O SprayCov, como foi batizado, eliminou o coronavarus depois de apenas um minuto e manteve 99,99% de eficácia nas 48 horas seguintes.
Antonio Scarpinetti
Os pesquisadores do Laborata³rio de Engenharia e Química de Produtos (LEQUIP), da Unicamp, exploravam o potencial das interações de aons meta¡licos com polímeros naturais na área ambiental e biomédica. Com a pandemia do novo coronavarus e a chegada da Covid-19 no Brasil, tiveram a ideia de avaliar se esses compostos também seriam capazes de inativar o SARS-CoV-2.
Assim, surgiu a mais nova tecnologia que pode acabar com as trocas frequentes de máscaras e outros acessórios que entraram para a rotina de proteção da população, os chamados EPIs (equipamentos de proteção individual). Trata-se de um processo de recobrimento para esses materiais, capaz de formar uma capa protetora ativa e de ação prolongada que neutraliza o coronavarus por contato.
O SprayCov, como foi batizado, eliminou o coronavarus depois de apenas um minuto e manteve 99,99% de eficácia nas 48 horas seguintes. “Nossa fa³rmula não éum agente sanitizante como o a¡lcool 70 ou o hipoclorito de sãodio que usamos na limpeza, esse éum processo para tornar a ma¡scara capaz de inativar o varusâ€, explica Marisa Masumi Beppu, professora titular da Faculdade de Engenharia Química e fundadora do LEQUIP.
A tecnologia éindicada para EPIs empregados por profissionais de saúde, mas o spray também pode ser aspergido em máscaras de algoda£o. A ideia éconferir uma barreira ativa que destrua o varus assim que ele tiver contato com asuperfÍcie recoberta. Atualmente, os equipamentos de proteção individual servem mais como barreira física.
Uma das preocupações dos cientistas foi a escolha criteriosa das substâncias, pensando nos impactos do uso prolongado do spray no meio ambiente. Os sais de cobre já são usados em larga escala na agricultura, hámais de um século, como fungicida para conter o avanço de pragas. “O impacto ambiental não seria diferente de um agricultor usando a calda bordalesa na plantaçãoâ€, relaciona Marisa.
A tecnologia também usa uma mistura de polímeros biodegrada¡veis que funcionam como uma espanãcie de cola para a fixação dos sais. A aderaªncia foi testada em diversassuperfÍcies, alcana§ando os mesmos resultados em tecidos e não-tecidos. Com os resultados promissores, a Agência de Inovação Inova Unicamp fez o depa³sito do pedido de patente junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial e estãopromovendo a oferta ativa da tecnologia a empresas com potencial para licenciar a tecnologia e leva -la ao mercado. “Recentemente, tivemos a abordagem de empresas taªxteis e também do setor paºblicoâ€, contou Marisa.
Ta£o eficaz e mais barato que a prata
Outra vantagem da fa³rmula estãono prea§o dos insumos. O custo de recobrimento de máscaras com o SprayCov foi calculado pelos pesquisadores em pouco menos de R$ 0,02 por ma¡scara. “O cobre étão eficaz quanto a prataâ€, afirma Clarice Weis Arns, professora titular do Instituto de Biologia, e responsável pelos testes. As análises de eficácia foram realizadas no Laborata³rio de Virologia Animal (LVA), da Unicamp, que já avaliou a ação virucida de outros produtos apresentados pela força-tarefa da universidade, montada no inicio do ano contra a Covid-19.
Amostras do varus SARS-CoV-2 e de um modelo dele, chamado de MHV (outro tipo de coronavarus, mais resistente e que afeta apenas camundongos) foram colocadas em contato com a fa³rmula e células vivas in vitro. O SprayCov não apresentou toxicidade para as células, inibiu a replicação do coronavarus por 3 dias e ainda reduziu a capacidade de inoculação, desarticulando os mecanismos que permitem a instalação da doena§a.
O recobrimento libera aons que atacam o varus. Essaspartículas eletricamente carregadas causariam rupturas, decompondo e destruindo o envelope que reveste o microorganismo. “Nessa camada mais externa, composta de glicoproteanas, ficam todas as informações genanãticas que permitem ao coronavarus entrar em nossas células. Uma vez desfeita, o varus deixa de existir e não consegue mais infectar o hospedeiroâ€, explica Clarice.
Para a virologista, a tecnologia não são évia¡vel como abre outras possibilidades para o campo da pesquisa. “Vocaª estãoaplicando o produto muito pra³ximo das vias aanãreas superiores, se tiver algum varus preso nos nossos calios, no nariz ou na garganta o recobrimento da ma¡scara pode ajudar a eliminarâ€, comenta.
Os pesquisadores acreditam que o invento possa ainda ser eficaz contra outros tipos de varus causadores de doenças respirata³rias, como a Influenza provocada pelo H1N1. Novos estudos, em andamento, buscam elucidar como os aons de cobre e, possivelmente, também alguns contra-aons que equilibram o componente, agem na batalha para destruir esses microorganismos.
Além das professoras Marisa e Clarice, os alunos Joa£o Batista Maia Rocha Neto, Roganãrio Aparecido Bataglioli, Amanda Barbosa Garcia, Laise Maia Lopes e Guilherme Bedeschi Calais participaram das pesquisas e constam como inventores da patente.