Tecnologia Científica

A busca por vida em Tita£
Tita£ éa maior lua de Saturno e seu dia¢metro é50% maior do que o da lua da Terra.
Por Eliane da Fonseca Daré - 30/03/2021


Menrva, a maior cratera conhecida em Tita£ (lua de Saturno)

Um trabalho apresentado vitualmente em 16 de mara§o durante a 52nd Lunar and Planetary Science Conference 2021, a maior conferaªncia de Ciências Planeta¡rias promovida pelo Lunar and Planetary Institute e o Johnson Space Center da NASA, trouxe informações importantes sobre um dos temas mais pesquisados pelos cientistas da área: a possibilidade de encontrar vida fora do planeta Terra. O estudo “Explorando as condições de habitabilidade no registro de impacto de Tita£: a formação da cratera Menrva” éfruto do projeto que o docente Alvaro Penteado Cra³sta, do Instituto de Geociências da Unicamp, começou a desenvolver entre 2018 e 2019 durante o período em que esteve como cientista-visitante do Jet Propulsion Laboratory (JPL), centro de pesquisa da California Institute of Technology (Caltech) e da NASA que desenvolve pesquisas avana§adas em exploração espacial.

Tita£ éa maior lua de Saturno e seu dia¢metro é50% maior do que o da lua da Terra. a‰ a única do Sistema Solar que possui uma atmosfera significativa e suasuperfÍcie éformada por hidrocarbonetos gelados, com grandes lagos e mares de metano e etano la­quidos osproporcionando algumas das condições chamadas de pré-bia³ticas, semelhantes a s da Terra em tempos primordiais. Supaµe-se que a cerca de 100 Km abaixo da capa gelada haja águala­quida. A interação de hidrocarbonetos e águana presença de energia tanãrmica gerada por impactos pode promover condições de geração de formas rudimentares de vida (microrganismos). Cra³sta conduziu simulações numanãricas do processo de formação de Menrva, a maior cratera de Tita£ com cerca de 425 Km de dia¢metro. O modelo obtido sugere que a cratera foi resultado do impacto de uma rocha espacial de 34 Km de dia¢metro que atingiu asuperfÍcie de Tita£ a 7 Km/s.

Analisando por uma perspectiva de processos geobiola³gicos, o impacto pode influenciar consideravelmente a habitabilidade planeta¡ria. As descobertas de Cra³sta e dos cientistas do JPL e de universidades norte-americanas, canadense e francesa reveladas no estudo mostram troca significativa de materiais orga¢nicos e de gelo com o oceano de águaem Menrva. A combinação de processos somada a  transferaªncia de energia tanãrmica do impacto para a crosta de Tita£ pode ter resultado em um ecossistema habita¡vel quase a³timo, embora tempora¡rio. A descoberta chamou atenção da revista Science, que publicou recentemente uma matéria sobre o estudo.

Os dados utilizados na pesquisa da cratera Menrva foram obtidos atravanãs da missão Cassini-Huygens, que partiu do Cabo Canaveral nos Estados Unidos em 1997, numa viagem que durou 7 anos. Cassini entrou na a³rbita de Saturno e a sonda Huygens pousou em Tita£ em janeiro de 2005. O orbitador desintegrou-se em 2017 após ter enviado uma grande quantidade de dados, que devera£o ser estudados ainda por muitos anos. “A Huygens operou por apenas 1h10, que foi o tempo projetado de vida das baterias, mas as informações coletadas nesse curto espaço de tempo foram de fundamental importa¢ncia para decifrar o mundo gelado de Tita£, eternamente envolto em densas nuvens formadas por hidrocarbonetos em sua atmosfera”, conta Cra³sta.  O estudo foi desenvolvido pelo docente da Unicamp dentro do macro projeto “Habitabilidade de mundos com hidrocarbonetos: Tita£ e além ”, coordenado pela brasileira Rosaly Lopes, que faz parte do Programa de Institutos Astrobiola³gicos da NASA (NAI).

Uma nova missão, a Dragonfly, estãoprogramada para ser enviada a Tita£ em 2026 e tem como alvo a cratera Selk. “A escolha de Selk como alvo da Missão Dragonfly foi feita enquanto desenvolva­amos o estudo de Menrva. Por outro lado, a escolha de Menrva para desenvolver o nosso projeto se deveu ao fato de ser a maior cratera de Tita£ e muito pouco ser conhecido a seu respeito, como sua idade e a maneira como evoluiu morfologicamente. O que aprendemos sobre Menrva certamente serámuito útil para orientar a exploração de Selk. A missão Dragonfly contemplara¡ a possibilidade de visitar outras crateras usando um helica³ptero-drone para pousar em vários locais”, conta Cra³sta.

“Tita£, apesar de ser uma lua de Saturno, ésem daºvida um dos corpos planetarios mais fascinantes do Sistema Solar. Trata-se de um corpo extremamente ativo do ponto de vista atmosfanãrico/geola³gico/geomorfola³gico, com processos muitos semelhantes aos da Terra, como um ciclo hidrola³gico completo, são que com metano e etano la­quidos no lugar da a¡gua, processos de erosão, transporte e sedimentação, entre outros”, analisa o gea³logo da Unicamp. “Ter a oportunidade de trabalhar com processo de formação de uma cratera de enormes proporções ainda não estudada, em um corpo basicamente composto por espessa crosta de gelo recobrindo um oceano de águasalgada, foi muito desafiador e, ao mesmo tempo, um privilanãgio”, orgulha-se.

Alvaro conta que háoportunidades muito boas para desenvolver pesquisas ou trabalhar com ciências planeta¡rias e que hávárias instituições sempre interessadas em recrutar jovens talentosos, qualquer que seja a nacionalidade. “A NASA, por exemplo, recebe jovens cientistas do mundo todo, inclusive do Brasil. No JPL, onde atuei, conheci mais de 40 cientistas e engenheiros brasileiros. Um exemplo éa própria Rosaly Lopes, que trabalha na NASA hámais de 3 décadas. Isso mostra que esse tipo de oportunidade éconcreta e via¡vel e destaco isso no sentido de estimular aqueles que se interessam pelas ciências planeta¡rias”, finaliza.

 

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