Tecnologia Científica

A IA pode nos alcana§ar?
O novo livro do neurocientista Daeyeol Lee da Johns Hopkins explora a definia§a£o da verdadeira inteligaªncia
Por Katie Pearce - 30/01/2021


CRa‰DITO: REVISTA JOHNS HOPKINS

Daeyeol Lee não estãopreocupado com a possibilidade de a inteligaªncia artificial ultrapassar a dos seres humanos - o evento hipotanãtico conhecido como "singularidade tecnologiica" - em qualquer momento de nossas vidas. Na opinia£o do neurocientista da Johns Hopkins, a verdadeira inteligaªncia requer vida, e a IA não tem isso. As bactanãrias sim. As plantas sim. As ma¡quinas não. 

Na verdade, ele diz, "o debate sobre se a IA pode desenvolver inteligaªncia real não tem sentido atéque primeiro definamos o que éinteligaªncia." 

O novo livro de Lee, The Birth of Intelligence (Oxford University Press, 2020), parte com esse propa³sito. Desenho os mais recentes insights da neurociaªncia, junto com pedaço s de biologia, psicologia, economia, ciência da computação e atémesmo filosofia, o livro oferece uma revisão abrangente da evolução da inteligaªncia, de RNA e as formas de vida mais primitivas atéo complexo e enigma¡tico cérebro humano. 

A caracterí­stica definidora da vida, como Lee a identifica, éa capacidade de se reproduzir ou auto-replicar. A inteligaªncia existe, ele argumenta, apenas por causa desse objetivo, a serviço desse objetivo, ajudando os organismos vivos a selecionar ações que aumentam suas chances de sobrevivaªncia e reprodução.

"Escrevi este livro para fazer esta declaração: que a inteligaªncia éuma função da vida", disse Lee.

A medida da inteligaªncia, diz ele, éa eficácia com que um organismo pode tomar decisaµes e resolver problemas em uma variedade de ambientes. Para a bactanãria E. coli dentro de um intestino, isso significa mover-se para o local com mais nutrientes. Para uma planta, ele estãoajustando seu crescimento em direção a  luz do sol e suas raa­zes em direção a  a¡gua. Para uma barata, estãofugindo depois de detectar o movimento do ar, como o de um jornal enrolado potencialmente fatal.  

Problemas mais complicados requerem na­veis mais elevados de inteligaªncia, apoiados por sistemas nervosos mais sofisticados. a‰ aa­ que os seres humanos se destacam. De todas as espanãcies que vagaram pela Terra durante seu ciclo de vida de 4,5 bilhaµes de anos, observa Lee, os humanos produziram os resultados mais impressionantes, inventando e elaborando ferramentas que nos permitiram dominar outros animais e atémesmo nos lana§ar ao espaço sideral. Podemos resolver quebra-cabea§as matema¡ticos, produzir arte e música estimulantes e refletir sobre a natureza de nossas próprias vidas e mortalidade.

Por trás de tudo isso, poranãm, a inteligaªncia humana se agita com o mesmo propa³sito ba¡sico de qualquer outra forma de vida. Nossos cérebros são, fundamentalmente, agentes que garantem a replicação de nossos genes, salvaguardando nossa espanãcie da extinção.

Professor de Neurociênciana Escola de Medicina, Lee publicou pela primeira vez The Birth of Intelligence em 2017 na Coreia do Sul, onde passou sua juventude antes de se mudar para os Estados Unidos para fazer seus estudos de pós-graduação. Ele traduziu o texto para o inglês para atingir um paºblico mais amplo na edição de 2020, que, segundo ele, édirecionada a qualquer aluno curioso em neurociência

De certa forma, ele o escreveu pensando no seu eu mais jovem. “Eu vaguei muito antes de decidir que queria estudar o cérebro”, disse Lee. Como estudante de graduação em Seul, ele se formou em economia antes de entrar na neurociência No final das contas, ele se tornou conhecido como o antepassado de uma nova abordagem chamada neuroeconomia , combinando essas duas disciplinas e outras para compreender e prever como o cérebro toma decisaµes.

Lee também se considera uma espanãcie de "fila³sofo enrustido, sem o treinamento formal", buscando insights sobre os mistanãrios essenciais da vida e do universo. 

O nascimento da inteligaªncia abraça esse prisma de perspectivas, usando teorias e exemplos de muitas disciplinas para explorar a natureza da inteligaªncia. Lee orienta os leitores atravanãs da base celular da evolução do cérebro e os mecanismos neurais por trás de emoções como inveja e arrependimento. Ele cita experimentos psicola³gicos cla¡ssicos, como o sino de Pavlov, e aplica teorias da matemática e da economia a como os macacos calibram jogos como Go e pedra-papel-tesoura.

"NENHUM OUTRO ANIMAL TEM TANTA CURIOSIDADE SOBRE SI MESMO QUANTO OS HUMANOS. AUTOCONSCIaŠNCIA E AUTOCONHECIMENTO PODEM SER A FORMA MAIS ELEVADA DE INTELIGaŠNCIA."

Daeyeol Lee
Professor de neurociaªncia

Identificando o que diferencia a inteligaªncia humana, Lee aponta a introspecção como a chave. “Nenhum outro animal tem tanta curiosidade sobre si mesmo quanto os humanos”, escreve ele. "Autoconsciência e autoconhecimento podem ser a forma mais elevada de inteligaªncia." Uma hipa³tese éque os humanos desenvolveram o autoconhecimento como um subproduto do aprendizado para prever o comportamento de outras pessoas em ambientes sociais, inicialmente como uma necessidade de sobrevivaªncia. “Se eu tento entender seus pensamentos sobre mim, isso indiretamente, mas ainda inevitavelmente leva a me entender”, diz ele.

Ao se aventurar no ta³pico de inteligaªncia artificial, Lee aponta para Marte, talvez nosso melhor exemplo de como os robôs se comportam por conta própria. Para investigar o terreno do Planeta Vermelho, os quatro robôs que a NASA enviou para la¡ - comea§ando com o Sojourner em 1997 - exigiram habilidades para navegar sem controles humanos. Lee pode imaginar um dia em que vários rovers de Marte possam aprender a compartilhar conhecimento entre si, cooperar e atémesmo "discutir", de fato. 

Pode ser tentador categorizar tais comportamentos como inteligaªncia real, mas Lee enfatiza que não são. Com a IA carente do requisito fundamental para a vida - a capacidade de reprodução - ele não vaª motivo para temer o dia em que os robôs ultrapassara£o os humanos. Tal como esta¡, a IA existe apenas como uma extensão da inteligaªncia humana, um instrumento para resolver nossos problemas e aumentar nossa produtividade, sem qualquer interesse em sua própria sobrevivaªncia ou propagação.

“A menos que a IA possa aprender a se replicar, ela continua sendo a ferramenta dos humanos”, diz ele. "Em algum doma­nio da ficção cienta­fica daqui a muitos anos, épossí­vel que a IA tenha sua própria vida, sua própria inteligaªncia? Isso estãoalém da imaginação humana atual."

 

.
.

Leia mais a seguir