Tecnologia Científica

Big Data vai analisar o mistério do metra´nomo de Beethoven
Ludwig van Beethoven (1770-1827) foi um dos primeiros compositores a comea§ar a usar o metra´nomo , dispositivo patenteado por Johann Nepomuk Maelzel em 1815.
Por Universidade Carlos III de Madrid - 17/12/2020


Pixabay

A pesquisa em ciência de dados e física da Universidade Carlos III de Madrid e da UNED analisou uma polaªmica secular sobre as anotações de Beethoven sobre o andamento (a velocidade de execução) de suas obras, considerado muito rápido com base nessas marcas. Neste estudo, publicado na revista PLOS ONE , nota-se que esse desvio poderia ser explicado pelo compositor ter lido incorretamente o metra´nomo ao utiliza¡-lo para medir a batida de suas sinfonias.

Ludwig van Beethoven (1770-1827) foi um dos primeiros compositores a comea§ar a usar o metra´nomo , dispositivo patenteado por Johann Nepomuk Maelzel em 1815. Nessa anãpoca, ele começou a editar suas obras com marcas numanãricas com indicações de metra´nomo. As daºvidas sobre a validade dessas marcas remontam ao século XIX e durante o século XX muitas análises musicola³gicas foram realizadas, algumas das quais já apontavam para a hipa³tese de que o metra´nomo estava quebrado, pressuposto que nunca foi verificado. Em qualquer caso, a maioria dos regentes de orquestra omitiu essas marcas por considera¡-las muito rápidas (Romantismo), ao passo que, desde a década de 1980, outros regentes (Historicismo) as usaram para tocar Beethoven. No entanto, os cra­ticos de música e o paºblico descreveram esses shows como frenanãticos e atédesagrada¡veis.

Pesquisas cienta­ficas anteriores, como o estudo de Sture Forsanãn em 2013, apontaram vários defeitos que podem ter afetado o metra´nomo, fazendo-o funcionar mais devagar, o que teria levado o compositor de Bonn a escolher marcas mais rápidas do que as realmente propostas. Para validar essa explicação, pesquisadores da UC3M e da UNED compararam sistematicamente as marcas metrona´micas com interpretações contempora¢neas. Isso requer habilidades físicas para modelar o metra´nomo matematicamente, analisar dados, computação, usabilidade e, éclaro, habilidades musicais. No geral, eles analisaram o andamento e suas variações para cada movimento de 36 sinfonias interpretadas por 36 maestros diferentes, num total de 169 horas de música.

"Nosso estudo revelou que os maestros tendem a tocar mais devagar do que Beethoven indicou. Mesmo aqueles que buscam seguir suas instruções ao péda letra! Os tempos indicados pelo compositor são, em geral, muito rápidos, a ponto de, coletivamente, os maºsicos tenderem para desacelera¡-los ", diz Ia±aki Ucar, um dos autores desta pesquisa, cientista de dados no Big Data Institute da UC3M e clarinetista. Essa desaceleração segue, em média, um desvio sistema¡tico, portanto não éaleata³rio, mas os regentes tendem a tocar consistentemente abaixo das marcas de Beethoven. “Esse desvio poderia ser explicado pelo compositor lendo a balana§a do aparelho no lugar errado, por exemplo, sob o peso em vez de acima. Em última análise, esse seria um problema causado pelo uso de novas tecnologias”, diz Almudena Marta­n Castro, da outro autor do estudo,
 
Neste estudo, os pesquisadores desenvolveram um modelo matema¡tico para o metra´nomo baseado em um paªndulo duplo, aperfeia§oado com três tipos de correções que tomam a amplitude de sua oscilação, o atrito de seu mecanismo, a força de impulso e a massa de sua haste, aspecto que não havia sido considerado em trabalhos anteriores, em consideração. “Com a ajuda desse modelo, desenvolvemos uma metodologia para estimar os parametros originais do metra´nomo de Beethoven a partir das fotografias disponí­veis e do esboa§o da patente”, explica o trabalho. Além disso, eles desmontaram um metra´nomo moderno para medi-lo e usa¡-lo para validar o modelo matema¡tico e a metodologia.

Os pesquisadores tentaram identificar uma "quebra" no metra´nomo que deu origem aos tempos lentos geralmente seguidos pelos maºsicos. Eles tentaram mudar a massa do metra´nomo (pode ter sido danificado e uma pea§a pode ter caa­do), movaª-lo para a haste, aumentar o atrito (o metra´nomo pode ter sido mal lubrificado) e atémesmo testar a suposição de que o aparelho pode ter perdido, inclinando-se sobre o piano enquanto o compositor criava sua música. “Nenhuma das hipa³teses correspondia ao que os dados nos informavam, que éuma desaceleração homogaªnea no tempo em toda a escala. Por fim, consideramos o fato de que o desvio corresponde exatamente ao tamanho do peso do metra´nomo e também encontramos a anotação ' 108 ou 120 'na primeira pa¡gina do manuscrito de sua nona sinfonia,duvidou de onde estava lendo pelo menos uma vez. De repente, tudo fez sentido: Beethoven foi capaz de escrever muitas dessas marcas lendo o tempo no lugar errado ", explicam eles.

Essa metodologia pode ser aplicada na investigação da obra de outros compositores cla¡ssicos, pois eles são capazes de extrair o tempo de uma gravação musical e limpar os dados para que possam ser comparados. “Seria muito interessante estudar a relação entre o andamento tocado e as marcas de outros compositores, ou mesmo buscar o 'andamento correto' para compositores que não deixaram marcas metrona´micas. a‰ possí­vel que haja um andamento manãdio no qual as pessoas costumam interpretar as fugas de Bach, por exemplo? " eles perguntaram.

 

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