Tecnologia Científica

Pesquisas são agraciadas com praªmio na área de planejamento urbano e regional
Teses premiadas defendidas no Instituto de Geociências são relacionadas ao pré-sal e ao uso da energia ea³lica no semia¡rido brasileiro
Por Eliane da Fonseca Daré - 20/05/2021


Reprodução

Duas teses defendidas no Programa de Pa³s-Graduação em Geografia do Instituto de Geociências da Unicamp foram contempladas no III Praªmio Rodrigo Simaµes de Tese de Doutorado, promovido pela Associação Nacional de Pa³s-Graduação e Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional (ANPUR). A tese vencedora foi “Circuito espacial produtivo do petra³leo na Bacia de Santos e a economia pola­tica da Regia£o Metropolitana da Baixada Santista”, defendida por Luciano Pereira Duarte Silva, sob orientação do docente Ma¡rcio Antonio Cataia. Já a tese "Acumulação por despossessão: a privatização dos ventos para a produção de energia ea³lica no semia¡rido brasileiro”, defendida por Mariana Traldi, sob orientação da docente Arlete Moysanãs Rodrigues, recebeu menção honrosa. Os dois trabalhos foram escolhidos dentre 33 inscritos no Praªmio, que busca incentivar a produção intelectual supervisionada na área de planejamento urbano e regional.

Tese Vencedora

De acordo com a presidaªncia do jaºri, a escolha da tese vencedora ocorreu em função da tema¡tica abordada, do arcabouço tea³rico-metodola³gico e da excelente qualidade final do texto. Segundo Luciano Pereira, “a pesquisa analisou como as transformações do circuito espacial produtivo do petra³leo, decorrentes das descobertas do pré-sal (2007), sobretudo na Bacia de Santos, provocaram a mobilização de diversos agentes da Regia£o Metropolitana da Baixada Santista (RMBS) no sentido de trazer diversas modificações socioespaciais que visavam adequar as bases materiais, econa´micas e sociais dessa regia£o aos imperativos das grandes empresas ligadas ao circuito em questão”. Agentes relacionados a s atividades de exploração e produção do petra³leo, como a Petrobras, passaram a se instalar na regia£o com maior intensidade. Com isso, ocorreram diversas articulações na área de planejamento urbano, resultando na concepção de um grande conjunto de projetos de infraestrutura, capitaneado pela Petrobras.

Com a pesquisa, foi possí­vel observar que as iniciativas de adaptação do espaço ao recebimento de agentes e atividades produtivas ligadas a s etapas de exploração e produção de petra³leo na RMBS não se efetivaram plenamente devido principalmente a  crise pola­tica que atinge a formação socioespacial brasileira. “O principal agente mobilizador das transformações espaciais na RMBS, a Petrobras, reduziu a ampliação de suas ações na regia£o, enfraquecendo assim os ca­rculos de coordenação mobilizados e articulados com agentes locais que buscavam sustentar suas ações nas cidades da Baixada Santista”, descreve Luciano. Com isso, diversos projetos de adaptação do espaço da RMBS não se concretizaram, o que não permitiu a criação de uma condição nacional de desenvolvimento regional enda³geno. Ainda assim, a exploração de petra³leo no pré-sal na Bacia de Santos avana§a, “o que pode em algum momento voltar a demandar maior participação da Baixada Santista. No entanto, com menor capacidade de coordenação desse processo nas ma£os da Petrobras, a regia£o se encontra numa situação de maior vulnerabilidade em relação a s rápidas dina¢micas globais do mercado de petra³leo, além de se aprofundar uma guerra dos lugares em busca dos possa­veis investimentos das empresas ligadas a esse setor”, pontua.

Menção honrosa

Já a tese que recebeu menção honrosa foi escolhida pela originalidade e pela metodologia adotada na pesquisa. De acordo com Mariana Traldi, a pesquisa mostra como se da¡ o acesso e controle dos territa³rios de elevado potencial ea³lico no semia¡rido brasileiro pelas empresas de geração ea³lica. “A energia ea³lica, nos moldes atuais, emerge como uma importante aliada no combate a smudanças climáticas e seu uso vem se ampliando rapidamente. Buscamos compreender como esse processo vem se desenvolvendo no Brasil e mais especificamente no semia¡rido brasileiro. Nossa maior preocupação dizia respeito a  apropriação privada do vento e de terras por empresas de geração ea³lica”, conta. Outro ponto era identificar os agentes envolvidos neste processo e o papel desempenhado por cada um deles, em especial pelo Estado brasileiro. “A pesquisa foi desenvolvida buscando identificar as principais contradições inerentes a esse processo e os nexos que interconectam o interior do semia¡rido brasileiro e a totalidade do mundo”, destaca Mariana.

