Tecnologia Científica

Aplicativo para dalta´nicos: projeto busca parcerias para virar realidade
Iniciativa pretende personalizar experiência visual e facilitar dia a dia de pessoas com discromatopsia
Por Bruna Chagas e Daumildo Júnior, da Agência Facto - 26/06/2019

Thifany Batista, da Agência Facto
O aplicativo, além do uso potencial em a³culos inteligentes, também éadapta¡vel para tablets e smartphones

O daltonismo, também chamado de discromatopsia, éum um distaºrbio que influencia na percepção das cores. A doença éuma condição geneticamente heredita¡ria e recessiva, ligada ao cromossomo sexual X. A maioria dos casos incide sobre homens, mas mulheres também podem portar a deficiência e transmiti-la aos filhos. Normalmente, o diagnóstico ésimples e, muitas vezes, feito pela própria fama­lia, como foi o caso de Felipe Spa­nola, egresso do curso de Ciência da Computação da UnB e autor do Trabalho de Conclusão de Curso intitulado Desenvolvimento de aplicativo ma³vel para auxa­lio de indivíduos com discromatopsia utilizando visão computacional.
 
“Minha ma£e que descobriu que eu tinha daltonismo. Na anãpoca tinha seis anos, e meu irmão e eu esta¡vamos brincando de elefante colorido. A brincadeira ésimples. Basicamente, tem um comandante que fala o nome de uma cor e o restante dos participantes tem que correr e tocar em um objeto ou material que tenha essa cor. Foi então que a minha ma£e pediu para trazermos uma coisa verde, e esta¡vamos em um gramado. Comea§amos a cavar, procurando um objeto verde”, conta Spa­nola, cujo irmão também tem a doena§a.

Segundo o professor do Departamento de Ciência da Computação Fla¡vio Vidal, pesquisador em visão computacional osárea da ciência que abrange ma¡quinas com a capacidade de "enxergar" –, a comunidade dalta´nica ésignificativa, o que abre uma perspectiva de explorar melhorias para esse grupo da sociedade.

Segundo ele, cerca de 5% a 8% da população brasileira édalta´nica, mas muitos não sabem que tem a doena§a. Apesar de existirem recursos para essa parcela da sociedade, de forma geral, o docente afirma que são esta¡ticos e generalistas. “As soluções mais comuns para os dalta´nicos não permitem sua adequação a cada um dos possa­veis casos de daltonismos existentes e suas intensidades de manifestação,” pontua.

Durante o curso de graduação, então, Spa­nola teve a ideia de desenvolver um aplicativo para auxiliar pessoas com variações de daltonismo e minimizar os efeitos da doença na vida das pessoas. O mecanismo de funcionamento consiste em amparar a ação de recognição de cores.

Felipe Spa­nola (a  esquerda), autor do TCC, e Fla¡vio Vidal (a  direita), orientador do projeto.
Os tipos mais comuns de daltonismo são protanopia (não épossí­vel ver a cor vermelha), deuteranopia (não consegue ver o verde) e tritanopia (não vaª o azul e o amarelo, e éo mais raro). No entanto, as noções de cores também são diferentes em cada indiva­duo, ou seja, a percepção do vermelho, por exemplo, édiferente para cada pessoa com daltonismo.

PROJETO osO prota³tipo do aplicativo foi desenvolvido com base nas experiências do estudante. Além das partes técnicas de programação, a ferramenta também leva em conta o teste de Ishihara, utilizado para saber se a pessoa tem daltonismo e de que tipo. “Existem imagens que são uma pessoa ‘normal’ vaª e o dalta´nico não. Tem imagens que são o dalta´nico vaª e a pessoa ‘normal’ não enxerga. Tem imagens que são o dalta´nico com protanopia vaª e os outros não. Tem imagens que são o dalta´nico com deuteranopia vaª e os demais não”, explica Spa­nola.

O programa émobile, isto anã, voltado para dispositivo ma³vel, utilizado juntamente com a ca¢mera do aparelho. De acordo com o professor, que orientou o trabalho de Spa­nola, “pode ser facilmente migrado para a³culos inteligentes como o Google Glass”, ou seja, aquele equipamento que incorpora as funcionalidades de dispositivos de realidade aumentada em a³culos tradicional.

Outra das vantagens do aplicativo éa personalização, que éfeita na etapa inicial. Na primeira utilização, a pessoa realiza o teste de Ishihara, no qual sera£o mostradas simultaneamente 24 imagens cuja finalidade éreconhecer o tipo de daltonismo do usua¡rio. A partir disso, o programa éconfigurado e adaptado para identificar as cores que o indiva­duo não distingue, o que torna o aplicativo aºnico para cada indiva­duo.

Ponto alto da ferramenta também éa mudança na relação com o ambiente. “Ela permite a interação dina¢mica”, comenta Vidal. Feita a adaptação personalizada, o aplicativo marca no visor os objetos que tem a cor não distingua­vel pelo usua¡rio. Por exemplo: a pessoa não identifica a cor vermelha. Com auxa­lio do programa, ao filmar uma imagem que contenha objetos vermelhos, o programa delimita os objetos e informa a existaªncia da cor que não éidentifica¡vel ao indiva­duo e as suas varia¡veis.

BENEFaCIOS osOs dois condutores do projeto, professor e aluno, enfatizam o impacto social que o aplicativo pode oferecer. “Imagine que o dalta´nico não se engane com atividades do cotidiano, como pegar um tala£o de cheque. Pense no dia a dia, no supermercado. Um exemplo simples: o biscoito que ele gosta muda de embalagem. Como identificar esse biscoito?”, indaga o docente.

O professor volta os estudos para aplicações que envolvam rastreamento e análise de movimento em imagens, campo que, segundo ele, “éum dos mais conceituados por grandes empresas como Facebook e Microsoft, pois tem chamado muita atenção do mercado para o que pode ser feito em diversas áreas, tais como segurança, automação, análise de dados, entre outras”.

Hoje, a intenção do docente éampliar essa tecnologia de forma que atenda também a outros tipos de restrições visuais. E, para isso, ele busca mais estudantes que tenham interesse em participar da realização do projeto.

Mesmo com impacto positivo, avanços e diferenciais em relação a outras soluções, o prota³tipo ainda estãosem financiadores. “Estamos procurando parcerias para continuar com o projeto”, diz Vidal, que ressalta que esse éum mercado com ampla margem de crescimento.

Como érecorrente a alterna¢ncia de tonalidades, a alternativa encontrada foi adotar o padrãode cores da Comissão Internacional de Iluminação (CIE). Além disso, o software comunica as composições delas, informando a porcentagem presente em cada objeto sinalizado. De acordo com Vidal, as cores mudam conforme a iluminação do ambiente, e o aplicativo consegue perceber essas nuances e alertar a cor em cada local.

 

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