energia e outros recursos fa­sicos disponí­veis neles. O que érealmente incra­vel sobre a inteligaªncia dos humanos e de muitos outros animais não éapenas que eles podem identificar objetos complexos e produzir comportamentos a¡geis, mas que são capazes de fazer isso de muitas maneiras diferentes em tantos ambientes diferentes. Ainda sabemos muito pouco sobre como exatamente os humanos e os animais podem fazer isso. Dado que o desenvolvimento da atual tecnologia de IA foi facilitado pelos avanços na pesquisa da Neurociênciano último século, a criação de IA mais avana§ada pode exigir uma compreensão muito mais profunda de como o cérebro humano lida com tarefas tão complexas.

Saberemos ao menos que isso aconteceu?

Embora eu não acredite que isso va¡ acontecer tão cedo, acho que saberemos se e quando isso acontecer. Comea§ara­amos a ver ma¡quinas como Exterminadores porque as ma¡quinas com superinteligaªncia superariam os humanos na aquisição de energia e outros recursos de que precisam para seus reparos e replicações.

Como a IA pode impactar o relacionamento entre humanos e ma¡quinas, ou a civilização humana como um todo?

Inteligaªncia artificial cada vez mais poderosa e ma¡quinas equipadas com tal IA continuara£o a se desenvolver, sem daºvida aumentando a produtividade das pessoas que controlam essas ferramentas. Embora o aumento da produtividade seja bom, esse processo se desenvolvera¡ de maneira desigual em toda a sociedade, ampliando a desigualdade de riqueza já existente. Acho que isso éalgo que testemunhamos muitas vezes ao longo da história. Compartilhar os benefa­cios dos avanços tecnola³gicos de forma justa entre todos os membros de uma sociedade sempre foi um problema muito mais difa­cil do que desenvolver a própria tecnologia, e frequentemente falhamos em encontrar uma boa solução para todos. Para realmente obter o ma¡ximo dos avanços tecnola³gicos, também precisamos estar cientes de suas limitações e potencial para abuso.

 

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