O estudo traduz um ineditismo ao pesquisar o processo de despossessão do vento e de terras promovido pela indústria ea³lica, mais especificamente por fazaª-lo a partir da análise dos contratos de arrendamento ea³lico, que por serem sigilosos são de difa­cil acesso. “Revelar como os contratos se tornam instrumentos formais de promoção da despossessão do vento, de terras e das formas de reprodução social antes existentes no semia¡rido pelas empresas de geração ea³lica écertamente um dos resultados mais importantes da pesquisa desenvolvida. Revelar a contradição que se estabelece entre produção de energia ‘limpa’ e combate a smudanças climáticas e a s ilegalidades contratuais, injustia§as territoriais, roubo e esbulho de terras e direitos, grilagem de terras, desapossamento e expropriação do direito a terra no sertão brasileiro, que ocorrem em muitos casos com a conivaªncia de órgãos estatais, écertamente outro importante resultado da tese defendida”, aponta Mariana. A pesquisa resultou ainda em um raio x dessa situação geogra¡fica, identificando agentes locais, como os donos de terras e posseiros; agentes globais, como fundos de pensão e de investimento, proprieta¡rios de parques ea³licos no Brasil; e as relações estabelecidas entre esses agentes e os fluxos de capital. “A partir dessa análise, pudemos compreender os nexos existentes entre as mais diversas escalas geogra¡ficas, identificando quais empresas e instituições financeiras se apropriam dos lucros obtidos na geração ea³lica brasileira”, conclui.

Premiação

De acordo com o docente Rafael Straforini, coordenador do PPG-Geografia, essa éa primeira vez que o Programa recebe o praªmio. “Esse éum reconhecimento da qualidade das pesquisas que se realizam emnívelde mestrado e doutorado, evidenciando a excelaªncia dos seus orientadores, alunos, dos grupos de pesquisa e das condições institucionais para realização das pesquisas. De alguma forma, essas premiações nos revelam que estamos no caminho certo e nos motivam ainda mais a buscar sempre a excelaªncia no desenvolvimento das pesquisas e no comprometimento com a produção do conhecimento geogra¡fico. Este conhecimento éde extrema importa¢ncia para a compreensão das dina¢micas territoriais atuais, bem como para avaliação de políticas públicas atuais e planejamento de políticas que possam mitigar os impactos socioespaciais de tais dina¢micas territoriais, sobretudo para os grupos sociais mais vulnera¡veis”, afirma. 

Para o docente Ma¡rcio Cataia, que orientou a tese vencedora, “o praªmio vem coroar o sanãrio trabalho de pesquisa que vimos realizando no Grupo de Pesquisas em Economia Pola­tica do Territa³rio (GEPOT). O manãrito de Luciano émuito claro, e como ele sempre destacou e eu reforço, sem o apoio da Fapesp, de nosso PPG e das condições aportadas por nosso Instituto (IG,) dificilmente tera­amos tido esse resultado. A importante e rica história de nossa jovem Universidade osjovem com um hista³rico de premiações a­mpar ostem um peso intelectual que positivamente influencia na forma como produzimos nosso trabalho”.

Já para Mariana Traldi, a menção honrosa éum reconhecimento a  qualidade da pesquisa desenvolvida. “a‰ uma honra e um orgulho receber uma menção honrosa da ANPUR, que éuma reconhecida associação que congrega programas de pós-graduação e entidades brasileiras das mais diversas áreas do conhecimento que desenvolvem ensino e pesquisa no campo dos estudos urbanos e regionais e do planejamento urbano e regional. Ou seja, trata-se de uma premiação importante não são no campo da Geografia, mas das ciências sociais, das ciências sociais aplicadas, entre outras áreas do conhecimento”, finaliza.

Em 2020 o PPG-Geografia da Unicamp já havia recebido Menção Honrosa no Praªmio Capes de Tese de 2020, com o estudo “Espacialização e geocronologia das coberturas superficiais em terraa§os marinhos, fluvomarinhos e fluviais na foz das bacias dos rios Itapocu e Ararangua¡ (SC), decorrentes dos episãodios de transgressaµes e regressaµes marinhas associadas a s oscilações/pulsações climáticas”, de Felipe Gomes Rubira sob orientação do professor Archimedes Perez Filho.

 

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